A cerimónia de entrega das primeiras unidades da Cybertruck era aguardada com alguma ansiedade, o que pode ser considerado normal para uma pick-up, que é o tipo de veículo mais vendido nos EUA. Tudo porque o mais recente modelo da Tesla é apontado como tendo 2 milhões de pré-encomendas – número não confirmado pelo construtor e que nos parece muito optimista –, pelo que a lista de clientes à espera de assinar o cheque é considerável.
Além de ficar a conhecer o preço definitivo da pick-up eléctrica que foi prometida como a que iria oferecer a maior potência e a autonomia mais generosa, importava ainda conhecer os detalhes específicos do estranho veículo, bem como se manteria as características que foram avançadas durante a revelação original do veículo em Los Angeles, em Novembro de 2019.
Como é por fora e como resiste às balas?
Tal como no protótipo revelado há quatro anos, a Cybertruck de série, que agora começou a ser entregue aos primeiros clientes, mantém a estética em cunha que sempre a caracterizou, com uma carroçaria em aço inoxidável, que lhe garante maior resistência à corrosão e uma rigidez torcional superior, o que explica o facto de fazer parte integrante do próprio chassi. Com 5,68 m de comprimento, a pick-up da Tesla é substancialmente mais comprida do que as pick-ups de cabina dupla à venda em Portugal (30 a 40 cm), sendo sobretudo mais larga (2,20 m e 2,40 m com retrovisores) e mais baixa (1,79 m) e com um coeficiente aerodinâmico bem mais eficaz, reivindicando um Cx de 0,335.
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06142125/tesla-cybertruck-interior.jpg)
A estética da Cybertruck é fruto do material em que é fabricada, uma vez que o aço inox é um material muito rijo, o que torna impossível de prensar para moldagem, permitindo somente ser esquinado, o que explica as abundantes arestas. O inox é ainda difícil de soldar e mais pesado do que a folha de aço convencional, característica que a Tesla compensa ao integrá-lo no chassi, como se tratasse de um exosqueleto.
É igualmente este inox que não necessita de ser pintado, mas que pode ser revestido por uma película de vinil para lhe dar cor (tipo wrapping), que permite à Cybertruck ser anunciada pelo construtor como resistente às balas. O fabricante mostrou esta faceta da pick-up com um vídeo em que é visível um atirador disparar uma pistola e uma espingarda metralhadora contra a chapa das portas, com as imagens em câmara lenta a revelar a deformação dos projécteis no embate, mas sem perfuração.
O mais recente veículo monta ainda vidros “à prova de pedras”. Segundo a marca, todas aquelas pedras de pequenas dimensões que por vezes são projectadas contra os vidros dos veículos, laterais ou para-brisas e que tantas vezes os marcam e ocasionalmente os estilhaçam, não provocarão danos nos vidros da pick-up, com o designer da Tesla, Franz von Holzhausen, ao demonstrar que resiste a uma bola de basebol depois de, em 2019, o vidro lateral não ter resistido a uma bola de ferro.
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06144550/7-2.jpg)
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06144535/4-1.jpg)
Como ficou a pick-up em termos de habitáculo e mala?
Aproveitando a largura generosa da carroçaria, a Cybertruck oferece um habitáculo com cinco lugares, distribuição típica das cabinas duplas mas que, neste caso, é mais generosa, sobretudo para quem ocupa um dos três lugares posteriores. Algumas das melhorias introduzidas no restyling do Model 3 foram herdadas pela pick-up, nomeadamente ao nível do ecrã e da iluminação interior, sendo que as portas em inox e os vidros mais robustos contribuirão para um melhor isolamento acústico.
O volante é do tipo yoke, similar ao que é oferecido opcionalmente nos Model S, mas que aqui não apresenta as desvantagens que caracterizam o sistema da berlina. O motivo prende-se com o facto de a Cybertruck montar a primeira direcção by-wire, em vez da tradicional ligação mecânica física do volante às rodas através da coluna, caixa e tirantes da direcção. Isto permite ainda adoptar uma desmultiplicação progressiva e até adaptável à velocidade.
Não há conexão física do volante no cybertruck. O roteamento é feito via comunicação com fio. Não acreditei quando ouvi pela primeira vez. Esta é uma engenharia bastante difícil.????
por u/ilyasgnnndmr em elonmusk
Lá atrás, a caixa de carga da pick-up, que é revestida com material compósito e coberta por um sistema com accionamento eléctrico, disponibiliza 1,83 m de comprimento por 1,22 m de largura (com uma capacidade de carga de 1134 kg), sendo que no compartimento de carga existem tomadas de energia para 120V (duas) e 240V (uma). A Cybertruck está ainda equipada com o que denomina Powershare, que permite fornecer energia a uma casa ou alimentar outro veículo eléctrico. Esta pick-up é ainda o primeiro veículo produzido em série equipado com um sistema de 48V, em vez dos tradicionais 12V, o que, entre outras vantagens, permite reduzir em 70% a cablagem eléctrica dentro do veículo.
