Nascido em Évora, no dia 11 de dezembro de 1945, Manuel Gusmão licenciou-se em Filologia Românica, em 1970, pela Universidade de Lisboa, com uma tese sobre Fausto, de Fernando Pessoa, e doutorou-se em Literatura Francesa, com outra sobre a poética de Francis Ponge, em 1987, de quem traduziu também vários poemas para língua portuguesa.

O autor de “Teatros do Tempo” estreou-se como poeta em 1990, com a publicação de Dois Sóis, A Rosa — À Arquitetura do Mundo.

Ainda jovem, esteve ligado ao movimento literário Nova Crítica, e fez parte das redações das revistas de literatura e arte O Tempo e o Modo e Letras e Artes, tendo colaborado ainda com o jornal Crítica e com a revista Seara Nova.

O autor fundou as revistas Ariane, que começou a ser publicada em 1982, e Dedalus, da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (APLC), em 1991. Além disso, foi coordenador editorial da revista Vértice e publicou regularmente crítica literária no suplemento Ípsilon do jornal Público.

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Ao longo da sua vida publicou ensaios ou prefaciou obras de Fernando Pessoa, Gastão Cruz, Carlos de Oliveira, Herberto Helder, Sophia de Mello Breyner Andresen, Luiza Neto Jorge, Ruy Belo, Armando Silva Carvalho, Fernando Assis Pacheco, Almeida Faria, Maria Velho da Costa, Nuno Bragança, Maria Gabriela Llansol, Luís de Sousa Costa e José Saramago.

Na área da tradução, Gusmão verteu para português poemas de Calderón de La Barca, Olivier Cadiot e Christian Prigent, além de Francis Ponge.

A escrita foi conciliada com a carreira académica, que cumpriu como professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde desenvolveu trabalho nas áreas de Literatura Portuguesa, Literatura Francesa e Teoria da Literatura.

Como poeta, desenvolveu uma escrita cerebral, defendendo que a poesia é também uma forma de pensamento, e aliando a poesia à política e a todas as artes.

Numa entrevista ao Jornal de Letras Artes e Ideias (JL), em 2005, afirmou que tentava “reinventar, sem esquecer os modos como as coisas ocorreram no tempo, uma poesia em que o lírico e o narrativo se possam cruzar e mutuamente contaminar”.

Foi através da escrita do libreto para a ópera Os Dias Levantados, sobre a Revolução de Abril, de António Pinho Vargas, que se estreou em 1998, no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, que Manuel Gusmão deu maior visibilidade a alguns dos pressupostos essenciais da sua escrita poética, nomeadamente a “pluralidade vocal” e o tempo histórico não linear.

A escrita deste libreto constituiu um desafio para o poeta, não apenas pela experiência narrativa, mas também pelo confronto do autor com a própria memória de um evento que viveu intensamente.

Manuel Gusmão foi politicamente ativo desde os tempos universitários, tendo sido membro do Comité Central do Partido Comunista Português, deputado à Assembleia Constituinte (1975/1976), membro do Conselho da Comunicação Social e, em 2004, mandatário ao Parlamento Europeu.

Dirigiu a revista a revista Caderno Vermelho, do Setor Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, desde o primeiro número, em 1996.

Numa entrevista dada à revista Caliban, em 2016, o escritor considerou que era necessário relançar o debate entre literatura e política, não porque este tenha “verdadeiramente terminado”, mas porque “perdeu muito o viço e a força”.

Ao longo da sua carreira recebeu o Prémio do P.E.N. Clube Português para Melhor Obra de Poesia, em 1997, com Mapas, o Assombro e Sombra, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava relativos a 2001, com Teatros do Tempo, entre muitos outros.

Em 2004, recebeu o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus e, em 2005, o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora.

Em 2011 recebeu o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, por Tatuagem e Palimpsesto: da Poesia em Alguns Poetas e Poemas, e em 2014 o Prémio de Poesia António Gedeão, pelo Pequeno Tratado das Figuras.

Em 2019, foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural como reconhecimento do Governo português pelo “inestimável trabalho de uma vida dedicada à produção literária e à poesia, difundindo amplamente, em Portugal e no estrangeiro, a Língua e a Cultura portuguesas, ao longo de mais de cinquenta anos”.

Durante o seu percurso académico, Manuel Gusmão deu cursos, conferências ou ciclos de conferências, sobre cultura, literatura portuguesa ou literatura francesa nas Universidades de Colónia, Lovaina, Bolonha, Paris III, Veneza, Autónoma de Barcelona e, no Rio de Janeiro, na Universidade Federal e na Pontífica Universidade Católica.

Entre as obras que publicou, contam-se os ensaios A Poesia de Carlos de Oliveira e A Poesia de Alberto Caeiro, e as obras poéticas Dois Sois, A Rosa — A Arquitetura do Mundo, Mapas: o Assombro e a Sombra, Teatros do Tempo (1994-2000), Os Dias Levantados, Migrações do Fogo, A Terceira Mão e Pequeno Tratado das Figuras.

Manuel Gusmão era pai do economista José Gusmão, deputado do Parlamento Europeu eleito pelo Bloco de Esquerda em 2019, e foi casado com a sindicalista e ex-dirigente da CGTP — Intersindical Isabel Figueiredo (1943-2023), que morreu no passado mês de janeiro.