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Peço a toda a gente que faça tudo o que for possível para acabar com esta loucura.” Um dia depois do ataque do Hamas que matou 1.200 pessoas em Israel, e perante a retaliação israelita, Meir Baruchin, professor há 30 anos, recorreu ao Facebook para expressar pesar pelas mortes em Gaza e pedir que os ataques chegassem ao fim. As declarações levaram à sua detenção, em novembro, numa cela solitária, acusado de sedição pelas autoridades israelitas. Só agora as acusações contra si foram levantadas, depois de um juiz determinar que a guerra em Gaza “não altera as fronteiras da liberdade de expressão”.

No cerne da detenção está uma série de publicações no Facebook em que Meir Baruchin, israelita e judeu, doutorado em História, lamentava o número de civis mortos em Gaza e c criticava o exército israelita. “Estão a chegar imagens horríveis de Gaza. Famílias inteiras foram dizimadas. Não costumo publicar imagens como esta, mas vejam o que fazemos por vingança”, lia-se numa publicação de 8 de outubro, acompanhada por uma fotografia da família de uma vítima do primeiro ataque em Gaza, segundo o jornal The Observer, que pertence ao The Guardian.

“Quem pensa que isto se justifica por causa do que aconteceu ontem [7 de outubro] deve deixar de ser meu amigo. Peço a toda a gente que faça tudo o que for possível para acabar com esta loucura. Parem-na agora. Não mais tarde, agora!!!”, acrescentava, na publicação.

A 20 de outubro, o professor foi demitido da escola em Petah Tikvah onde trabalhava por alegações de “má conduta”. No início de novembro, foi chamado a uma cadeia para prestar um depoimento mas, aí, acabou detido. Acompanhou a polícia a sua casa ao abrigo de um “mandado de busca” em que foram confiscados dois portáteis e seis discos rígidos. Foi, depois, colocado numa prisão de alta segurança, numa cela solitária, enquanto a polícia investigava o seu caso, por suspeitas de “revelar intenção de trair o país”, escreve o Haaretz.

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Entrei com a minha roupa vestida e fiquei com a mesma roupa durante quatro dias. Havia duches de água fria, um pequeno pedaço de sabão, dois cobertores a tresandar a fumo de cigarro e uma toalha minúscula”, relata, acrescentando: “Não me era permitido ter um livro, televisão ou qualquer outra coisa. Os guardas não podiam falar comigo e não havia janelas, por isso não sabia distinguir o dia da noite”.

Foi libertado cinco dias depois sem ser acusado. Só nesta segunda-feira, um tribunal israelita ordenou que o professor fosse reintegrado na escola que o demitiu e que fosse levantada a proibição de procurar trabalho noutras escolas. O juiz entendeu que não foi apresentado um motivo válido para a sua demissão e que a guerra em Gaza não altera “as fronteiras da liberdade de expressão dos professores”.

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Ao The Observer, antes de conhecer o veredito, Meir Baruchin — que vive atualmente de poupanças — defendeu que esta “é uma época de caça às bruxas em Israel, de perseguição política“. “Tornei-me num ‘apoiante do Hamas’ porque expressei a minha oposição a visar civis inocentes”, considera.

Esta não foi a primeira vez em que as opiniões de Meir Baruchin levaram ao seu despedimento. Segundo o jornal britânico, antes do ressurgir do conflito, há três anos, já tinha sido afastado de uma escola perto de Telaviv após expressar publicamente a opinião sobre o exército israelita.

“A maioria dos israelitas não sabem muito sobre os palestinianos. Pensam que são terroristas, todos eles, ou imagens vagas sem nomes, sem caras, sem família, sem casas, sem esperança”, afirmou o professor, citado pelo The Observer, frisando que pretende com as suas publicações retratar os palestinianos como “seres humanos”.

Segundo o The Observer, jornalistas e ativistas pelos direitos humanos têm dito que há pouco espaço para os críticos da guerra em Gaza expressarem a sua opinião. O Haaretz, num editorial, alegou que Baruchin “foi usado como uma ferramenta política para enviar uma mensagem política“. “O motivo da sua detenção foi a dissuasão — silenciar qualquer crítica ou qualquer indício de protesto contra a política israelita”.

Outros professores também estarão a ser perseguidos por expressarem as suas opiniões. A diretora de uma escola secundária em Televiv, Yael Ayalon, também foi afastada do cargo depois de publicar um artigo no Haaretz onde acusava os meios de comunicação social israelitas de esconderem o sofrimento dos civis em Gaza. O comentário valeu-lhe críticas e ataques diretos dos estudantes da escola.