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06141805/24.jpg)
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06141800/24b.jpg)
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06141802/13.jpg)
![](https://bordalo.observador.pt/v2/q:84/rs:fill:1920:1080/c:1920:1080:nowe:0:0/plain/https://s3.observador.pt/wp-content/uploads/2023/12/06141804/14.jpg)
A Cybertruck está à vontade fora de estrada?
Não é fácil perceber se a maioria dos clientes que pré-encomendaram a Cybertruck e que agora estão na fase de confirmar (e pagar) a sua pick-up vão utilizar o seu veículo como carro de trabalho ou de lazer, mas o certo é que ambos vão submetê-lo a frequentes incursões pelo todo-o-terreno. Para isto conta com pneus de grande diâmetro (35 polegadas, ou 88,9 cm) e mistos, uma vez que serviram para bater o Porsche 911 numa pista de drag race, para de seguida lidar com o deserto do Mojave.
Tudo indica que a pick-up eléctrica se deverá sentir à vontade em estradas de terra, mesmo em zonas de mau piso e alguma trialada, uma vez que conta com suspensão pneumática nas quatro rodas. Isto não só garante o conforto, como lhe permite ser mais dura em asfalto e melhorar o comportamento em curva, para de seguida tornar-se mais macia e elevar a altura ao solo para 43,2 cm.
É certo que, sobretudo em todo-o-terreno, a autonomia diminui rapidamente, pelo que a Tesla reconhece que, mesmo com o Range Extender, é natural que os clientes tenham a necessidade de recarregar a bateria tão rapidamente quanto possível. Daí que a Cybertruck possa aceitar carga com potências até 250 kW, como os Model S, 3, X, Y, restando saber que vantagens irá retirar do facto de passar a usufruir de um sistema eléctrico a 800 volts (em vez dos actuais 400 V), o que permite reduzir a amperagem para a potência, gerando menos aquecimento.
Que versões oferece, qual o preço e a autonomia?
Os preços da Cybertruck aumentaram face ao que foi anunciado em 2019, fruto certamente das dificuldades técnicas relacionadas com a produção que o construtor teve de enfrentar. Há, de momento, três versões disponíveis da pick-up, nomeadamente a RWD (com um motor atrás e tracção traseira), a AWD (com dois motores, um por eixo e tracção 4×4) e a mais potente (antiga Tri Motor e agora denominada CyberBeast) com três motores (dois atrás) e tracção integral.
A Cybertruck RWD é proposta por 60.990 dólares, com uma autonomia de 402 km (em EPA, que deverá corresponder a mais umas dezenas de quilómetros no sistema europeu WLTP) e aparentemente a não poder recorrer à bateria extra (a aplicar na caixa de carga), que a Tesla denomina Range Extender. Anuncia ainda 180 km/h de velocidade máxima e 0-97 km/h em 6,5 segundos.
A versão AWD é comercializada por 79.990 dólares e parece ser a mais interessante e versátil. Monta dois motores, que deverão assegurar cerca de 600 cv, o suficiente para ir de 0-97 km/h em 3,9 segundos e atingir a mesma velocidade máxima, autolimitada a 180 km/h. A autonomia é de 547 km, valor que sobe para uns bem mais interessantes 756 km com recurso ao Range Extender, a bateria que se pode retirar quando não é necessária para não limitar o espaço na caixa.
À venda por 99.990 dólares, a Cybertruck de que todos falam, entre outros argumentos por ser aquela que bateu no arranque um Porsche 911 enquanto rebocava outro 911, é a CyberBeast, que foi até aqui denominada Tri Motor. Com um motor à frente e dois atrás, a potência deverá rondar 850 cv, assegurando 0-97 km/h em 2,6 segundos, valor que deverá resvalar para 2,7 segundos caso consideremos os 0-100 km/h, com a velocidade máxima a aumentar para 209 km/h. Os 3180 kg, mais 100 kg do que a versão AWD, justificam a ligeira quebra na autonomia, que passa a ser de 515 km ou de 708 km com o Range Extender. A capacidade de reboque da CyberBeast alinha pela bitola máxima e pela versão AWD, puxando 4990 kg, contra 3402 kg da versão RWD.
Neste domínio, a Tesla divulgou um vídeo e que aparece a CyberBeast num comparativo de tractor pulling, evento específico muito popular nos EUA, frente às concorrentes directas Ford F-150 Lightning e Rivian R1T, além da Ford F-350 com motor a gasóleo, tida como a referência neste tipo de exercício. A CyberBeast atingiu 96,9 metros, batendo a Ford F-350 (80,2 m), Rivian R1T (78,3 m) e Ford F-150 Lightning (63,1 m).
Veja aqui os primeiros ensaios à Cybertruck
Alguns dos jornalistas que estiveram presentes na apresentação da Cybertruck tiveram igualmente a possibilidade de figurarem entre os primeiros a conduzir a mais recente pick-up eléctrica. Entre os disponíveis, destacámos o vídeo da Top Gear: