Os líderes do G20 defenderam esta quarta-feira a solução de dois Estados para pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, na cimeira virtual convocada pela Índia, que preside ao grupo.

“Sobre a grave situação na Ásia Ocidental, e depois de ouvir todos, o G20 está de acordo em várias questões: (…) a necessidade de resolver o problema entre Israel e a Palestina através de uma solução de dois Estados”, declarou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no encerramento da reunião do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana).

Além de apoiarem essa solução, os países desenvolvidos e emergentes condenaram o terrorismo e a morte de civis — especialmente de crianças — durante o conflito desencadeado a 7 de outubro por um ataque do Hamas a Israel que fez 1.200 mortos e cerca de 240 reféns; acordaram o envio “rápido e eficiente” de ajuda humanitária; e apelaram para “o diálogo e a diplomacia como única forma de resolver os conflitos internacionais”.

A guerra na Faixa de Gaza, que já fez mais de 15.000 mortos, foi o tema central da reunião de líderes, que coincidiu com o anúncio, na madrugada desta quarta-feira, de uma trégua temporária de caráter humanitário entre Israel e o Hamas — que desde 2007 controla aquele enclave palestiniano pobre —, acolhida pelo Grupo dos Vinte “com satisfação”.

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50 reféns, 150 prisioneiros, quatro dias de pausa, mas os dedos continuam no “gatilho”: o que se sabe sobre o acordo entre Israel e o Hamas

O cessar-fogo de quatro dias deverá começar na quinta-feira e prevê a libertação de 50 reféns pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e a libertação de 150 prisioneiros palestinianos por Israel, bem como a distribuição de ajuda humanitária em todo o território de Gaza.

Este encontro virtual ficou também marcado pela primeira aparição do presidente russo, Vladimir Putin, numa cimeira de líderes do G20 desde a eclosão da guerra na Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022 — situação que este aproveitou para apontar a duplicidade de critérios dos Estados Unidos e seus aliados perante os dois conflitos.

“E o extermínio da população civil na Palestina, na Faixa de Gaza, não é chocante? E o facto de médicos terem de operar crianças (…), usar bisturis nos corpos das crianças sem anestesia, isso não choca?”, questionou Putin na sua intervenção, transmitida pela televisão pública, em resposta aos líderes que se mostraram “chocados” com as consequências da “agressão” russa à Ucrânia, durante a cimeira.

“Considero que a guerra, a morte de pessoas, não pode não abalar. E o golpe sangrento na Ucrânia em 2014 que desembocou na guerra do regime de Kiev contra o seu próprio povo no Donbass [leste ucraniano]? Isso não abala?”, acrescentou.

A invasão da Ucrânia pela Rússia esteve em foco no G20 nos últimos anos, chegando a dificultar a adoção de comunicados conjuntos e obrigando a intensas negociações sobre a linguagem, como aconteceu na última cimeira de líderes.

Entre os participantes na reunião estiveram também representantes de mais de 35 Estados e organizações internacionais, entre os quais a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o secretário-geral da ONU, António Guterres, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, o chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, e o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.

Em contraste, a lista dos ausentes é curta mas significativa, nela figurando o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden — o principal contrapeso de Putin no panorama internacional e participante na reunião presencial do G20 realizada em Nova Deli, em setembro —, e o Presidente chinês, Xi Jinping, que também não participou nesse encontro.

No lugar de Xi, esteve presente o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em representação de Pequim, como já tinha acontecido há três meses.

Esta cimeira virtual do G20 é a última organizada pela presidência da Índia, assumindo o Brasil a direção do bloco a partir de 1 de dezembro.