Porque há sons que podem ser impossíveis de ouvir, o FC Porto ofereceu uma emoção à qual é difícil passar ao lado. Nas camisolas dos jogadores portistas, o nome do habitual patrocinador encontrava-se escrito em linguagem gestual. Foi esta a forma que o clube encontrou para assinalar o Dia Internacional das Línguas Gestuais, sendo que o valor correspondente às camisolas vendidas reverte para a Associação de Surdos do Porto. O barulho ouvido na comemoração do golo que Eustáquio marcou para lá da hora, que foi um grito de um FC Porto que ainda tem momentos em que fica mudo, pode não ter sido escutado por toda a gente, mas a verdade é que aquele cabeceamento deixou qualquer um sem palavras na ponta final de jogo em que parecia faltar aos dragões um sexto sentido. 

Nada o fazia prever, pois o FC Porto vestiu o fato de gala para derrotar de forma categórica o Shakhtar Donetsk na Liga dos Campeões a meio da semana. Acontece que, a nível interno, os dragões ainda não convenceram totalmente. A visita ao Estrela da Amadora na jornada anterior não surpreendeu os azuis e brancos por pouco. De qualquer forma, os pontos conseguidos até à sexta jornada eram suficientes para a equipa de Sérgio Conceição fazer parte do grupo de líderes onde também se incluíam o Boavista e o Sporting.

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“Este é o segundo melhor arranque do FC Porto em sete anos. Queremos fazer exibições perfeitas, mas isso não é possível”, comentou Sérgio Conceição antes de receber o Gil Vicente. “Os resultados têm sido positivos, têm sido melhor os resultados do que as próprias exibições. Em termos excecionais, fazer pior do que fizemos acho difícil. A expectativa é fazer resultados positivos e isso passa por é ganhar. O nosso objetivo é reconquistar o campeonato”, antevia numa espécie de premunição.

Ficha de Jogo

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FC Porto-Gil Vicente, 2-1

6.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: António Nobre (AF Leiria)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Pepê, 71′), Fábio Cardoso, David Carmo, Wendell, Alan Varela (Fran Navarro, 57′), Eustáquio, André Franco (Gonçalo Borges, 71′), Galeno (Francisco Conceição, 71′), Iván Jaime e Taremi

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Jorge Sánchez, Nico González, Romário Baró, Toni Martinez

Treinador: Sérgio Conceição

Gil Vicente: Andrew, Zé Carlos, Gabriel Pereira, Rúben Fernandes, Buta, Tiba (Roan Wilson, 81′), Maxime Dominguez, Murilo (Marlon Douglas, 62′), Martim Neto (Mory Gbane, 62′), Félix Correia (Baturina, 89′) e Depú (Fujimoto, 89′)

Suplentes não utilizados: Vinicius, Kiko, Tidjany Toure e Thomas Lopes

Treinador: Vítor Campelos

Golos: Iván Jaime (8′), Depú (37′) e Eustáquio (90+1′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Martim Neto (14′), Gbane (69′), Félix Correia (77′) e Wendell (89′)

Vencer o Gil Vicente era uma boa forma de dar início a uma sequência positiva que vinha mesmo em boa altura uma vez que, se segue o clássico com o Benfica, na Luz, e, depois, receção ao Barcelona. Para isso, era necessário fugir à ressaca europeia de modo a evitar sobressaltos pós-Liga dos Campeões, logo muitas mexidas podiam ser um risco até por existirem jogadores a cimentarem ideias. Assim, Sérgio Conceição alterou apenas o necessário em relação do jogo com o Shakhtar Donetsk, retirando o lesionado Zaidu e dando a titularidade a Wendell. Os centrais têm dado dores de cabeça aos azuis e brancos. Marcano, já se sabia, não entrava nas contas, mas a ausência de Pepe dos convocados causou estranheza. O treinador do FC Porto optou então pela dupla Fábio Cardoso/David Carmo, proporcionando a terceira titularidade consecutiva ao antigo jogador do central do Sp. Braga.

A abrir o encontro com o Gil Vicente, Jaime estreou-se a marcar ao quarto jogo com a camisola do FC Porto. Galeno, num rendimento condizente com o facto de ter sido eleito Jogador da Semana da Liga dos Campeões, foi à linha de fundo cruzar. Parecia que o extremo brasileiro tinha entregado uma batata quente a Taremi que não conseguiu espaço para finalizar e soltou de imediato a bola. O iraniano encontrou o ex-Famalicão e este adiantou os dragões (8′) num ato de eficácia máxima, visto que, até então ainda não existiam oportunidades de golo.

O FC Porto concedia terreno, aparentemente de forma estratégica, ao Gil Vicente. Só que, se tal posicionamento tinha um objetivo, o mesmo não estava a ser conseguido. A equipa de Barcelos cresceu no encontro e, mesmo não conseguindo criar mais situações de finalização do que um remate de fora de área de Depú, manteve-se subida no campo. O Gil Vicente, ao conter também de forma adequada as situações de bola parada, encontrava-se numa situação de controlo e a poder ambicionar o empate. O trio de médios gilistas estava disposto no terreno de maneira a que Pedro Tiba sustentasse dois médios interiores mais adiantados. Um deles foi Martim Neto que colocou um passe nas costas da defesa do FC Porto que Depú, mais rápido que David Carmo, viu como um caminho aberto para o empate (37′).

O Gil Vicente desconstruiu a ideia de que para se defender bem é preciso ter os setores muito juntos. A equipa de Vítor Campelos não teve problemas de estar estendida no campo, com a linha de quatro elementos em posição recuada e os avançados a manterem-se adiantados. Desta forma, o Gil Vicente controlava a profundidade e, ao mesmo tempo, devido ao trabalho de condicionamento ao portador dos médios e avançados (que se falhasse podia ser fatal), impedia situações de jogo apoiado por parte do FC Porto. À partida, se Taremi estivesse a receber a bola junto à linha, como chegou a acontecer, a defesa tinha o dia ganho.

O cenário inverteu-se na segunda parte. Um série de passes que entraram no bloco do Gil Vicente fizeram a equipa recuar para que tal não voltasse a acontecer. A partir daí, a equipa baixou as linhas e juntou os setores. Vítor Campelos reforçou o meio-campo com a entrada de Gbane e os minhotos contiveram uma entrada forte do FC Porto, que assustou através de Eustáquio e Taremi, logo a abrir os 45 minutos finais.

Apesar de tudo, os azuis e brancos não conseguiam desfazer o empate. Sérgio Conceição, em desespero, recorreu a uma solução antiga, colocando Pepê a lateral e projetando a equipa para a frente. Mal procedeu a esta alteração, o FC Porto ia voltando a sofrer. Félix Correia esgueirou-se pelo lado direito e rematou à entrada da área. Diogo Costa salvou os dragões de sofrerem numa altura em que davam tudo para marcarem. Pepê ainda causou algum perigo, mas não menos do que Maxime Dominguez.

O jogo estava em aberto nos minutos finais. O mérito do Gil Vicente foi não só conseguir entrar nos últimos dez minutos com o empate no marcador, como também chegar à frente e garantir oportunidades para levar os três pontos. Acontece que, a determinado momento, Vítor Campelos tomou a decisão de, com a entrada de mais um central, no caso, Roan Wilson, tentar trancar todas as possibilidades para os dragões chegarem à vitória. No estádio pairava o cenário do FC Porto voltar a perder pontos em casa, algo que já tinha acontecido frente ao Arouca. Nessa altura, apareceu Eustáquio (90+1′) que fez o 2-1 já na compensação, evitando que os azuis e brancos cedessem de novo.