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Festival Materiais Diversos: experimentar e arriscar num festival maduro de corpo renovado

Este artigo tem mais de 6 meses

De 5 a 15 de outubro decorre a 12ª edição do Festival Materiais Diversos, que passou a bienal e quer ser um ponto de encontro entre a artes e as comunidades, nos 20 anos da associação que o promove.

"Mil e Uma Noites: Saia da Cabeça de Pedra" (UMCOLETIVO) é uma peça de teatro radiofónico gravada ao vivo em Alcanena
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"Mil e Uma Noites: Saia da Cabeça de Pedra" (UMCOLETIVO) é uma peça de teatro radiofónico gravada ao vivo em Alcanena

Estelle Valente

"Mil e Uma Noites: Saia da Cabeça de Pedra" (UMCOLETIVO) é uma peça de teatro radiofónico gravada ao vivo em Alcanena

Estelle Valente

É tempo de desaceleração, mas também de um maior compromisso no apoio dado aos artistas. Depois de se ter tornado num festival bienal em 2019 – e dos constrangimentos provocados pela pandemia – o Materiais Diversos regressa este mês, de 5 a 15 de outubro, às localidades de Minde e Alcanena, onde quer ser um ponto de encontro entre a arte e as comunidades locais, um incentivo à permanência nesta região e uma mostra do que melhor se está a produzir no domínio das artes performativas. “Realizar o festival de dois em dois anos permitiu-nos ganhar qualidade de tempo para definir a programação e realizar mais atividades de proximidade. O nosso objetivo é, como sempre foi, habitar este território de forma permanente e harmoniosa”, disse ao Observador, Elisabete Paiva, diretora artística da Materiais Diversos, associação com sede em Minde, que assinala 20 anos em atividade.

Com a atribuição de bolsas de produção, mais residências e uma prática continuada de acompanhar artistas permitiu “dar espaço à experimentação, que acaba por ser fundamental para estes artistas”. O festival que este ano assume o mote tornar visíveis as pessoas, os lugares e os processos ganhou igualmente uma componente ambiental e ecológica, onde se encara as questões sobre a crise climática. “Tem a ver com um certo despertar em termos sociais e políticos e sobre as consequências que o clima pode trazer nesta região”, salienta a diretora artística, recordando como esta região inscrita no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, se constitui um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea de Portugal, mas onde “infelizmente escasseia”, por toda a exploração que ali acontece.

De regresso ao trabalho com as comunidades e nos cruzamentos artísticos que propõem, o festival conta este ano com um vasto leque de propostas, onde haverá dança, teatro, concertos, conversas, entre muitas outras atividades. Todas estas, diz Elisabete Paiva, contribuem para “repensar o nosso modo de estar e a própria linguagem do saber”, que vai moldando ao longo do tempo. Sobre a área específica da dança, que sempre assumiu um papel preponderante no FMD, Elisabete Paiva lamenta a pouca programação que ainda se faz sentir nas cidades portuguesas, mesmo tratando-se de uma expressão artísticas que tem trazido muitas questões importantes para o centro do debate. “Creio que de uma forma pensada, começou verdadeiramente a trazer questões novas em relação aos corpos não normativos, bem como a assumir um papel de representatividade em termos de género, de identidade ou somente em termos culturais”, sintetiza.

Na aproximação a esta nova edição – “por um caminho exigente e colaborativo num circuito que se quer estender e ajudar a formar novos públicos” – o festival Materiais Diversos quer “compreender o tempo longo das pedras e acompanhar o movimento das águas, na expectativa de trazer à superfície uma comunidade de afetos que se forma lentamente e sustenta em práticas de companheirismo e colaboração”. Deixamos-lhe alguns destaques da programação.

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“Corpo Comum”

De Marta Tomé e Raquel Senhorino

Na “lógica de dar visibilidade ao que não tem um ciclo e uma faceta visível”, a exposição que inaugura a 12.ª edição do festival parte de um conjunto de oficinas artísticas regulares desenvolvidas no Agrupamento de Escolas de Alcanena desde 2017.

Organizadas agora como projeto expositivo, em corpo comum, procuram valorizar a diversidade como património e como direito, com o objetivo de alargar o horizonte de possibilidades das crianças e jovens e de contribuir para a sua autoestima, sentido de pertença e reflexão crítica. O corpo, como primeiro lugar de existência, e a dança são a base para todas as sessões, recorrendo-se também à escrita, ao desenho e ao debate para ampliar as formas de se expressar, questionar, construir sentidos e relações.

“Mil e Uma Noites: Saia da Cabeça de Pedra”

De UMCOLETIVO

Mil e Uma Noites: Saia da Cabeça de Pedra é uma peça de teatro radiofónico gravada ao vivo em Alcanena, a partir da vida e obra de mulheres de várias gerações, que foram convidadas a revelar a sua atividade de escrita e a partilhar as histórias e contextos em que a desenvolveram.

Depois de uma residência artística e de ter percorrido o país, a peça de teatro criada a partir destas vozes, regressa à Biblioteca Municipal de Alcanena na forma de uma instalação sonora. São um testemunho das mulheres autoras que ousaram sair de Alcanena e que ali regressam em forma de poemas e histórias. Recorda-se assim a sua história e sua coragem.

“KdeiraZ”

De Natália Mendonça

Nesta criação da performer, coreógrafa Natália Mendonça Convocam-se versos de Manoel de Barros: “palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria”. Na origem do processo de criação está uma experimentação de jogos cénicos com o intuito de problematizar o uso excessivo da cadeira no nosso quotidiano.

Em cena, as performers deparam-se com cadeiras comuns e fantásticas e ficam curiosas por descobrir quais as possibilidades de brincadeiras que cada uma, com a sua forma e personalidade, pode propor. KdeiraZ é um projeto de dança para crianças de todas as idades que busca aproximar a pesquisa em dança contemporânea da criação artística para o universo infantil.

“Las Lámparas”

De Leticia Skrycky

A criação marca o regresso desta desenhadora de luz e criadora uruguaia que já tinha passado pelo festival. Guiada pelas luzes que definem o dispositivo cénico e por questão iminentemente sensoriais, Leticia Skrycky procura oferecer um lugar para um olhar periférico e vibrátil.

É um convite para um estado de atenção aberto a receber o visível e o invisível. No espaço cénico do teatro, apresenta-se uma coreografia elétrica, onde o som move a luz e a luz, por sua vez, soa aquecendo todo o meio envolvente. Surgem assim luzes como fogueiras elétricas, que procuram ativar um estado primordial de observação como aquele que se sente quando se contempla o fogo.

“Didascálias”

De Leonor Mendes, Giovanna Monteiro e Vicente Antunes Ramos

A partir das didascálias de textos clássicos do teatro, este trabalho busca revisitar os espaços domésticos presentes nos textos e o imaginário de “casa” que carregam.

Duas intérpretes jogam com as palavras e com o tempo e assim constroem outros espaços, figuras, relações. O desenrolar deste jogo de construir e desconstruir deixa a pergunta em suspenso: o que se pode imaginar a partir dessas palavras que foram escritas para não serem ditas?

“Boca Fala Tropa”

De Gio Lourenço

A partir de um corpo a vários tempos e tendo como base os movimentos do kuduro, o criador angolano Gio Lourenço constrói um itinerário biográfico onde o corpo se torna uma alegoria da memória.

Sofia Berberan

Recorrendo aos códigos específicos deste estilo de música/dança surgido nos anos 90 e chegado a Portugal nessa mesma década Boca Fala Tropa propõe um território artístico deslocado de uma geografia concreta – o trânsito entre os dois países –, partindo dos passos e dos códigos do kuduro para cruzar elementos da memória individual, e as suas inevitáveis ficções, com elementos da memória coletiva.

“La Burla”

De Bibi Dória e Bruno Brandolino

Nesta ficção coreográfica acompanham-se duas figuras situadas numa realidade distópica. O encontro entre o sagrado e o profano toma forma em rituais e invocações de entidades que emergem das profundezas.

Santas, bruxas, videntes, diabos, monstros e heroínas atravessam o imaginário desta peça, dando voz e corpo a um variado repertório iconográfico medieval, onde se impõe a questão sobre quais as relações possíveis entre coreografia e ficção.

“All in the air is bird”

De María Jerez e Élan d’Orphium

Partindo do pressuposto de que nenhuma presença é neutra e entendendo que os pássaros são nossos contemporâneos – seres com quem partilhamos territórios, acontecimentos e histórias –, María Jerez e Élan d’Orphium ocupam o jardim do Museu de Aguarela Roque Gameiro ao pôr-do-sol, para criar uma situação partilhada de escuta aberta e atenta, numa invocação em forma de concerto experimental a partir do canto dos pássaros.

Trata-se de um processo de experimentação, através do qual os criadores trabalharam na construção de novos assobios de pássaros, para uma composição sonora ao entardecer em sintonia com os pássaros.

“a besta, as luas”

De Elizabete Francisca

Fortemente baseada no verso “eu não obedeço porque sou molhada”, da canção Banho, interpretada por Elza Soares, Elizabete Francisca propõe enunciar, através de gestos e sons, uma representação possível da geografia política de um corpo não submisso.

“É urgente reivindicar um lugar de resistência, transformando possíveis fragilidades em flechas e potências”, assim o explica. O corpo como arma política, o último reduto de qualquer experiência, um grito de afirmação de uma individualidade, em reconciliação com a sua identidade e sexualidade funciona como possível mantra para se manter em desequilíbrio.

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