A coordenadora do Bloco de Esquerda apontou segunda-feira a história da Portugal Telecom (PT) e da Meo como exemplo da “miséria do capitalismo português”, apelando a uma intervenção pública que trave mais “promiscuidade e canibalização” pelos privados.

No final de uma reunião com a Comissão de Trabalhadores da Meo, em Lisboa, Mariana Mortágua questionou como foi possível que “o centrão de negócios” tenha “destruído a maior empresa de telecomunicações portuguesa, um orgulho do país”, e, em particular, criticou uma possível venda do centro de dados da Covilhã — inaugurado pela PT em 2013  — ao fundo Horizon Equity Partners.

“A cereja no topo do bolo é uma parte destes ativos estarem a ser vendidos a um fundo chamado Horizon, que tem no seu Conselho de Administração Pires de Lima, o mesmo ministro que entregou a Meo à Altice e que chamava a Armando Pereira o herói de Vieira do Minho”, afirmou a coordenadora bloquista.

O cofundador da Altice Armando Pereira é o principal arguido da Operação Picoas, um processo em que está em causa, segundo a acusação, uma “viciação decisória do grupo Altice em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência”, e crimes de corrupção privada na forma ativa e passiva e crimes de fraude fiscal e branqueamento, que podem ter defraudado o Estado numa verba superior a 100 milhões de euros.

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“A história da PT e da Meo é a história da miséria do capitalismo português, é uma história de gangsters”, acusou a líder bloquista.

Mortágua lembrou que a PT começou por ser privatizada pelo Governo do PS liderado por José Sócrates, que disse tê-la “envolvido em negócios megalómanos” com a brasileira Oi.

“Depois veio Ricardo Salgado, comprou a PT e levou-a à falência e depois o governo PSD que vendeu a PT à Altice, sabendo da intenção desta de sugar os fundos da PT”, afirmou, considerando essa decisão do executivo de Pedro Passos Coelho “a machadada final”.

Durante este processo, criticou, “os principais ativos da Meo foram sendo vendidos”, cerca de metade dos trabalhadores despedidos e os salários dos restantes reduzidos.

“Quando hoje falamos de uma economia fraca e sem capacidade estratégica, de baixos salários, de precariedade, o maior exemplo dessa economia de promiscuidade é a PT e a Meo. Sucessivos governos fizeram o que quiseram desta empresa estratégica, deram-na aos piores interesses privados, que a canibalizaram”, disse.

Mariana Mortágua alertou que o que resta ainda da Meo “está em risco”, quer pela operação judicial em que está envolvida a Altice, quer porque a empresa “está à beira de perder os poucos recursos estratégicos que ainda tem”.

“Estamos aqui para denunciar o que passa com a Meo, prestar solidariedade com os trabalhadores e pedir responsabilidades”, disse.

A coordenadora do BE considerou que ainda é possível inverter este caminho, apelando a uma “intervenção pública”.

“Não é possível que a Meo continue a vender ativos estratégicos a fundos internacionais e a ter uma política para com os seus trabalhadores que é dos piores exemplos que podemos ter”, disse.

A líder do BE insistiu que o antigo ministro da Economia António Pires de Lima foi quem “vendeu a Meo e a PT à Altice” e que “aceitou dar apoios públicos” a um centro de dados que estava a ser gerido por Zeinal Bava.

“Esse “data center” nunca contratou o número de trabalhadores prometidos e agora a Meo vai vendê-lo a uma empresa que está ligada a Pires de Lima?”, questionou.

“É travar esta forma da economia portuguesa fazer os negócios”, apelou.