A Sociedade do Cuidado, do Centro de Estudos e Povos e Culturas de Expressão Portuguesa, da Universidade Católica de Lisboa, juntou 100 pessoas de várias organizações — de órgãos concelhios, juntas de freguesias, organizações e investigadores –, de todas as regiões do país, e pediu-lhes para avaliarem diferentes respostas sociais, que vão desde o risco de pobreza aos serviços de saúde, em dois momentos diferentes: em março e em outubro do ano passado. O objetivo foi perceber a evolução da perceção destas 100 pessoas e as conclusões, divulgadas esta quarta-feira, são negativas para a resposta dos serviços saúde — o único indicador a piorar no período de seis meses.

A resposta das pessoas [que responderam ao inquérito] compromete as pessoas e não as organizações. Por exemplo, se tivermos uma câmara municipal, existe um vereador para a área social e é esse que vai responder ao inquérito”, sempre a nível pessoal — e não da instituição ou organismo a que pertencem —, explicou José Sousa Fialho, responsável pelo projeto, ao Observador.

Os investigadores da Universidade Católica criaram um índice para mapear o risco de pobreza, apoio à população envelhecida e socialmente carenciada, coesão e inclusão social, promoção da equidade, qualidade das respostas sociais, qualidade das respostas do sistema de saúde, combate à violência doméstica e igualdade de género. E, numa escala de 0 a 20, os inquiridos consideraram que, entre março e outubro de 2023, a área da saúde apresentou uma queda de 9,6 para 9,4 pontos, “uma tendência refletida na atual crise do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”, refere o estudo.

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Quando a análise é feita nas seis regiões portuguesas, é também possível perceber que todas as respostas sociais em análise se revelam mais insuficientes e piores na região do Algarve. Aqui, mais uma vez, a saúde revela a pior perceção de desempenho, seguida da promoção da equidade e inclusão social. “O índice de pobreza no Algarve é mais elevado do que nas restantes regiões”, explica José Sousa Fialho, o que poderá ajudar a perceber os problemas identificados pelos inquiridos. “A situação é grave”, acrescenta.

Logo a seguir ao Algarve, aparece a Região Autónoma dos Açores, sobretudo “em dimensões como o apoio à família, o reforço da coesão social, inclusão social e promoção da equidade”. A região de Lisboa surge em terceiro lugar.

Perspetivas para 2024 são negativas

Além de esta avaliação servir para que possam vir a ser tomadas, por exemplo, medidas a nível governamental — no que diz respeito às respostas sociais –, um dos objetivos dos investigadores da Católica é avaliar estas dez temáticas de seis em seis meses, para que seja possível ter uma noção da evolução, que pode ser positiva ou negativa.

Em outubro, os investigadores pediram também aos 100 inquiridos uma previsão para os seis meses seguintes. Ou seja, como é que achavam que estariam aqueles dez indicadores em março deste ano. Melhor ou pior?

“O indicador prevê que exista um declínio acentuado de 10,58, em outubro de 2023 para 8,96, em março de 2024”, revela o estudo. Esta tendência, acrescentam os especialistas, “poderá resultar no aumento do risco de pobreza, no declínio da qualidade da resposta dos sistemas de saúde, na deterioração da coesão e da inclusão social e na redução do apoio à população envelhecida e socialmente carenciada“.

Daqui a menos de dois meses, a Sociedade do Cuidado volta a pedir às mesmas 100 pessoas uma nova avaliação e os dados serão também comparados com as respetivas perceções que tinham há seis meses.