A área ardida no Algarve em 2023, cerca de 2.800 hectares (ha), está “muito abaixo” da expectável face à severidade meteorológica da região, afetada pelo calor e seca extrema, destacou quarta-feira o comandante regional de Emergência e Proteção Civil.

“É um ano positivo. Dentro daquilo que era expectável, nós tivemos um ano muito positivo, muito abaixo da área que seria expectável que fosse afetada. Bem abaixo, o que se deve ao esforço de todos os agentes de Proteção Civil e forças que integram o dispositivo”, disse Vítor Vaz Pinto, à margem da apresentação do balanço do Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios rurais no Algarve.

Num ano “particularmente exigente do ponto de vista meteorológico”, com temperaturas elevadas, precipitação inferior ao normal e todos os municípios em seca severa ou extrema, a severidade meteorológica, parâmetro que permite comparar as condições meteorológicas às quais os combustíveis estão sujeitos, foi “muito elevada” no Algarve.

A área ardida ponderada para a região com base nessa severidade meteorológica “apontava para 17.800 hectares”, mas na realidade foi “consideravelmente inferior”, referiu o comandante regional da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).

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“Apenas 16% desta área expectável foi afetada, ou seja, pouco mais de 2.700 ha [2789,21 ha]. É, de facto, bastante significativo e aqui vê-se o trabalho que foi feito por todas as forças do dispositivo”, realçou Vítor Vaz Pinto.

Entre 1 de janeiro e 31 de outubro, foram registados 269 incêndios cuja ignição teve origem na região e dos quais resultou uma área ardida de 789,77 ha, segundo os dados divulgados quarta-feira.

Em comparação com o histórico dos 10 anos anteriores, registaram-se em 2023 menos 16% de incêndios rurais e menos 44% de área ardida relativamente à média anual desse período.

Face ao ano transato, aqueles valores indicam um aumento de 28% no número de incêndios e uma redução de 62% do total da área ardida.

Por outro lado, o incêndio que deflagrou em agosto na zona de Baiona, concelho de Odemira, distrito de Beja, cuja área ardida foi superior a 7.500 ha, também afetou os municípios algarvios de Aljezur (1.635,85 ha) e Monchique (363,59 ha).

Dos 269 incêndios que deflagraram na região, 259 foram dominados no ataque inicial, antes de atingidos os 90 minutos contados desde a hora do alerta, e registaram-se tempos médios de despacho de meios de 50 segundos, “muito abaixo” do tempo máximo de dois minutos previsto para todo o território continental.

Em 2023, os incêndios com área ardida inferior a um hectare foram os mais frequentes no Algarve, representando 94% do total, e apenas se registaram três fogos com área ardida superior a 100 ha.

A investigação a todos os incêndios permitiu a atribuição de uma causa para 161, sendo as mais frequentes o mau uso do fogo (36% dos 269), acidentais (14%) e incendiarismo (10%).

O comandante regional da ANEPC também frisou o “aumento substancial” dos falsos alarmes, que correspondem na maioria a queimas autorizadas e representaram 51,6% das 556 ocorrências entre 1 janeiro e 31 de outubro.

“Pelo facto de haver muitos falsos alarmes, não quer dizer que seja necessariamente negativo. Quer dizer que a população está mais desperta para estas situações e naturalmente que aciona o sistema. […] Acho que é positivo as pessoas acionarem o sistema e não estarem à espera. É melhor ligar para o 112, mesmo que outras pessoas o tenham feito, é sempre preferível comunicar. Quanto mais depressa o alerta chegar, mais probabilidades existem de o incêndio ser debelado”, sustentou Vítor Vaz Pinto.