Tudo começou com um anúncio no jornal a oferecer aulas de inglês e acabou com uma jovem de 20 anos a ser violada e estrangulada na parte de trás de uma carrinha, com o seu corpo a ir parar ao fundo de um rio francês. O seu assassino, o serial killer Michel Fourniret, já cá não está para contar o que aconteceu a Joanna Parrish, numa altura em que os pais ainda procuram justiça. Mas a sua ex-mulher, Monique Olivier, de 75 anos, está. E não só o fez como ainda pediu desculpas.

“Não é possível”, disse esta terça-feira, quando lhe foi mostrada uma fotografia da adolescente, no tribunal, onde está a ser julgada por ter sido cúmplice do seu assassinato e no de outras duas vítimas do ex-marido: Marie-Angèle Domèce, que tinha 18 anos, e Estelle Mouzin, com apenas nove.

“Arrependo-me. Foi monstruoso o que ele fez. Eu e ele. É imperdoável. Se tivesse uma filha… Ela era linda e não merecia isto. Peço desculpa“, sublinhou, citada pelo The Guardian. Os pais de Parrish não estavam presentes para ouvir as lamentações, mas ouviram a descrição gráfica do que levou à morte da filha.

Olivier recordou o dia 16 de maio de 1990, em que ela e Fourniret — que foi condenado em 2008 pelo assassinato de sete crianças e jovens, entre 1987 e 2001, e morreu em 2021 — persuadiram Parrish, que era estudante da Universidade de Leeds e trabalhava na como assistente de ensino na cidade de Auxerre, a entrar na sua carrinha.

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A ex-mulher do serial killer foi quem deu a ideia de usar as aulas de inglês que a jovem ofereceu no jornal, de forma a angariar dinheiro para visitar o namorado, Patrick Proctor, que estudava russo na Checoslováquia, como “isco” para a conhecer e raptar.

Ele [Fourniret] perguntou-lhe se ela ainda era virgem e se tinha namorado. O facto de ela ter namorado deve tê-lo perturbado e irritado (…) e foi isso que o incitou a ser violento e a fazer o que fez”, disse Olivier ao tribunal, durante uma audiência do julgamento que deve terminar a 15 de dezembro.

Olivier disse que não assistiu ao espancamento, violação e estrangulamento de Parrish, visto que o homem lhe pediu para a aguardar na parte da frente da viatura. No entanto, disse que ouviu os gritos e o som das pancadas.

Depois, a arguida disse que ambos esperaram até o anoitecer para largar o corpo, que foi encontrado na manhã seguinte no rio Yonne. Olivier garantiu que não se lembra do que fizeram nas horas seguintes.

A autópsia indicou que a Parrish foi morta entre as 22 horas e as duas da manhã, e que o seu corpo ficou na água durante três horas.

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Perante este testemunho, o advogado dos pais da vítima, que saíram imediatamente após a descrição dos factos, perguntou repetidamente por que razão Olivier não agiu quando ouviu os gritos. “Ela não teria entrado no carro se não tivesse inventado esta história das aulas de inglês… Devia tê-lo impedido. Sabia que ela ia morrer assim que entrasse no carro”, argumentou Didier Seban.

Olivier argumentou que não tinha como fugir ao “jogo de xadrez” que o então marido a obrigada a participar. “Se ele me pedia para fazer alguma coisa, eu fazia. Não por escolha, mas apenas por obediência. Se ele queria fazer alguma coisa, fazia-a”.

É por esta razão que a ex-mulher do serial killer está a cumprir uma pena por ter sido cúmplice não num, mas em cinco homicídios de Fourniret. Nomeadamente o da menina de nove anos, cujo pai, Eric Mouzin, fez questão de estar presente na “dura” audiência.

Estamos num sistema em que é como se não falássemos de pessoas reais”, disse, citado pela BBC. “Didier Seban tentou fazer com que Olivier retomasse o contacto com as pessoas, mostrando-lhe os seus rostos quando estavam vivas, nomeadamente Joana. E depois confrontou-a com as fotografias após a descoberta do corpo. Vimos a reação de Olivier. Ela afastou-a”, recordou.

Olivier e Fourniret conheceram-se em 1987, enquanto ele estava preso, por ter agredido sexualmente uma mulher. Os dois trocaram mais de 200 cartas e acabaram por casar, tendo tido um filho, Selim, em 1988.