Enormes filas de espera, mudanças de recinto, muitas pessoas a mudarem a sua vida em específico para o dia 7 de novembro de 2023. Entre o sorteio da fase de grupos da Champions da Ásia, para onde o Al Nassr foi apurado de forma dramática após um triunfo nos últimos minutos com o Al Ahli do Dubai, e a quarta ronda da competição viveu-se um clima de autêntica euforia no Qatar com o regresso de Cristiano Ronaldo ao país que recebeu o Campeonato do Mundo no ano passado, em particular entre todos os portugueses que residem em Doha e arredores. No entanto, e na antecâmara da partida com o Al Duhail, sobrou frustração: por razões físicas, o avançado iria ficar de fora que podia quase carimbar o primeiro lugar após o empate dos iranianos do Persepolis no Tajiquistão com o Istiklol, que deixou a equipa a dois pontos do Al Nassr com mais um jogo.

Dois golos fantásticos, uma assistência de calcanhar, outra vitória: o efeito Benjamin Button que trouxe de novo o melhor Ronaldo

Ainda assim, a conferência de imprensa de antevisão da partida acabou por gerar alguma tensão entre Luís Castro, técnico do conjunto saudita, e a imprensa, com o português a não gostar de uma interpretação sobre uma eventual poupança de Ronaldo. “Está a dizer que decidi descansar o Cristiano? Como é que o senhor sabe que decidi isso, sabe se o Cristiano está em condições para jogar? O Cristiano não está em condições de jogar, os media têm de ter respeito por mim como eu tenho por vocês. Não estou a dizer que eu decidi que ele não joga, o jogador não se mostrou em condições. Ele está ausente do jogo por cansaço. Há alguns dias disputou uma partida que foi para prolongamento e há 48 horas uma partida importante do Campeonato, não estou a poupar para nenhum jogo”, apontou antes de, mais calmo, pedir “paz”. “A culpa não é sempre do treinador, ele não joga porque não pode jogar, não é por descanso nenhum”, rematou.

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O golo 400 depois dos 30 anos, mais uma assistência, outro feito: Ronaldo em destaque na vitória do Al Nassr

O técnico português procurou esvaziar qualquer tipo de dúvida pela ausência da figura mais esperada para o encontro, destacando também outros nomes que conta na equipa para uma partida que poderia deixar já muito próximo o apuramento para a fase seguinte da competição a depender apenas de si. “O Cristiano é um jogador decisivo e teve um papel importante no primeiro jogo mas não devemos esquecer que o Al Nassr é uma grande equipa e também tem jogadores como Talisca, Sadio Mané ou Brozovic. Vamos disputar o jogo frente ao Al Nassr para vencer e espero que os outros resultados sejam vantajosos para nós. Queremos ser ambiciosos para lutar e não vou falar dos últimos resultados [na Liga do Qatar]”, destacara também o técnico do Al Duhail, Christophe Galtier, que deixou uma boa imagem no encontro de Riade.

Era neste contexto sem o português que o Al Nassr tentava manter o atual momento com 15 vitórias e só um empate nas últimas 16 partidas, que se seguiram às duas derrotas iniciais na Liga com o Al-Ettifaq e o Al Taawon. E mais uma vez apareceu a outra grande figura dos sauditas, curiosamente o único elemento que no onze inicial nunca foi internacional pelo seu país: Anderson Talisca. Ao todo, e olhando para a toda a época, o brasileiro leva 18 golos em 19 jogos, sendo que na Champions da Ásia são oito golos só em quatro jogos. Se na semana passada foi protagonista pelas piores razões ao ver um cartão vermelho direto na Taça frente ao Al-Ettifaq, agora o avançado voltou a aparecer ao melhor nível para decidir mais um triunfo.

Sem o português de início, Luís Castro colocou Sadio Mané a jogar mais por dentro no apoio a Talisca que partia da direita tendo Ghareeb aberto na esquerda do ataque e Sami Al-Najei a reforçar o meio-campo com os habituais Brozovic e Otávio. E a primeira imagem que ficou até foi a de um Al Nassr disposto a assumir o encontro com mais posse e circulação. No entanto, e no primeiro remate do encontro, foi o Al Duhail a fazer o golo inaugural da partida, com Coutinho a desviar na área um cruzamento de Olunga num lance contestado pelo banco saudita por uma possível falta sobre Abdulelah Al-Amri (7′). A equipa da casa procurava gerir a vantagem a olhar para as transições rápidas mas ainda antes da meia hora inicial chegou a igualdade, com Anderson Talisca a surgir à entrada da área para rematar em jeito de pé direito para o 1-1 (26′).

O encontro voltava à sua base inicial mas não por muito tempo, mais uma vez com Talisca a dar uma mostra de como tem futebol para dar e vender a merecer outros palcos na Europa: bola recuperada no meio-campo do Al Duhail, colocação no corredor central fora da área e remate sem hipóteses agora de pé esquerdo do brasileiro para a reviravolta (37′). Ghareeb ainda teria mais duas ocasiões flagrantes mas o 2-1 iria manter-se até ao intervalo, altura em que Galtier quis mexer na estrutura tática do conjunto do Qatar sem resultados práticos e Talisca aproveitou uma transição 3×2 para chegar ao hat-trick que sentenciou o jogo (65′). O máximo que o conjunto da casa conseguiu foi mesmo reduzir a dez minutos do final por Coutinho de penálti, terminando com dez um encontro em que Rúben Semedo foi titular por expulsão de Mohammed (90+2′).