Talvez só em 64 d.C., ano do grande incêndio de Roma, a capital italiana tenha estado sob brasas desta forma. José Mourinho tem sido altamente contestado pelo mau arranque de campeonato do clube giallorossi. Após a derrota contra o Génova (4-1), a equipa liderada pelo português encontrava-se no 16.º lugar com cinco pontos, apenas dois acima da zona de despromoção da Serie A e até as lendas do clube começam a virar costas aos romanistas. Francesco Totti, antigo capitão, abandonou o estádio antes do jogo terminar e de saber o resultado final.

Uma vitória em seis jogos, 11 golos sofridos e a falência de uma ideia: Mourinho é goleado em Génova e Roma desce ao 16.º lugar

Durante a preparação para o jogo contra o Frosinone, equipa que até à visita ao Estádio Olímpico tinha perdido apenas uma vez em sete jogos realizados esta temporada, contava-se em Itália que a relação entre José Mourinho e os jogadores está cada vez mais degradada. “Quando se perde, o treinador é o ser humano mais solitário. Faço isso por opção. Quero ficar sozinho nestas situações. Nos últimos dois dias fui dormir às 6 da manhã”, revelou o treinador português na antevisão à partida da sétima jornada a Serie A. “Tive uma reunião com os jogadores e disse que faria perguntas e responderia a cada pergunta na perspetiva deles. De certa forma, disfarcei-me de um deles e respondi como um deles. Disse aos jogadores que se eu cometesse um erro nas minhas respostas teriam que me interromper. Fiz dez perguntas, dei dez respostas e ninguém nunca me disse que estava errado, respondi como eles queriam. Conheço-os muito bem”.

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Apesar da contestação, Mourinho avisou que não tem planos para deixar a Roma tão cedo. “Há três meses, perto da final em Budapeste, foi quase dramático pensar que poderia sair. Em Budapeste, em campo, disse aos jogadores e à equipa técnica que ficaria. Três dias depois jogámos contra o Spezia, voltei ao campo depois da partida e disse aos adeptos que ficaria. Dois ou três dias depois encontrei Dan Friedkin [dono da Roma] e dei-lhe a minha palavra de que ficaria. Durante o período de férias recebi a maior e mais louca oferta de emprego que um treinador já recebeu na história do futebol. Recusei para manter minha palavra perante os meus jogadores, adeptos e dono”. Mais tarde, o jornalista italiano Fabrizio Romano disse que a proposta que o treinador referiu chegou do Al Hilal, atualmente treinado por Jorge Jesus, e oferecia 30 milhões de euros de salário anual ao Special One.

Para defrontar o Frosinone, Mourinho convocou o jovem atacante luso-brasileiro de 18 anos João Costa. Não contando que fosse um jogador da equipa Primavera a resolver a montanha de problemas em que a Roma está envolvida, o técnico deixou a representação portuguesa no encontro a cargo do guarda-redes Rui Patrício que leva já 11 golos sofridos na Serie A e esteve longe de ter uma noite tranquila no Olímpico. Marvin Cuni, usando o espaço centro/direita do ataque assustou em duas ocasiões a baliza romanistas, tentativas essas que saíram transviadas. O que faz a diferença entre os grandes avançados e os outros é o rácio positivo entre oportunidades e golos marcados. Por isso é que há poucos como Romelu Lukaku. Com a defesa do Frosinone já fragilizada devido à saída de Simone Romagnoli, o avançado belga (31′) recebeu um passe açucarado de Dybala e, em espaço reduzido, abriu espaço para adiantar a Roma.

Num dia em que estreava um novo equipamento, os giallorossi precisavam de renovar a pele face aos resultados recentes e conseguir a segunda vitória na Serie A. A querer pontos como ar para respirar, a Roma estava em situação vantajosa para garantir o triunfo. Mourinho mandou cerrar fileiras no meio-campo defensivo, explorando transições que Paulo Dybala definia com excelência. Pouco acompanhado na intenção de atacar a baliza contrária, La Joya, pareceu um peixe fora de água numa equipa que se contentou com pouco a nível de espetacularidade.

Numa situação de livre, a Roma foi quase obrigada a subir no campo. Dybala cobrou a bola parada e encontrou Lorenzo Pellegrini (83′) ao segundo poste para dar um maior conforto no resultado. O 2-0 ainda não permite ao emblema da capital italiana entrar na primeira metade da tabela, mas serve como primeiro degrau na escalada até ao topo, percurso para o qual os romanistas não têm uma escada que permita lá chegar com facilidade.