Há dias, no Porto, um grupo de imigrantes foi agredido por um grupo de locais. Políticos e jornalistas culparam o “racismo”. Talvez devessem ter também atribuído algumas culpas ao caos migratório consentido pelo Estado em Portugal. Sim, admitamos que quase todos os migrantes são gente que procura uma vida melhor e até segurança. Mas quando a migração está descontrolada, não chegam só esses. Chegam também os que, no país de origem, eram delinquentes. Chegam ainda os que, sem encontrarem trabalho ou residência, se tornam delinquentes no país de acolhimento. Por isso, não abusemos do “racismo” para explicar todos os incidentes. Também a maioria dos locais aceita a migração, sem o que já estaríamos em guerra civil. Mas nem todos vivem nos bairros da classe média, onde os migrantes só acedem como estafetas ou empregados domésticos, e infelizmente nem todos, quando em conflito, vão esperar por autoridades que dão provas de terem perdido o controle da situação.

Não deveríamos precisar de casos como o do Porto para perceber esta coisa elementar: a imigração descontrolada é o maior de todos os obstáculos à integração dos imigrantes. Associa a migração à ilegalidade e às redes criminosas de tráfico e exploração de seres humanos. Condena muitos dos que chegam a sofrer da pior maneira a limitação de recursos económicos e institucionais do país de acolhimento. Conduz, em casos extremos, à formação de guetos que replicam, na Europa, o que há de pior nos países donde os migrantes fogem. É o caso dos gangs armados da Somália que agora combatem entre si, a tiro, nos subúrbios de Estocolmo. É o caso dos fundamentalistas islâmicos que recriaram em França um ambiente de violência anti-semita à anos 30.

Para a maior parte dos que se manifestam na universidade e na imprensa, nada disto é problema. O único problema é o “racismo” da população europeia. Falar de caos migratório seria, só por si, caucionar o “racismo”. Que dizer a isto? Não basta chamarmos tontos a estes pretensos “anti-racistas”. Precisamos de perceber o que pretendem. O caos migratório não deriva simplesmente de uma espécie de sistema demográfico de vasos comunicantes entre uma Europa envelhecida e outras regiões sobrepovoadas. Também não tem a sua causa maior na imprudência dos que, como a Sra. Merkel, viram aí uma solução. Decorre sobretudo da luta política no Ocidente, onde uma esquerda radicalizada, hegemónica na universidade e na imprensa, encara a importação de “minorias” como um meio de substituir a “classe operária” na luta contra o “capitalismo”. Jean-Luc Mélenchon, em França, pode servir de exemplo, com o seu esquerdismo montado no fundamentalismo islâmico. Foi essa esquerda, principal agente do “wokismo”, que criminalizou os controles fronteiriços e cancelou a afirmação dos valores das sociedades ocidentais que deviam servir de referência aos recém-chegados. A incapacidade dos Estados de enfrentar o caos vem fundamentalmente desta captura ideológica.

O caos migratório não é por isso apenas uma questão de “bom senso”. É uma questão política. Não divide apenas os lúcidos e os inconscientes. Divide aqueles que querem uma sociedade liberal, e aqueles que, conscientemente, anseiam por conflitos sociais que lhes permitam fazer novas experiências totalitárias. Deixemo-nos, por isso, do ridículo de invocar a “extrema-direita” para não debater as migrações. Preocupemo-nos antes com os riscos do descontrole migratório para a ordem e a coesão de sociedades que são as mais prósperas e livres da história. Os imigrantes que procuram prosperidade e liberdade estarão certamente entre os principais interessados em preservar estas sociedades.

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