As três candidaturas à liderança socialista receberam esta quinta-feira uma advertência da Comissão Organizadora do Congresso (COC) a propósito de queixas sobre telefonemas para militantes a perguntar pelo sentido de voto, no decorrer da campanha interna do PS. A COC pede “bom senso” às candidaturas que, ao Observador, confirmam a existência de relatos sobre queixas do género. Pedro Nuno Santos e Daniel Adrião rejeitam ter feito este tipo de contactos. José Luís Carneiro refere como “normal” “militantes voluntários, por todo o país, a falarem com outros militantes”.

Na nota que enviou aos candidatos à liderança, a COC relata a existência de “várias reclamações por parte de militantes de todos o país, alegando que estariam a receber contactos telefónicos por parte de candidaturas, perguntando qual o sentido de voto do militante contactado”. Diz também que não lhe compete essa “fiscalização”, pelo que pede “bom senso no contacto com os militantes e com a reserva que esse contacto implica”. Apela à “moderação dos apoiantes das diversas candidaturas no referido processo de contacto de militantes”, tendo em conta a necessidade de todos estarem “unidos no combate difícil que se segue ao ato eleitoral interno”.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quarto episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode ainda ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui e o terceiro episódio aqui.]

Nenhuma das candidaturas assume a prática, embora Daniel Adrião diga, em declarações ao Observador, que os “muitos” relatos que lhe chegaram dos seus apoiantes são relativos a “contactos feitos pela candidatura de José Luís Carneiro”. O candidato à liderança do PS explica que nesses contactos telefónicos que lhe foram descritos — e que chegaram até a membros do seu staff — começava por ser feita a identificação por parte da candidatura de Carneiro, perguntavam pelo apoio e falavam do candidato. “No fundo é um call center“, comenta Adrião.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também a candidatura de Pedro Nuno Santos refere que “recebeu o mesmo e-mail que as restantes candidaturas”: “Não interpretamos como sendo dirigida a nós uma vez que não é a nossa candidatura que está a fazer contactos de forma organizada ou centralizada (call center), nem a perguntar qual o sentido de voto dos militantes”.

O Observador fez as mesmas questões à candidatura de José Luís Carneiro que respondeu que, pelos relatos recebidos, “as candidaturas têm movimentos de militantes voluntários, por todo o país, a falarem com outros militantes. Como é normal em qualquer eleição no PS e ainda bem que assim é, pois permite o debate que outros recusam“, refere, apontando a Pedro Nuno Santos que recusou entrar em debates nesta campanha interna do PS para evitar uma crispação do ambiente interno com eleições legislativas a tão breve prazo.

A candidatura de José Luís Carneiro refere ainda ao Observador que as queixas que tiver “sobre outras candidaturas ou sobre as estruturas do partido são tratadas no PS”.

Daniel Adrião também referiu ao Observador não ter este tipo de prática na sua candidatura, tendo considerado “normal que militantes contactem militantes nesta fase. Outra coisa é se isso é feito por uma empresa externa, isso já é abusivo. Espero que não seja o caso.”

As eleições diretas do PS estão marcadas para os dias 15 e 16 de setembro e vão eleger o secretário-geral do partido que vai suceder a António Costa depois de ter apresentado a demissão  do cargo de primeiro-ministro a 7 de novembro.