Mais 7 milhões de euros vão ser entregues pela Câmara Municipal de Lisboa à organização da Web Summit. São mais 700 mil euros do que os atribuídos pela autarquia ao evento no ano passado. Mas com uma novidade face ao ano anterior: atendendo ao contexto delicado em torno da organização do evento, o executivo liderado por Carlos Moedas deixou contratualizado que, se a cimeira tiver menor participação ou ou se as empresas convidadas não comparecerem, só serão pagos os serviços efetivamente prestados — o resto será devolvido à autarquia.

Foi isso mesmo que admitiu Carlos Moedas, na reunião pública da Câmara de Lisboa, que decorre esta quarta-feira: o dinheiro pago para a realização da Web Summit pode voltar aos cofres na autarquia se o evento “for mais pequeno”. Em resposta ao vereador do Bloco de Esquerda Ricardo Moreira, que criticou o nível de despesa associado, o autarca anunciou a “novidade” inscrita no contrato deste ano.

“O dinheiro que não for gasto, se houver menos gente, será devolvido ou não será pago”, garantiu Moedas, informando que será realizada uma auditoria para averiguar o valor utilizado. Acrescentou ainda: “Imagine que o evento é mais pequeno, esse dinheiro não vai”.

Para a edição deste ano, estão previstos os tais 7 milhões de euros. Em 2022, a Câmara de Lisboa atribuiu 6,3 milhões de euros para a realização da cimeira tecnológica na capital.  A proposta de financiamento foi aprovada na manhã desta quarta-feira em reunião extraordinária do executivo, com os votos a favor da coligação Novos Tempos, liderada por Carlos Moedas, e pelos vereadores do PS. Os restantes autarcas eleitos votaram contra.

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Na segunda-feira, a vereação Bloco de Esquerda pediu a retirada de proposta de financiamento municipal de 7 milhões de euros, uma vez que “os pressupostos da proposta não estão cumpridos”. Isto depois de o cofundador da Web Summit Paddy Cosgrave pedir a demissão do cargo, que decorre de 13 e 16 de novembro em Lisboa, na sequência de afirmações que fez sobre o conflito que envolve Israel e a Palestina e de várias empresas cancelarem a participação no evento. O BE defende que “o presidente da Câmara Municipal de Lisboa não foi capaz de garantir que o evento se irá realizar e em que moldes”.

Apesar da oposição bloquista, a proposta assinada pelo vereador Diogo Moura acabou aprovada, mas com algumas adendas de última hora. A versão final do documento, a que o Observador teve acesso, prevê que as “verbas não executadas sejam devolvidas ao Município de Lisboa para nova incorporação no Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa”. Também se acrescenta que a Associação de Turismo de Lisboa “apenas procederá ao pagamento de quaisquer verbas após efetiva demonstração das despesas incorridas” pela organização.

Em 2018, ainda com Fernando Medina como presidente da Câmara de Lisboa e com António Costa a liderar o Governo, os socialistas acordaram um investimento anual para a Web Summit de 11 milhões por ano, ou seja, 110 milhões para os 10 anos em que o evento se iria realizar na capital de Portugal. O acordo previa que o valor do investimento fosse repartido com a Câmara Municipal de Lisboa e retirado do Fundo de Desenvolvimento Turístico bem como de outras instituições do Ministério da Economia e Câmara de Lisboa.

No Orçamento para 2023 da Associação do Turismo de Lisboa, indica-se que a maior parte do investimento em promoção destina-se ao apoio à Websummit previsto para este ciclo de edições, iniciado em 2019, “que atinge o montante total de cerca de 9,6 milhões de euros em 2023, representando quase metade dos recursos disponíveis para a promoção turística da Região de Lisboa”.

Assim, 3,300,000 estão afetos à comparticipação no “fee” da Websummit e 6,300,000 à comparticipação no espaço para realização da Websummit, serviços e Wi-fi/TIC. O valor orçamentado pelo Turismo de Lisboa não inclui os sete milhões que saem dos cofres da Câmara Municipal.

Web Summit: BE/Lisboa pede retirada de proposta de financiamento municipal de 7 milhões de euros