O documentário de três horas sobre o Príncipe André, transmitido pela rede de televisão A&E, foi para o ar na segunda-feira e, tal como o filme que a Netflix está a produzir, em “Os Segredos do Príncipe André” o tema principal é a controversa entrevista que o filho favorito da rainha Isabel II deu à BBC em 2019, provocando a sua própria queda.

Naquela falou pela primeira vez sobre a sua amizade com o milionário Jeffrey Epstein (condenado por tráfico sexual e que veio a morrer na prisão enquanto cumpria pena) e também sobre as alegações de que abusou sexualmente de Virginia Roberts — atualmente Virginia Giuffre — quando esta tinha 17 anos, negando todas as acusações.

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“Na verdade, o que estamos a explorar no documentário é a forma como a educação de André, os privilégios e a arrogância que daí advêm conduzem a este lugar onde ele decide dar esta entrevista desastrosa”, explica James Goldston, citado na Variety. O presidente da Candle Media produziu o documentário em conjunto com Sheldon Lazarus, produtor executivo da Bitachon365.

Na perspetiva de Lazarus, “Os Segredos do Príncipe André” funciona melhor sem o próprio. “O que é que ganharíamos em voltar a sentar André na cadeira para ele falar sobre a entrevista que deu?”, perguntou o produtor, acrescentando: “Porque não há nada melhor do que o que ele [já] fez, em termos do que disse, como respondeu às perguntas. Os bastidores da entrevista propriamente dita [é o que é fascinante].”

“Sempre que a BBC e a realeza se encontram, alguém é despedido”, diz Emily Maitlis, então apresentadora do Newsnight da BBC, a quem o príncipe André deu a entrevista, no teaser do documentário, acrescentando: “Não pensei que fosse ele.”

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Tanto Lazarus como Maitlis se mostram admirados pela forma como o príncipe e a sua equipa pareciam satisfeitos com o resultado da entrevista: “O facto de, no final da entrevista, a equipa de André estar a dar-lhe os parabéns pela sala…”, disse o produtor.

No entanto, a realidade foi muito diferente e depois, de ir para o ar, as respostas de André foram alvo de fortes críticas, levando o duque de York a abandonar as funções públicas. Num comunicado publicado na época, escreveu que “ficou claro” que a sua relação com Jeffrey Epstein se tornou “num grande transtorno” para a família real e para o trabalho que desempenha. “Por esse motivo, pedi à Sua Majestade para me afastar das funções públicas no futuro próximo e ela deu permissão”. Já em 2022, perdeu os títulos militares e o título honorário concedido, em 1987, pela cidade inglesa de York.

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O “Segredos do Príncipe André” inclui entrevistas com a equipa da BBC Newsnight juntamente com associados do Palácio de Buckingham e amigos do príncipe André, ex-políticos, os advogados de Virginia Giuffre, a vítima de Epstein e ex-modelo Lisa Phillips, entre outros. Apresenta assim novos testemunhos que ligam o duque de York ao tráfico de mulheres liderado por Epstein. Segundo conta o biógrafo Andrew Lownie, citado no jornal El País, o príncipe costumava convidar Epstein e a sua cúmplice, Ghislaine Maxwell (a socialite acusada de arranjar menores para a rede sexual do milionário) para eventos e aniversários nas residências reais de Sandringham, Balmoral e Windsor.

“André e Epstein tornaram-se muito próximos”, afirmou Lownie. “Verdadeiros melhores amigos. Havia sete números diferentes para André no pequeno livro preto de Epstein. Continha os pormenores mais íntimos da vida de André. Epstein disse: ‘Só há uma pessoa que gosta mais de sexo do que eu, e essa pessoa é o André'”, explica, afirmando não haver dúvidas de que, na altura, se encontravam todos os meses e que vários membros da família real britânica conheciam Epstein.

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Já a modelo Lisa Phillips, que afirma ter sido uma das vítimas de Epstein, conta a sua experiência com o milionário. Em 2000 conseguiu um trabalho como modelo na ilha de Tortola e acabou por visitar Little Saint James, a propriedade de Epstein apelidada de “Ilha dos Pedófilos”, onde conheceu o príncipe André. “Sinto que a minha história começou com o Príncipe André e acabou com ele”, explica no documentário.

“Penso que chegámos o mais próximo possível de uma resposta para explicar a colisão de todos os acontecimentos que levaram André a esta decisão desastrosa [de dar a entrevista]”, afirmou James Goldston.