O Governo voltou a reunir com os representantes dos trabalhadores do parque industrial da Autoeuropa para fazer um ponto de situação sobre os temporários dispensados devido à suspensão da produção. No terreno, estão já “algumas soluções”, que incluem a formação através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) ou a agilização do acesso a um apoio no desemprego, já previsto na lei, aos trabalhadores que não tenham o período de descontos necessários para aceder ao subsídio de desemprego.

É isso que diz Daniel Bernardino, coordenador das comissões de trabalhadores do Parque Industrial da Autoeuropa, ao Observador, após o encontro em que, da parte do Executivo, estiveram os secretários de Estado do Trabalho, da Segurança Social e da Economia. “Foram encontradas algumas soluções, mas não tantas quanto esperaríamos“, lamenta Daniel Bernardino.

Segundo o representante dos trabalhadores do parque industrial (ou seja, dos fornecedores da Autoeuropa, muitos dos quais também estão a ser afetados pela suspensão de produção), dos 425 temporários dispensados, 276 “foram identificados como tendo sido inscritos [no IEFP] para se tentar encontrar uma solução, seja através de formação, seja para receberem mais rapidamente um subsídio de desemprego, no caso daqueles que não tinham direito”.

É que há 34 trabalhadores que não tinham o período de descontos necessário para aceder ao subsídio de desemprego, logo, foi-lhes atribuído o chamado subsídio social de desemprego ou tiveram ajuda para “encontrar emprego rapidamente, de forma a não ficarem desamparados”. No parque industrial, foi criado um gabinete do ministério do Trabalho para ajudar estes trabalhadores.

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Os restantes não se inscreveram “porque, de alguma forma, a notícia de antecipação da produção [para o início de outubro, em vez de 12 de novembro] pode tê-las levado a pensar que não valeria a pena e que seriam rapidamente chamados”. “Ficaram com essa esperança e nós acreditamos que isso vai acontecer”, afirma Daniel Bernardino.

Dos 425 dispensados, 100 pertencem à Autoeuropa. Quando firmou um acordo com os trabalhadores para os termos da suspensão da produção, a empresa garantiu que iria reintegrar todos esses trabalhadores quando a produção retomasse. As empresas do parque industrial também dispensaram precários, mas nem todas prometeram reintegrá-los.

Segundo Daniel Bernardino, há, porém, algumas que já disseram que vão fazê-lo, embora de forma gradual, à medida que a produção for retomada. A Autoeropa anunciou, na sexta-feira passada, que iria antecipar a retoma da produção depois de ter encontrado uma solução para a peça em falta em Espanha e na China. Mas ainda não é conhecido o dia exato em que essa retoma vai acontecer.

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Daniel Bernardino diz que há, também, um “contacto direto do Governo com as empresas para tentar reverter alguns despedimentos”. O coordenador refere que as empresas que reintegrem temporários despedidos poderão vir a ter acesso agilizado a um apoio à tesouraria das empresas, que já existe, mas o Ministério da Economia não confirma. O Observador também pediu mais detalhes ao Ministério do Trabalho sobre esta e as outras medidas, mas aguarda resposta.

Porém, “as empresas não demonstraram muito interesse” quanto a esse mecanismo. “Preferiram manter os trabalhadores despedidos, talvez porque agora, com esta antecipação de produção, venham a chamar alguns dos trabalhadores, embora gradualmente”, admite. A coordenação da comissão de trabalhadores tem um “canal aberto” para “verificar como é que os trabalhadores vão voltar, e se identificarmos algumas situações, poderemos transmitir ao Governo as nossas preocupações”.

A Autoeuropa suspendeu a produção este mês devido às cheias que afetaram um fornecedor de roda dentada da Eslovénia. A suspensão programada seria até 12 de novembro, período até ao qual muitos trabalhadores ficariam em layoff, com corte salarial entre os 5% e os 33% (muitos temporários foram despedidos). Entretanto, na sexta-feira passada, a Autoeuropa anunciou que vai retomar a produção no início de outubro depois de ter garantido o fornecimento de uma peça fundamental para o T-Roc junto de uma empresa espanhola e outra chinesa.

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