Os últimos quatro anos da vida de Oleg Verniaiev foram uma montanha-russa. Primeiro, e com o consequente adiamento dos Europeus e dos Jogos Olímpicos, apareceu a pandemia. Depois, e quando já se preparava para regressar à competição no final de 2020, testou positivo a uma substância proibida e foi suspenso. Por fim, após um longo período de recurso que encurtou a suspensão e quando já podia voltar, começou a guerra na Ucrânia.
Nascido em Donetsk, no início da década de 90, o ginasta Oleg Verniaiev conquistou a medalha de ouro nas barras paralelas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, acrescentando a prata no all around, e tem cinco medalhas em Mundiais e outras 12 em Europeus. Depois da paragem forçada e motivada pela pandemia, quando se preparava para participar no Campeonato da Europa que tinha ficado adiado, testou positivo para meldonium, um estimulador de metabolismo que é proibido pela World Anti-Doping Agency.
O atleta ucraniano começou por ser suspenso por quatro anos, em novembro de 2020, mas no início deste ano e na sequência de um longo período de recurso no Tribunal Arbitral do Desporto conseguiu reduzir a pena para dois anos — que entretanto já tinha cumprido. Ou seja, em termos legais, Oleg Verniaiev já podia ter participado nos últimos Europeus, que decorreram em abril. A invasão russa que entretanto assolou a Ucrânia, porém, impediu-o de trabalhar, de treinar e de se preparar de forma regular e constante.
A viver em Kiev, o ginasta viu os ginásios que utilizava serem destruídos por ataques aéreos, assistiu à precariedade em termos de meios materiais, interrompeu treinos para correr para bunkers devido às sirenes e teve treinadores e colegas exilados, quando não mobilizados para as forças armadas ucranianas. A dada altura, o próprio Oleg decidiu juntar-se ao exército e ajudar com a recolha e entrega de comida, roupa e equipamentos aos soldados na linha da frente e aos civis afetados pela guerra.
Só voltou à competição em setembro, na Mersin Challenge Cup e na Szombathely Challenge Cup, conquistando o ouro nas barras paralelas e a prata no cavalo em ambas as competições. “Duas competições já estão cumpridas e correram bem, apesar de todas as conversas sobre já ser velho e não ser capaz de voltar às principais competições internacionais. Quatro medalhas, é o resultado. Ainda há muito trabalho pela frente, mas estas competições tinham a maior importância para mim, tanto fisicamente como mentalmente”, escreveu o ginasta ucraniano de 30 anos nas redes sociais.
O “trabalho pela frente” tinha um nome: Mundiais de Antuérpia. Na Bélgica, nos Campeonatos do Mundo que começaram há poucos dias, Oleg Verniaiev integrou a equipa da Ucrânia pela primeira vez em quatro anos e fez parte do grupo que alcançou a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris. Os ucranianos ficaram à frente a países como a Coreia do Sul, França, Hungria, Roménia ou Brasil e carimbaram o 12.º lugar da qualificação — o último que dava acesso aos Jogos Olímpicos.
De forma irónica e muito direta, a verdade é que a Ucrânia ficou com um lugar que acabou por surgir devido ao afastamento da Rússia dos Jogos Olímpicos. Apesar de os ginastas russos e bielorrussos estarem autorizados a participar em Paris de forma individual e neutra, sem as bandeiras e os hinos nacionais dos dois países, a Rússia e a Bielorrússia não podem marcar presença enquanto equipa. Enquanto potência absoluta na ginástica, tanto masculina como feminina, a equipa russa iria naturalmente qualificar-se para os Jogos. Sem Rússia, há Ucrânia.