A XI edição dos Encontros de Escritores de Língua Portuguesa (EELP), que se realiza na quinta e na sexta-feira na Praia, capital cabo-verdiana, vai homenagear Amílcar Cabral, que liderou as independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Em declarações à agência Lusa, Vítor Ramalho, secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), que organiza o evento, referiu que Amílcar Cabral foi “talvez o mais sagaz dirigente dos movimentos libertação” e era “um homem com uma grande sageza, inteligente”.

Além disso, o líder histórico, que foi assassinado em Conacri, em 1973, era “um poeta”, um “homem de grande cultura” e “apaixonado pela cultura”, considerou Vítor Ramalho.

Ele dizia que mais do que os povos de língua portuguesa falar em português, pensavam em português que é uma forma articulada e diferente de valorizar muitíssimo a língua”, acrescentou.

Nesta edição dos encontros, será debatida a “atualidade do pensamento” de Cabral, no âmbito dos 100 anos do seu nascimento, que se assinalam em 2024, e na sexta-feira o presidente da Fundação Amílcar Cabral, o ex-chefe de Estado cabo-verdiano Pedro Pires, fará uma intervenção sobre o legado do líder histórico.

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Sobre o tema desta edição dos encontros de escritores, “A língua portuguesa, expressão de liberdade, democracia e desenvolvimento municipal”, Vítor Ramalho disse que o português é uma língua “com características de universalidade e tolerância” e um “instrumento económico importantíssimo”.

Além de ser “uma língua inequivocamente de liberdade e de democracia” e “para o desenvolvimento”, o secretário-geral da UCCLA considerou ainda que a expressão literária de todos os países lusófonos “tem uma representatividade não negligenciável à escala global, com escritores de referência incontornáveis”.

Do programa do evento consta uma visita ao Tarrafal, onde o regime de Salazar criou, em 1936, um presídio para onde eram enviados os opositores à ditadura e que ficou conhecido como “o campo da morte lenta”.

Questionado sobre o simbolismo desta visita quando se assinalam os 50 anos de 25 de Abril, em 2024, Vítor Ramalho lembrou que “nas próprias prisões coabitavam pessoas originárias de diferentes países de língua portuguesa numa luta que era comum porque o regime era o mesmo”, tratando-se por isso de “um caso único” entre os países que colonizaram África, que já eram democracias quando descolonizaram.

Os Encontros de Escritores de Língua Portuguesa foram iniciados pela UCCLA em 2010, para a valorização da cultura, a difusão e promoção das literaturas dos países lusófonos e a troca de experiências entre escritores.

Nesta edição participam os escritores Jacques dos Santos (Angola), André Bazzoni Bueno e Domício Proença Filho (Brasil), António Baptista, Fátima Fernandes, Felisberto Vieira, José António dos Reis, José Maria Semedo, Lúcia Cardoso, Madalena Neves, Odair Varela, Vera Duarte e Vlademiro Furtado (Cabo Verde), Amadú Dafé (Guiné-Bissau), Sheila Khan (Moçambique) José Pedro Castanheira, José Pires Laranjeira e Leonel Barbosa (Portugal), Olinda Beja (São Tome e Príncipe) e Pedro Casteleiro (Galiza).

Os encontros contarão com a presença do primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, na sessão de abertura, na quinta-feira, e do Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, no encerramento.

Durante o evento serão ainda apresentados os vencedores da 8.ª edição do Prémio de Revelação Literária UCCLA-CMLisboa – Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, atribuído ‘ex aequo’ a André Bazzoni Bueno e a Leonel Barbosa.

Dos dez EELP anteriores, quatro decorreram na cidade de Natal (Brasil), um em Luanda (Angola) e os restantes na cidade da Praia, Cabo Verde. Já participaram mais de 200 escritores, incluindo seis prémios Camões: Arménio Vieira, Eduardo Lourenço, Germano Almeida, João Ubaldo Ribeiro, Mia Couto e Pepetela.

A UCCLA organiza os encontros juntamente com a Câmara Municipal da Praia, com o apoio da Academia Cabo-verdiana de Letras e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores e da SPA – Sociedade Portuguesa de Autores.