O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, inaugurou esta segunda-feira o Ram Janmabhoomi Mandir, o templo em homenagem ao deus hindu Ram, na cidade de Ayodhya, na Índia. O ambiente de festa tem sido boicotado por opositores e pelo medo que a tensão religiosa entre hindus e muçulmanos desencadeie motins como os de 1992, que mataram milhares pessoas, já que foi erguido onde estava uma mesquita.

O templo, que deverá ficar completo no final do ano, vem cumprir uma promessa feita há 35 anos pelo Partido Bharatiya Janata, nacionalista hindu de Modi. Mais de três décadas depois, esta inauguração leva os rivais políticos a afirmar, segundo a BBC, que o primeiro-ministro indiano está a utilizar o templo para ganhar votos — uma vez que 80% da população da Índia é hindu — para as eleições gerais previstas para maio.

“Toda a Índia está repleta de alegria e emoção devido à consagração de Shri Ram Lala em Ayodhya Dham”, escreveu Modi numa publicação na rede social X. A celebração, que juntou milhares de pessoas — entre elas personalidades do desporto, política e cinema — naquele que se acredita ser o local de nascimento do deus hindu, foi transmitida em direto na televisão, numa tentativa de o primeiro ministro evitar a aglomeração de pessoas em Ayodhya. Foram também destacados milhares de polícias para garantir a segurança e controlar as estradas daquela cidade indiana.

A transmissão mostrou assim Modi a realizar rituais religiosos no interior do santuário do templo: entoou versos hindus antes de depositar pétalas de flores aos pés da estátua do deus Ram e juntou as palmas das mãos em oração. Na rua, dos céus caíam pétalas lançadas por um helicóptero militar.

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“Este é um momento de grande orgulho para todos os hindus”, disse um popular, citado na Reuters. “O nosso senhor sofreu muito. Ficou em tendas, enfrentou o calor, o frio e as chuvas”, acrescentou, referindo-se às estruturas que estiveram anteriormente naquele local. “Agora o nosso deus vai finalmente instalar-se no seu palácio”.

No entanto, a cerimónia não agradou a toda a população, com alguns dos principais religiosos a afirmarem que, uma vez que o templo ainda não está concluído — foi apenas inaugurado o primeiro piso —, era contra o hinduísmo realizar rituais no local.

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E a maioria dos muçulmanos, assim como Modi, temem que se repita a violência religiosa vivida há mais de 30 anos. No local onde nasce agora o templo Ram estava antes a mesquita Babri Masjid, do século XVI, que, em 1992, foi destruída por multidões de nacionalistas hindus.

Estes acreditavam que a mesquita tinha sido construída por invasores muçulmanos em cima das ruínas de um templo de Ram. A demolição desencadeou motins a nível nacional que matarem cerca de 2.000 pessoas.

Depois de a mesquita Babri Masjid ter sido destruída, seguiu-se uma batalha legal sobre a propriedade do terreno que só terminou em 2019 quando o Supremo Tribunal da Índia o atribuiu aos hindus. Os muçulmanos receberam um terreno fora de Ayodhya para construir uma mesquita que ainda não avançou.

Para esta população minoritária, a celebração do templo Ram — cuja construção teve o valor de 199 milhões de euros, de donativos privados — é um sinal claro de como os muçulmanos estão a ser marginalizados sob a liderança do Partido Bharatiya Janata. À CNN Internacional, Maulana Badshah Khan, um muçulmano de 65 anos, confessou que “as feridas da demolição da mesquita de Babri vão estar sempre presentes. Mesmo que nos sintamos desanimados em expressá-las”. “O templo tem o valor simbólico de mostrar aos muçulmanos o seu lugar na Nova Índia”, acrescentou.

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A cidade de Ayodhya tem sido alvo de transformação nos últimos meses de forma a responder à afluência esperada, de mais de 150 mil visitantes por dia, quando o templo estiver totalmente pronto.

Nas últimas semanas, um novo aeroporto e uma nova estação de comboios foram inaugurados, assim como vários novos hotéis. Segundo a BBC, as autoridades dizem que estão a construir uma “cidade de classe mundial onde as pessoas vêm como peregrinos e turistas”, no entanto, muitos dos habitantes locais denunciaram que, para expandir as estradas e criar novas instalações, as suas casas, lojas e “estruturas de natureza religiosa” foram total ou parcialmente demolidas.