A euforia passou a acalmia, a acalmia passou a impaciência, a impaciência começava a dar alguns sinais de desespero, dois livres diretos retomaram de novo uma euforia multiplicada ao quadrado. A forma como um jogo de futebol é vivido nas bancadas na Arábia Saudita torna-se quase um desafio às emoções perante uma linha ténue que existe entre o topo e o baixo. No entanto, e no caso do Al Nassr, há sempre artistas com mais do que argumentos para colocar a realidade no eixo desejado. Mais uma vez, e depois do empate de Talisca num livre direto que estava mais ao jeito de Ronaldo, o português vestiu o papel de super-herói que tinham desenhado na bancada para marcar um livre direto que estava mais ao jeito de Talisca e assinar a reviravolta frente ao Damac no regresso da Liga saudita, mantendo a desvantagem de quatro pontos para o Al Hilal de Jorge Jesus após aquela escorregadela caseira antes da paragem para as seleções com o Abha.

Os livres voltaram a ser penáltis com barreira: Ronaldo faz o quinto golo em três jogos, volta a passar Haaland e dá vitória ao Al Nassr

Agora, seguia-se a Champions asiática e uma receção ao Al Duhail, do Qatar, conhecido não só por contar esta temporada com o internacional brasileiro Philippe Coutinho mas também por ter o antigo treinador do PSG, Christophe Galtier, no comando da equipa. No entanto, e antes de mais um compromisso que podia ser determinante para assegurar o primeiro lugar do grupo e consequente passagem à fase a eliminar da prova (a segunda posição pode não garantir essa meta de forma matemática), Ronaldo voltou a mostrar o peso que tem onde quer que esteja, destacando-se no painel de apresentação do Campeonato do Mundo de eSports que vai decorrer no próximo ano na Arábia Saudita ao lado do príncipe Mohammed bin Salman e do presidente da FIFA, Gianni Infantino. “É uma honra estar com Sua Alteza Real e fazer parte deste painel para discutir o futuro dos eSports e lançar o primeiro Mundial, que será disputado na Arábia Saudita”, salientou.

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Não foi a única “aparição” do português noutros campos. Francis Ngannou, camaronês que foi o primeiro africano a sagrar-se campeão de pesos pesados do UFC, está em Riade a preparar um combate de dez assaltos contra o britânico Tyson Fury, campeão mundial de boxe, e partilhou nas redes sociais uma lembrança que o amigo deixou. “Fui buscar o meu novo relógio antes da luta aqui em Riade. Obrigado ao meu irmão Cristiano”, escreveu o lutador sobre um relógio avaliado em mais de 100.000 euros pertencente a uma edição limitada da marca Jacob & Co, denominada “Heart of Ronaldo”. O reencontro, esse, ficou aprazado para os próximos dias, com as atenções do capitão da Seleção a centrarem-se agora na receção ao Al Duhail.

“A abordagem ofensiva do Al Nassr é aterradora, os seus jogadores podem fazer a diferença com qualquer remate. Vi o último jogo do Al Nassr e claro que vimos os golos do Cristiano e do Talisca, por isso o primeiro ponto que temos é evitar erros em áreas próximas e defender bem. Estudámos bem o Al Nassr e, mesmo com ausências, vimos cá para apresentar um jogo especial”, comentou Galtier no lançamento do jogo frente a um Al Nassr que somava duas vitórias na competição (2-0 com o Persepolis, 3-1 com o Istiklol) e que tinha Ronaldo em grande momento: cinco golos nos últimos três jogos (nove nos últimos sete, tantos golos como jogos esta época pelo conjunto de Riade (18) e 41 golos no ano civil de 2023 sem querer parar por aqui.

Ronaldo chega aos 40 golos num ano civil pela 13.ª vez (e já está à frente de Haaland e Mbappé aos 38 anos)

“Os fãs fazem-me feliz e eu faço-os felizes. Tenho 38 anos e continuo a ajudar e a ser útil à equipa. Tenho de estar grato por isso. O que me trouxe até ao topo foi o trabalho árduo, mas sem a minha equipa nada disto teria sido possível. Continuarei a jogar esta época e na próxima. Depois olharei para o meu corpo para ver se posso ou não continuar. O jogo com o Damac? Foi difícil, especialmente por ter surgido após os jogos das seleções e consequentes viagens”, tinha destacado depois do último jogo. Agora, foi melhor ainda. Aliás, quanto mais o tempo passa, mais novo parece estar. E foi assim que, com dois golos fantásticos mais uma assistência de calcanhar, Ronaldo contribuiu de forma decisiva para um triunfo “a ferros” por 4-3.

A primeira parte mostrou o porquê de o Al Nassr nunca ter ganho ao Al Duhail nesta Champions asiática em quatro encontros no passado. O conjunto do Qatar apresentou-se bem organizado em campo, a controlar os momentos de jogo para não ser surpreendido em transições e a explorar da melhor forma a profundidade que ficava nas costas da linha defensiva do conjunto de Riade. No entanto, acabou por imperar a eficácia: todas as oportunidades dos visitantes saíram desenquadradas ou foram travadas por Nawaf Alaqidi, ao passo que uma das duas do Al Nassr resultou em golo com Cristiano Ronaldo a assistir de calcanhar Talisca para um remate cruzado de pé direito sem hipóteses (25′). A defesa qatari liderada pelo central internacional Rúben Semedo teve apenas mais um calafrio e de novo com o português no último passe, desta vez com o desvio de cabeça de Sadio Mané a sair a rasar o poste da baliza de Zakaria em cima do intervalo.

O recomeço da partida trouxe outra vez a melhor versão ofensiva do Al Duhail, com Coutinho a acertar no poste com um desvio quase de futsal na área (52′) antes de Olunga marcar mas ver o lance anulado por um fora de jogo quase milimétrico confirmado pelo VAR (54′). O empate parecia próximo mas em pouco mais de cinco minutos o resultado passou para três golos de diferença: Sadio Mané aproveitou um cruzamento de Sultan Al-Ghannam da direita para rematar rasteiro na área para o 2-0 (56′), Ronaldo descaiu sobre a direita para arriscar a meia distância de pé esquerdo para um golo fantástico que fez o 3-0 (61′). Tudo parecia estar arrumado mas em menos de cinco minutos reabriu: Ismail Mohamad reduziu num cabeceamento ao segundo poste muito consentido pela defesa contrária (63′), Almoez Ali fez o 3-2 num remate que bateu ainda num defesa (67′). A batalha ia até final, Ronaldo durou até ao final. E foi o português que aumentou para 4-2, num remate fantástico de primeira de pé esquerdo (81′), antes de Olunga fechar de vez o 4-3 (85′).