Vai ser uma despedida bem quente do verão de S. Martinho. Este fim de semana quase todo o país vai estar com temperaturas máximas acima dos 20ºC, com muitas cidades a atingir os 23ºC, como será o caso de Braga, Évora ou Setúbal, ou mesmo os 24ºC, que se prevê para Beja e Leiria. Mas a partir de segunda-feira, e quando ficaremos praticamente a um mês do início oficial do inverno — este ano começará a 22 de dezembro, uma sexta-feira, às 3h27 — o mercúrio dos termómetros cairá de forma brusca. Uma massa de ar frio polar vai tornar os dias bem mais frios e as noites geladas. Mas sem sinal de chuva, que, a aparecer, ficará reservada apenas ao Minho ou Douro Litoral (e será muito residual).

Assim, entre segunda e terça-feira, as temperaturas máximas caem em média 7ºC e as mínimas ainda mais. Lisboa, por exemplo, que tem estado, e vai estar, com dias de 22ºC e noites de 16º, passará para dias de 17ºC e noites de 8ºC. Em Évora, as máximas podem já não ultrapassar os 15ºC e as mínimas cair para os 5ºC a meio da próxima semana. E se formos para o interior norte e centro já andaremos com temperaturas noturnas na ordem dos 0ºC/1ºC, como será o caso de Bragança ou Guarda (onde, no alto da Serra da Estrela, se atingirão os 3ºC negativos).

Se ainda não mudou o guarda-roupa — seja qual for o motivo, sem julgamentos — para as peças de inverno, é mesmo tempo para o fazer e aproveitar estes dias para dar um último adeus às tshirts e camisolas ou vestidos mais finos. Porque os modelos meteorológicos mostram que o tempo frio (e seco) veio para ficar (pelo menos por algum tempo — que também já é tempo dele). E é de sublinhar mesmo este ‘frio’ — porque o vento vai soprar de norte quase sempre, o que aumenta a sensação térmica gelada —, e também a parte do ‘seco’ — porque não surgem à vista quaisquer sinais de frentes húmidas, como as que consecutivamente se abateram sobre a Península no final de outubro de início de novembro, o famoso comboio de tempestades carregadas de chuva. Não há uma gota de água à vista.

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A culpa é de uma completa alteração da atual situação meteorológica.

Uma massa de ar quente atingiu a Península Ibérica na última semana (sobretudo Espanha, muito mais que Portugal, onde Múrcia, por exemplo, chegou aos 35ºC, e onde se bateram recordes de temperaturas em novembro). A situação ainda se manterá este fim de semana, mesmo que com noites mais frescas, ao ponto de a amplitude térmica atingir os 14ºC de diferença, como vai acontecer com os bracarenses, que passam dos tais 23ºC diurnos para 9ºC noturnos, a pedir já um bom agasalho. Depois de segunda, tudo muda.

O anticiclone dos Açores dá um enorme giro para oeste e em vez de deixar passar massas de ar dos trópicos (ou do norte de África), passa a permitir entrar novamente as que vêm do Atlântico Norte, do polo ou do Ártico. O que é muito mais normal neste altura do ano.

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A mudança do anticiclone permite a entrada de vento norte e nordeste e a entrada desta massa de ar polar fria, que é característica do outono. Será uma massa de ar polar marítima, pelo menos inicialmente, mas a humidade que possa trazer inicialmente não chegará ao nosso território, daí que não chova. Mas é bem provável que depois entre pela Europa e se transforme numa massa polar continental. Seria natural que nevasse, se chovesse, e até em quotas bastante baixas, acima dos mil metros. Mas não é o caso. Daí o tal frio seco, aquele que parece que se entranha nos ossos e dá a sensação térmica de ser mais gelado do que marca nos termómetros.

Só o Algarve se manterá com temperaturas mais amenas, com as máximas nos 19ºC e as mínimas acima dos 10ºC e, como é habitual, a Madeira está quase com tempo de verão.