A presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) assume que no atual mandato autárquico, até 2025, não existem condições políticas para avançar com a regionalização.

“Nós somos pragmáticos e percebemos que neste mandato autárquico não vai haver condições para avançar com a regionalização“, disse Luísa Salgueiro em entrevista à Lusa, em vésperas do XXVI Congresso da ANMP, que se realiza no dia 30, no Seixal (distrito de Setúbal).

Em dezembro de 2021, quando Luísa Salgueiro foi eleita para liderar a ANMP, a defesa da regionalização marcou todo o congresso pós-eleições autárquicas, inclusive as intervenções do primeiro-ministro, António Costa, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. “Quando fui eleita há dois anos no congresso foi apontado pelo senhor primeiro-ministro, pelo Presidente da República e pelo plenário da associação que 2024 seria o ano certo para avançar com o processo da legislação da regionalização. Estamos a terminar 2023 e ninguém pensa que isso possa acontecer“, reconheceu.

A também presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, no distrito do Porto, afirmou que o que foi decisivo para esta alteração foi o facto de o líder do PSD, Luís Montenegro, ter dito para não contarem com os sociais-democratas para fazer a regionalização no atual mandato parlamentar, que termina em 2026.

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Na opinião da representante, esta reforma não deve ser imposta por maiorias, mas antes ser um processo assumido pela generalidade das pessoas e pelo espetro político. A regionalização, sublinhou, tem de ser sujeita a referendo, pelo que não vale a pena avançar à força. “Portanto, estamos todos conscientes que ele [processo de regionalização] não vai avançar, apesar de a associação e de eu defendermos essa reforma”, concluiu a socialista.

A exigência da criação de regiões administrativas — debatida há décadas no país — tem sido um tema comum aos mais recentes congressos da ANMP e há dois anos fez parte da passagem de testemunho do presidente cessante, Manuel Machado, que indicou ser este o caminho a seguir. Nesse congresso, os autarcas tiveram um prazo para as regiões no horizonte: António Costa apontou para 2024 a altura em que poderia ser dada “voz ao povo”, depois de, no final de 2023, se avaliar o caminho feito em matéria de descentralização. “E teremos, então, condições de, em função da avaliação, decidir se chegou ou não o momento de devolver a palavra aos portugueses sobre se devemos ou não devemos avançar para a regionalização”, frisou.

Também na reunião dos municípios, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se favorável à realização do referendo em 2024, exortando os partidos políticos a apresentarem as suas ideias. Luísa Salgueiro assumiu na altura que iria fazer tudo para avançar com o processo. Entretanto, o presidente do PSD manifestou-se contra a realização de um referendo no próximo ano devido à situação internacional e nacional. “Sou absolutamente contra a realização de um referendo em 2024, para que não haja equívocos. E naturalmente que, não havendo um referendo em 2024 — que já teria de se conciliar com eleições europeias e regionais nos Açores —, não é em 2025 com eleições autárquicas ou em 2026 com presidenciais e legislativas que a oportunidade se vai abrir“, defendeu Montenegro, em julho do ano passado.