Era um encontro que prometia fazer mexer o mundo, foi um encontro que teve antes um capítulo que mexeu com o mundo. Na antecâmara do duelo entre Nápoles e Real Madrid, equipas do grupo do Sp. Braga na Liga dos Campeões que iniciaram a fase de grupos com vitórias, a comitiva espanhola apanhou um susto ao sentir um terramoto que afetou a zona dos Campos Flégreos a 10/20 quilómetros da cidade – e que fez com que alguns habitantes saíssem mesmo das suas casas perante o impacto da atividade sísmica. De acordo com o Observatório do Vesúvio, foram sentidas mais oito réplicas menores quase em danos a não ser a queda de escombros na zona de Agnano mas menores do que o abalo inicial de 4.0 na escala de Richter, o que fez com que o jogo nunca estivesse em risco e o Diego Armando Maradona voltasse às grandes noites europeias.

Do lado dos italianos, e depois de um triunfo na Pedreira que esteve seriamente ameaçado nos 20 minutos finais, a receção ao clube com mais títulos europeus surgia como a oportunidade para encerrar de vez (pelo menos nos aspetos que mais interessam) a polémica criada em torno de Osimhen, que não gostou de ver uma grande penalidade falhada “gozada” no Tik Tok do clube, ameaçou mesmo avançar com uma ação contra o Nápoles e apagou mesmo todas as alusões aos napolitanos nas redes sociais, sendo que o embaixador da Nigéria levantou a possibilidade de haver racismo contra o jogador. “Vir para a cidade de Nápoles em 2020 foi uma decisão maravilhosa que tomei. As pessoas de Nápoles deram-me tanto amor e carinho e não vou permitir que quem quer que seja se meta entre nós. A paixão das pessoas de Nápoles potencia a minha chama para jogar sempre com o coração e a alma e o amor por este emblema é inabalável. Estou grato para sempre. Vamos continuar a espalhar união, respeito e compreensão. Força Nápoles, sempre”, disse.

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De herói a caso: Osimhen ameaça processar o Nápoles depois de vídeo publicado no TikTok do clube italiano

O ambiente pesado era algo que ninguém conseguia disfarçar, as “pazes” promovidas pelo internacional com uma mensagem nas redes sociais promoveu um regresso à normalidade possível e os próprios resultados que a equipa alcançou nos dois últimos encontros, com goleadas diante de Udinese e Lecce, fizeram com que subisse à terceira posição a quatro pontos de Inter e AC Milan. Agora, seguia-se a Champions e o regresso de alguém que fez o Nápoles subir mais uns degraus no sonho do título que foi conseguido na última época.

Depois de ter sido campeão em Itália (AC Milan), em Inglaterra (Chelsea), em França (PSG) e na Alemanha (Bayern), Carlo Ancelotti chegou ao conjunto do sul de Itália em 2018, tendo conseguido deixar a equipa no segundo lugar da Serie A e chegando aos quartos da Liga Europa após passar pelos grupos da Champions. Na temporada seguinte, tudo ruiu entre o motim dos jogadores contra as imposições do presidente Aurelio De Laurentiis, o despedimento no mesmo Grand Hotel Vesuvio onde ficou agora hospedado pelo Real (clube onde também já foi campeão espanhol e europeu) e aquilo que muitos consideraram como uma “traição” de Gennaro Gattuso, ex-jogador e atual treinador com quem tinha uma relação muito próxima e que já teria chegado a acordo com o líder napolitano para ocupar o vaga do seu “mestre” entre a turbulência.

Agora, com uma campanha praticamente “limpa” em que teve apenas uma derrota no dérbi com o Atlético na Liga, o treinador transalpino procurava uma espécie de “vingança” tendo também um problema interno para resolver e que tem dado muito que falar: Modric. “Não tenho nenhum problema com ele. Respeito-o como jogador e como pessoa mas às vezes tenho de tomar decisões que custam muito. A concorrência no meio-campo é muito forte, qualquer um pode ficar no banco. Não há aqui nada, foi uma decisão técnica para esses jogos e que a qualquer momento pode mudar. São sete médios e só jogam quatro. Quando meto cinco vocês batem-me logo…”, referiu sobre a condição de suplente do croata, que saiu ao intervalo com os colchoneros e não mais voltou a jogar. “Se não sofrermos golos, estamos sempre mais próximos de ganhar. O Nápoles tem grandes jogadores, sobretudo no ataque, e temos de estar concentrados”, acrescentara.

A questão dos médios voltou a ser importante em mais uma vitória tipo do Real Madrid em contexto de Liga dos Campeões. Foi de Fede Valverde que nasceu o golo que fez a diferença no final. Foi com Modric que a equipa voltou a agarrar nos comandos do jogo após uma fase em que o Nápoles esteve melhor. Foi graças a Jude Bellingham que mais uma vez a falta de um Karim Benzema nos merengues conseguiu ser colmatada, com mais um golo e uma assistência do inglês de 20 anos que está a ter um arranque de aventura na capital espanhola fabuloso que supera as melhores expetativas até daqueles que poderiam ser mais otimistas.

Apesar de ter começado melhor, o Nápoles quase caiu na ratoeira muito habitual do Real na versão predador a jogar fora de casa, dando aquela sensação de que parece estar “morto” para depois acelerar e causar dano na baliza contrária. Foi assim que, logo no sexto minuto, Rodrygo apareceu sozinho na área mas Alex Meret negou o golo inaugural. Foi assim que, de bola parada, Rüdiger também deixou a sua ameaça. Os espanhóis andavam a cheirar o golo retraindo as ações ofensivas em transição dos italianos mas acabaram de novo por sofrer primeiro no jogo como tem acontecido várias vezes na Liga (o jogo em Girona foi exceção), com Kepa, em dia de aniversário, a oferecer uma prenda aos napolitanos com Natan a desviar para a trave após uma má saída do guarda-redes espanhol e Östigärd a aproveitar a recarga para inaugurar o marcador (19′).

Contra aquilo que se tinha visto, o Nápoles passava para a frente numa fase em que estava mais tímido no encontro. Jude Bellingham, a partir daí, perdeu a vergonha: primeiro conseguiu fazer uma recuperação quase a deslizar de joelhos, fez a assistência para Vinícius Júnior e o avançado marcou o 1-1 com grande classe (27′); pouco depois, conseguiu mais um roubo de bola no meio-campo contrário na sequência de um mau passe de Di Lorenzo, foi para cima da defesa contrária que tinha cinco elementos, tirou Östigärd da frente num último momento e rematou sem hipóteses para Meret (34′). Kepa ainda conseguiu redimir-se com uma defesa fantástica a um cabeceamento de Osimhen mas era o inglês que se assumia como figura.

Ainda assim, se a primeira parte tinha sido um daqueles jogos de cortar a respiração, o arranque do segundo tempo não ficou em nada atrás com Zielinski a assumir a cobrança de uma grande penalidade em vez de Osimhen por uma mão na bola de Nacho e a fazer de novo o empate (54′). Estava de novo lançada a partida, com Khvicha Kvaratskhelia a acertar pouco depois nas malhas laterais de longe e Zielinski a obrigar Kepa a nova defesa apertada após um remate de meia distância. O Nápoles ganhava uma segunda vida no jogo sem que o Real conseguisse contrariar essa enxurrada de caudal ofensivo mas, após controlar essa fase, foi Jude Bellingham que ficou perto de voltar a marcar numa recarga após remate de Vinícius Júnior antes de Fede Valverde disparar uma “bomba” que bateu na trave, nas costas de Meret e entrou mesmo (78′).