Com uma bala no peito, morreu o suspeito do ataque terrorista que na segunda-feira ao fim da tarde matou duas pessoas em Bruxelas, avança o jornal Sudinfo, citando o Ministério Público belga. O homem foi atingido pela polícia belga depois de uma troca de tiros ao início da manhã desta terça-feira e acabou por não resistir a dois ataques cardíacos quando estava a ser transportado para o hospital, confirma o Centro Nacional de Crise da Bélgica no X (antigo Twitter).  Por volta das 8h00 a ministra da Administração Interna da Bélgica ainda informava, citada pela rádio RTBF, que o atirador estava a ser reanimado na ambulância.

Entretanto, o jornal Sudinfo diz que polícia está à procura de um segundo suspeito. “Não podemos confirmar que o autor agiu sozinho”, afirmou Annelies Verlinden, ministra da Administração Interna, ao canal VTM Nieuws. De acordo com a governante belga, existe a possibilidade de haver “ramificações” ou cúmplices do ataque.

O atirador, identificado como um imigrante ilegal de origem tunisina, disparou vários tiros na segunda-feira, pouco depois das 19h00 perto da Praça Sainctelette, no bairro de Molenbeek, em Bruxelas (Bélgica) e fez ainda um ferido.

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Segundo o jornal Sudinfo, o homem, que usava um capacete e um colete laranja fluorescente, gritou “Allahu Akbar” (“Alá é Grande”, em português), antes de disparar com uma metralhadora.

As vítimas foram dois cidadãos suecos, vestidos com a camisola da seleção do seu país e preparados para assistirem ao jogo Bélgica-Suécia, que decorria na noite de segunda-feira. Um vídeo filmado por um morador mostra o homem a entrar num edifício e a disparar contra uma pessoa, correndo depois para o exterior, onde dispara contra duas outras num táxi. De seguida, o suspeito pôs-se em fuga, de mota.

O suspeito de ter assassinado duas pessoas e ferido outra

Reprodução/X

Segundo o Le Soir, o nível de ameaça de Bruxelas subiu para 4 (o mais elevado desta escala), enquanto o do restante país está no 3. A ministra da Administração Interna belga, citada pela rádio RTBF, disse na manhã desta terça-feira que os postos diplomáticos suecos estão sujeitos a uma vigilância reforçada. Um porta-voz da cadeia sueca Ikea anunciou que as lojas na Bélgica continuam abertas, mas com medidas de segurança reforçadas.

Entretanto, o nível de ameaça de Bruxelas já desceu para 3, igualando o resto do país, e o procurador-geral Frédéric Van Leeuw informou que a polícia deteve duas pessoas por interrogatório, por alegadamente conhecerem o autor do crime. Ainda assim, este acha que “a teoria do lobo solitário parece ser a mais próxima da realidade”.

Esta teoria é também seguida pelo ministro da Justiça, Vincent Van Quickenborne, que diz “que não há nenhuma indicação de uma rede” por trás do ataque, acreditando assim que o autor do crime agiu sozinho.

Logo a seguir ao ataque, a polícia de Bruxelas, citada pelo jornal L’avenir, assumiu que os “os motivos do ato eram terroristas”, estando “a circular um vídeo em que o agressor explica que vingou [o povo islâmico] ao matar três suecos”, disse.

“Nunca, na história recente, a Suécia e os interesses suecos estiveram tão ameaçados”, diz o primeiro-ministro sueco

Mais tarde, após concluída uma reunião com o primeiro-ministro, Alexander de Croo, e os ministros do Interior e da Justiça, o Centro Nacional de Crise chamou a atenção para o vídeo “gravado por uma pessoa que se identifica com o agressor”. “Ele diz que é inspirado pelo Estado Islâmico e citava a nacionalidade sueca das vítimas como possível motivo para o ato”, escreveu, numa publicação no X.

“Com base nestes factos e na alegação”, o centro tomou “medidas de segurança urgentes para proteger os apoiantes suecos da melhor forma possível”, rematou.

Apesar de não ter revelado o autor do crime, diversos jornais belgas mencionam o nome Abdeslam Lassoued. Segundo o Sudinfo, o homem de 45 anos, de origem tunisiana, reside em Schaerbeek e é um imigrante ilegal. Segundo a agência italiana ANSA, este desembarcou em Lampedusa num pequeno barco em 2011.

O suspeito gravou o vídeo mencionado pelas autoridades e publicou-o no Facebook, sob o nome Slayem Slouma, tendo dito que matou as pessoas “para vingar os muçulmanos e que quem vive pela religião também morre por ela”.

Durante a manhã, o homem já tinha colocado um vídeo referente à criança muçulmana de seis anos que foi esfaqueada 26 vezes nos Estados Unidos da América (EUA) no domingo, dizendo que “se ele fosse cristão, teria sido chamado de terrorismo e não um crime brutal”, cita o mesmo jornal belga. As autoridades ainda não referiram se o autor agiu sozinho ou poderá ter dito a ajuda de cúmplices.

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Onda de solidariedade com as vítimas suecas

Antes de entrar para a reunião com o ministro do Interior e o ministro da Justiça, no Centro Nacional de Crise, o primeiro-ministro deixou uma mensagem de solidariedade para com as vítimas. “As minhas mais sinceras condolências aos familiares das vítimas do ataque covarde em Bruxelas. Atualmente, estou com os ministros da Justiça e do Interior no Centro Nacional de Crise. Estamos a monitorizar a situação e pedimos aos residentes de Bruxelas que estejam atentos”, escreveu o primeiro-ministro, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, já reagiu, tendo emitido um comunicado, citado pelo Telegraph, em que pediu aos cidadãos suecos que se encontram na Bélgica para continuarem atentos e para seguirem as instruções das autoridades. Em conferência de imprensa na manhã desta terça-feira, o líder do Governo revela que na noite de segunda-feira confirmou com o primeiro-ministro belga que tinha sido cometido um  ato terrorista “dirigido contra a Suécia e cidadãos suecos”. Confirmou que a terceira vítima está gravemente ferida e hospitalizada e adiantou, cita o Sudinfo, que o autor do ataque visitava ocasionalmente a Suécia.

Também Charles Michel manifestou o seu apoio “às autoridades belgas e aos serviços de segurança que estão a monitorizar a situação”, deixando uma mensagem de condolências às vítimas do tiroteio. “O coração da Europa foi atingido pela violência. O meu está com as famílias das vítimas do ataque mortal no centro de Bruxelas”, escreveu o presidente do Conselho Europeu e antigo primeiro-ministro belga na X.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, também expressou as suas “condolências profundas ao primeiro-ministro sueco ao povo sueco que perderam dois dos seus compatriotas num ataque covarde em Bruxelas”. “Os nossos pensamentos estão convosco, neste período difícil”, escreveu.

Marcelo recusa estabelecer ligação com guerra entre Israel e o Hamas

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que está em Bruxelas numa visita de Estado a convite do Rei Filipe da Bélgica e da Rainha Matilde da Bélgica (que também já condenaram o ataque, descrevendo-se “chocados” com o mesmo), disse aos jornalistas que é “prematuro estabelecer uma ligação entre este acontecimento e o que está a ser vivido no Médio Oriente”, numa referência à guerra entre Israel e o Hamas, que começou no passado dia 7, depois do ataque feito pelo grupo islâmico palestiniano.

“É uma questão anterior, que aparece agora pela oportunidade que este desafio de futebol estabeleceu e que eu lamento”, acrescentou. O Presidente estava de saída do jantar com os chefes de Estado e preparava-se para ir assistir ao jogo de Portugal contra a Bósnia num “estabelecimento comercial português”, quando foi aconselhado pelas autoridades a seguir para o hotel.

“As autoridades competentes entenderam que eu deveria seguir diretamente aqui para o hotel e eu, naturalmente, respeitei. Quando se trata de segurança num país estrangeiro o chefe de Estado visitante não se pode permitir entrar em colisão com as indicações de segurança”, declarou.

Marcelo avançou ainda que o programa de terça-feira “é o que é” e que a visita de Estado, que decorre até dia 20, não sofrerá alterações devido ao ataque terrorista que decorreu esta segunda-feira à noite. “Vamos seguir, em princípio, tudo o que estava previsto”, disse. Mas na manhã seguinte, esta terça-feira, a agenda acabou por ser alterada devido a questões de segurança

“Neste momento, aquilo que eu sei é que o agressor [do ataque em Bruxelas], invocou, de facto, um fator religioso associável a um problema que teria havido e que nós recordamos na Suécia há não muitos meses”, acrescentou, referindo-se à queima de exemplares do Corão.

Países islâmicos marcam reunião de urgência depois de profanação do Corão

Jogo suspenso após jogadores recusarem continuar partida

O jogo entre a Bélgica e a Suécia, que decorria no estádio Rei Balduíno, acabou por ser suspenso, anunciou a UEFA, numa publicação na rede social X. A decisão surgiu depois de “os jogadores se terem recusado a continuar com a partida, por causa do que tinha acontecido”, conforme foi comunicado no estádio, citado pela Sky Sports. Os mais de 35 mil adeptos, no entanto, foram aconselhados a permanecer dentro do estádio. Só cerca da meia noite local (menos uma hora em Portugal Continental, as autoridades belgas anunciaram, numa publicação no X, que o estádio já estava a ser evacuado e pediram a todos que “seguissem as instruções dos serviços de emergência” e que “regressassem a casa imediatamente”.

Citado por meios locais, o internacional sueco e jogador do Manchester United, Victor Lindelöf, assumiu “ter tomado a decisão de parar, como capitão de equipa”. “Primeiro falei com os meus colegas, depois com os belgas, e rapidamente chegámos a um consenso para parar a partida”, explicou. “O mais importante é que os suecos estejam a salvo. Faz-nos sentir medo pensar que estás em perigo porque vestes as cores da Suécia”.

“Fiquem dentro de casa”, pedem autoridades belgas. Comissão aperta medidas de segurança

Com o atirador ainda em fuga, a Proteção Civil emitiu um comunicado a pedir aos residentes da capital para “permanecerem atentos e para evitarem sair à rua até que mais informação esteja disponível”. “Fiquem dentro de casa ou vão para dentro de um edifício, se estiverem em Bruxelas”, alertou.

As autoridades ainda estão averiguar se as escolas e escritórios funcionarão na terça-feira, mesmo se o alegado terrorista continuar em fuga, revela o  Telegraph.

Também a Comissão Europeia decidiu aumentar o nível de alerta e implementar medidas de segurança extraordinárias. Assim, é aconselhado o teletrabalho, da mesma maneira que atividades e reuniões não urgentes devem ser adiadas ou transferidas para plataformas de reuniões online. Também as escolas e as creches relacionadas com a CE estarão fechadas esta terça-feira. Por outro lado, os prédios estarão abertos apenas das 7h00 às 17h00 e os estacionamentos só vão funcionar para carros de serviço e viaturas de pessoal essencial. Estão proibidas visitas aos edifícios da Comissão.

Este ataque acontece três dias depois de um jovem checheno de 20 anos ter invadido uma escola francesa e assassinado um professor à facada, tendo também gritado “Allahu Akbar”.

França. Jovem checheno de 20 anos entrou numa escola, gritou “Allahu Akbar” e matou professor à facada