Xavi é como treinador o que foi como jogador: um criativo. Pode parecer difícil esticar a manta quando, ao tapar a cabeça, os pés ficam ao frio do lado de fora, mas o técnico espanhol tem conseguido, com recurso ao improviso, encontrar formas para o Barcelona não regelar.

A vitória contra o Athletic não abundou em facilitismo. Foi preciso esperar pelos minutos finais para que Marc Guiu, um jovem de 17 anos em estreia na equipa principal, desse a vitória a um plantel que devia ser de gente madura. De resto, também Lamine Yamal, de 16 anos, que se tornou, frente ao FC Porto (1-0), no jogador mais novo de sempre a ser titular na Liga dos Campeões, tem assumido cada vez maior responsabilidade na equipa catalã que ainda não perdeu esta época devido ao aproveitamento máximo que Xavi tem feito dos seus jogadores e, em caso de necessidade, recorrendo aos talentos de La Masia.

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Para enfrentar o Shakhtar Donetsk, na terceira jornada da Liga dos Campeões, (e na antecâmara do clássico com o Real Madrid) o Barcelona não ia poder contar com Koundé, Sergi Roberto, Raphinha, Frenkie de Jong, Pedri e Lewandowski. “Não é o ideal termos tantos lesionados, mas é o que há. O Gavi também está castigado. Não nos vamos queixar, mas sim competir e para fazermos uma melhor primeira parte do que contra o Athletic. Temos que melhorar para ganhar. Não é uma desculpa termos tantas baixas”, analisou Xavi.

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Antes de viajar até Barcelona, o Shakhtar Donetsk despediu o treinador neerlandês Patrick van Leeuwen. Apesar da equipa ucraniana já ter contratado Marino Pushych para ocupar o cargo, o antigo jogador do clube, agora diretor desportivo, Darijo Srna, deu a cara nos compromisso com a imprensa antes da partida contra o emblema blaugrana. “O Barcelona tem baixas importantes, mas também estamos sem alguns jogadores. Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para aproveitar os bons momentos”, disse Srna antes do encontro.”No início da guerra foi muito difícil, perdemos 14 jogadores mas seguimos em frente, não desistimos, criámos uma nova equipa e estamos no caminho certos de que vamos ser uma das melhores equipas da história do futebol ucraniano. Os meninos que vão jogar amanhã já têm muita experiência. São jogadores muito jovens que sofreram muito. Faremos todo o possível para reforçar a equipa em janeiro e estamos no caminho certo”.

João Cancelo e João Félix foram titulares numa equipa cujo banco de suplentes, além de não estar totalmente preenchido, foi composto com jogadores praticamente desconhecidos, ao contrário dos nomes que ficaram na bancada do Estádio Olímpic Lluís Companys. O Shakhtar Donetsk estava por sua conta e risco, mas vivia bem com isso. A equipa ucraniana chegou muito ligada ao encontro e apresentou um futebol rendilhado que deixou o Barcelona desconfortável. Mesmo que na maioria dos casos a pressão dos catalães estivesse a ser superada, Oriol Romeu recuperou a bola perto da área dos visitantes. O corte do médio defensivo acabou nos pés de Fermín que rapidamente de virou, iludiu os defesas e rematou para a defesa do guarda-redes Riznyk. As tentativas do Shakhtar nem chegavam a incomodar Ter Stegen, sendo resolvidas pela linha defensiva.

O Barcelona teve que começar a ser uma equipa às direitas. Lamine Yamal fez gato-sapato de quem lhe apareceu à frente. João Cancelo, idem. O internacional português até chegou a ir à frente finalizar com o pé esquerdo, mas sem a mesma eficácia que Ferran Torres (28′) teve de seguida na recarga a um remate de Fermín ao poste. A equipa blaugrana ganhou mais consciência defensiva e concedeu menos espaço para a ligação de jogo do Shakhtar com a frente de ataque. Dos três médios, Fermín, contrastando com o jogo mais cerebral de Gundogan, oferecia mais rotação e capacidade de rasgo. A demonstração de tais capacidades ficou evidenciada no lance individual (36′) que terminou com um remate ao ângulo do médio de de 20 anos que renovou com o clube até 2027, ficando com uma cláusula de rescisão de 400 milhões de euros.

O relativo mau início de jogo começou a ser compensado com uma exibição dominante. Ferran até dilatou a vantagem, mas foi apanhado em fora de jogo. De qualquer forma, o Shakhtar mantinha os princípios ofensivos e a dinâmica dada pelos atacantes punha em causa uma equipa que não é propriamente especialista a defender. Assim, Sudakov (62′) recebeu nas costas da defesa blaugrana um passe de Azarov e fuzilou Ter Stegen que sofreu o primeiro golo na Liga dos Campeões esta época.

O Barça manteve a cadência ofensiva e, não tendo um avançado puro, Fermín e Ferran permutavam na ocupação da zona nove. Dessa forma, Fermín atirou de novo ao poste e, no instante seguinte, teve um golo de cabeça anulado. O jogador formado em La Masia continuava a ser o melhor em campo. Xavi, por força das limitações, começou a mexer na equipa apenas aos 70 minutos. Numa das alterações operadas, o treinador espanhol teve que retirar João Félix do terreno de jogo após o português ter apresentado queixas físicas. 

Nos minutos finais, o Barcelona, devido aos jogadores formados no clube e com menos experiência que foi lançando, deixou o jogo entrar numa toada de transições que podia ter feito surgir o golo para qualquer um dos lados. Alejandor Baldé, Marc Casado e Marc Guiu já estavam no relvado quando o árbitro apitou para o final do jogo (2-1) e o Barcelona garantiu a terceira vitória em três encontros, chegando aos nove pontos e segurando o primeiro lugar no grupo H, o mesmo do FC Porto.