O historiador de arte Vítor Serrão defendeu na quarta-feira à noite em Fátima, no distrito de Santarém, a candidatura do Santuário a Património da Humanidade da UNESCO, pela qualidade do conjunto monumental e artístico ali existente.

Na apresentação do livro “Fátima e a criação artística: o Santuário e a Iconografia”, da autoria de Marco Daniel Duarte, Vítor Serrão considerou o Santuário de Fátima “uma obra de arte digna de ganhar lugar de destaque no património da humanidade”, sugerindo a proposta à UNESCO.

É um conjunto que concorre, por todos os valores estéticos, espirituais, hierofânicos e artísticos, para uma candidatura a Património da Humanidade que o é, de direito pleno”, pelos “vários contributos da melhor mão-de-obra artística do país e também de alguns artistas estrangeiros”.

O professor catedrático emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa disse encontrar em Fátima “uma inesperada unidade“.

Para mim, foi uma completa novidade: descobri que aquilo que eu achava que era uma manta de retalhos, de objetos de maior ou menor qualidade, que me apaixonavam mais ou menos, ganham em conjunto uma unidade que é indesmentível”.

A revelação surgiu através da tese que deu origem à obra lançada na quarta-feira, na base do doutoramento de Marco Daniel Duarte, atual diretor do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima e responsável também pelo Museu do Santuário.

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Vítor Serrão, que integrou o júri da prova de doutoramento de Daniel Duarte, classificou a publicação agora lançada em Fátima “uma obra monumental”, que “conta, como nunca foi contado, a história artística de Fátima“.

O melhor da história da arte em Portugal, o melhor da mão-de-obra artística em Portugal, trabalhou para Fátima. Artistas crentes e não crentes”, sublinhou.

O historiador de arte considerou que “a qualidade da arquitetura, da pintura, da escultura, dos vitrais, do mobiliário litúrgico e da demais arte” torna Fátima “mais do que um mero lugar de culto e de hierofanias e de grandes movimentos peregrinatórios“.

Há um equipamento patrimonial e artístico que habitualmente é diminuído, ou pelo menos não é destacado pelo valor que realmente tem, e que importa ver de outra maneira”.

Nesse conjunto figuram nomes como António Teixeira Lopes, Irene Vilar, Lagoa Henriques, Zulmiro de Carvalho, Clara Menéres, José Aurélio, Marko Rupnik, Jorge Barradas, Eduardo Nery, Pedro Calapez, Catherine Greene, Robert Schad, Fernanda Fragateiro, entre outros, num “elenco de artistas do melhor escol”, destacou Vítor Serrão.

Em Fátima, encontra-se “um capítulo de grande destaque da arte em Portugal”. “E quando falo em Portugal, falo efetivamente numa escala mundial”. Por isso, a elevação a Património da Humanidade “tem pés para andar”.

O Santuário acompanhou “as curvas de vanguarda artística do mundo”, tendo “escolhido a melhor mão de obra, os melhores artistas em cada género, ativos em cada momento”.

“Este livro é como um guião de uma campanha [de candidatura] que pode nascer aqui”, afirmou o historiador de arte à agência Lusa, porque “há elementos suficientes para reabrir a leitura de Fátima como monumento patrimonial único e unívoco” e, “perante a realidade palpável, imaginar que há uma candidatura ganhadora”.

Vítor Serrão considera ainda que “a arte fatimista, a arte gerada em Fátima, é uma arte para crentes e não crentes“.

Tem uma perspetiva global do entendimento estético e que continua a evoluir, continua a acompanhar as curvas de modernidade do mundo artístico, o que é muito importante”, concluiu.