Quando ficou confirmado que Neemias Queta iria deixar os Sacramento Kings, na noite da passada terça-feira, depressa se abriram dois caminhos para o futuro do jogador português: ou a permanência na NBA, já que iam surgindo rumores de associações a várias equipas, ou o regresso à Europa, para representar um dos clubes que lutam pela conquista da Euroliga.

Do lado da primeira opção, a manutenção na Conferência Oeste parecia o mais natural. Os Portland Trail Blazers eram a equipa mais associada à contratação de Neemias Queta e até a outra solução mais comentada ficava do lado do Pacífico, com os Phoenix Suns. Na segunda opção, o Partizan de Belgrado e o Panathinaikos da Grécia alinharam-se como os destinos mais prováveis do poste português, numa mudança que podia fazer dele um dos jogadores mais badalados da Euroliga e ajudá-lo a relançar uma carreira que poderia regressar à NBA. A preferência de Neemias, porém, era clara: ficar nos Estados Unidos.

Até que, sem que ninguém estivesse à espera, apareceu uma alternativa improvável. De acordo com Shams Charania, jornalista do The Athletic e um dos principais insiders da NBA, Neemias Queta assinou com os Boston Celtics — ou seja, vai mudar-se para a Conferência Este e representar a equipa mais antiga do basquetebol norte-americano, assim como a mais bem sucedida, com 17 títulos conquistados. O contrato do jogador de 24 anos volta a ser num formato two-way, ou seja, Neemias tanto pode ser chamado à NBA para representar os Celtics como pode atuar na G-League pelos Maine Celtics.

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O interesse dos Boston Celtics no português natural do Vale da Amoreira é surpreendente, mas acaba por ter uma explicação lógica. Logo à partida, e apesar de só ter cumprido 20 jogos na NBA ao longo de dois anos nos Sacramento Kings, o rendimento de Neemias Queta na G-League: o poste foi um dos melhores elementos dos Stockton Kings nas duas últimas temporadas e em 2022/23 foi o segundo mais votado na eleição para MVP, terminando com médias de 16.8 pontos, 8.8 ressaltos e 1.9 bloqueios por jogo.

Uma janela de oportunidade para “outra” NBA ou a porta do regresso à Europa? Sacramento Kings dispensam Neemias Queta

Depois, a própria situação do plantel dos Celtics. A equipa orientada por Joe Mazzulla vai começar a temporada com quatro outros jogadores para a posição do português: Robert Williams III, que tem um enorme historial de lesões; Kristaps Porzingis, acabado de sair dos Washington Wizards e também com propensão para lesões; Al Horford, que tem 37 anos; e ainda Luke Kornet, que teve na época passada o seu verdadeiro ano de afirmação. Em Neemias, os Celtics encontraram um jogador que pode acrescentar profundidade a uma posição que deve ficar algo fragilizada ao longo da temporada, entre lesões e fadiga, e que não ocupa uma vaga no plantel oficial de 15 elementos por ter o tal contrato two-way que lhe permite atuar na G-League.

Em resumo, de forma natural, Neemias Queta não chega aos Boston Celtics para ser desde já uma opção prioritária para ter minutos na NBA — não só pelos parcos 20 jogos pelos Kings como pelo overbooking de jogadores para a mesma posição. Ainda assim, entre as lesões de Williams III e Porzingis e a idade de Horford, é muito provável que o português tenha espaço para se mostrar nos treinos e deixar claro que é uma alternativa viável à titularidade de Kornet. Pelo meio, tal como aconteceu em Sacramento, tem o contexto mais favorável da G-League para ilustrar tudo o que pode e sabe fazer junto do cesto.

Os Boston Celtics falharam as Finals da época passada ao perderem na final da Conferência Este com os Miami Heat, sendo que em 2022 perderam o título em seis jogos para os Golden State Warriors. A mítica equipa da NBA não é campeã desde 2008, ano em que derrotou os Lakers com um conjunto orientado por Doc Rivers e liderado pelos Big Three, Kevin Garnett, Ray Allen e Paul Pierce.