A assembleia-geral extraordinária (AG) de acionistas da Global Media foi marcada para 19 de fevereiro, com cinco pontos, entre eles a destituição do atual Conselho de Administração e um aumento de capital de cinco milhões de euros.

Esta assembleia é convocada num contexto e que a empresa dona dos jornais DN, JN, Jogo e da TSF, tem salários em atraso e vários administradores se demitiram. A destituição visa em particular o presidente executivo José Paulo Fafe que foi escolhido pelo Word Opportunitty Fund (WOF). O fundo que entrou há poucos meses está em conflito aberto com os outros acionistas.

Esta informação consta da convocatória para reunião magna a pedido dos acionistas KNJ Global – Holdings Limited e de José Pedro Soeiro, a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira. De fora da convocatória está Marco Galinha, o acionista cuja maior participação na Global Media é exercida através da Páginas Civilizadas. Esta empresa, controlada pelo fundo, poderá ver os seus direitos de voto na Global Media congelados por um procedimento do regulador da comunicação na sequência da insuficiente informação sobre quem são os últimos beneficiários do WOF.

ERC recebeu “respostas de vários acionistas da Global Media” que ainda está a analisar

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A AG extraordinária está marcada para as 11h00 de 19 de fevereiro e tem cinco pontos na ordem de trabalhos, entre os quais proceder à apreciação da situação económica e financeira da sociedade e à “apreciação da administração da sociedade e deliberar sobre a destituição do atual Conselho de Administração, com ou sem justa causa”.

Outro dos pontos é eleger o novo Conselho de Administração e o novo Conselho Fiscal “para o período em falta no mandato”, lê-se na convocatória.

O quinto e último ponto é “deliberar sobre a proposta de aumento de capital da sociedade no montante de 5.000.001.59 euros, por novas entradas de dinheiro, a realizar pelos acionistas da sociedade, no prazo que vier a ser fixado pela assembleia-geral, com respeito pelo seu direito de preferência nos termos legais e consequente alteração dos números 1 e 2 do artigo 4.º dos estatutos da sociedade”.

“Considerando grave a situação de instabilidade financeira e laboral que vem afetando a Global Notícias — Media Group, com dificuldades de tesouraria, salários em atraso e greves de trabalhadores, a que se somam sucessivas demissões de membros dos seus Conselho Fiscal e de Administração, reflexo do evidente esgotamento da capacidade da atual gestão executiva para encontrar as melhores soluções para o futuro da sociedade, vimos (…), enquanto acionistas titulares de 1.241.559 ações, correspondentes a 49,75% do respetivo capital social” solicitar a “urgente convocação de uma assembleia geral”, lê-se na carta que a KNJ e José Pedro Soeiro enviaram a pedir a reunião magna a que a Lusa teve também acesso.

Delegados sindicais da Global Media surpreendidos e indignados com data da assembleia-geral

Em reação, através de carta dirigida aos acionistas, os delegados sindicais da Global Media afirmam que “receberam com surpresa e indignação a notícia de que a assembleia-geral para destituição da atual Comissão Executiva do Global Media Group foi marcada apenas para o dia 19 de fevereiro”, referindo que “a vida e os postos de trabalho de todos os trabalhadores do grupo não se compadecem com mais atrasos”.

Perante isto, “os delegados sindicais questionam a administração se tenciona cumprir com as suas obrigações a breve prazo e até final deste mês: o pagamento do salário de dezembro e do subsídio de Natal, bem como o salário de janeiro, alguns subsídios de férias e as prestações aos colaboradores relativas ao trabalho efetuado em novembro”, lê-se no documento.

Lembram ainda que, “impossibilitados de fazer face às suas despesas pessoais, muitos trabalhadores do Global Media Group já pediram a suspensão do contrato de trabalho e outros vão entrar em greve por tempo indeterminado a partir do dia 1 de fevereiro, atitudes limite a que foram obrigados perante as circunstâncias e sabendo que colocam em causa os próprios títulos onde trabalham”.

Os delegados sindicais “estranham que, depois de já terem sido enviadas dezenas de cartas com o pré-aviso de suspensão do contrato de trabalho, se atire para 19 de fevereiro esta assembleia-geral”. Além de “adensar as preocupações dos trabalhadores, parece revelador de que não há uma preocupação extrema desta administração com o facto de os títulos deixarem de estar em banca e de os respetivos ‘sites’ entrarem em estado vegetativo, por única e exclusiva responsabilidade sua”, referem.

Face a isto, “os delegados sindicais exigem à administração que assuma uma atitude mais célere para resolver os problemas que desgastam há demasiados meses este grupo e todos os que se têm esforçado, agora em regime de voluntariado, para não deixá-lo morrer”, afirmam. “Basta de silêncio cúmplice. Obrigar jornalistas a recorrer a um fundo solidário para comer é indigno”, rematam.

De acordo com a informação da ERC, a participação efetiva da Páginas Civilizadas na GMG é de 50,25% do capital e dos direitos de voto. Esta posição é calculada a partir da soma da detenção direta de 41,51% e da indireta, através da Grandes Notícias Lda, de 8,74%. O fundo WOF tem uma participação de 25,628% do capital social e dos direitos de voto da GMG.

Por sua vez, o Grupo Bel, de Marco Galinha, diretamente e através das suas sociedades Norma Erudita, Lda., e Palavras de Prestígio, Lda., detém uma participação efetiva de 24,623% do capital social e dos direitos de voto da dona do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), TSF, O Jogo, Dinheiro Vivo, Açoriano Oriental, entre outros. A KNJ, de Kevin Ho, detém 29,350% e José Pedro Soeiro 20,400%. Resumindo, a Global Media é detida diretamente pela Páginas Civilizadas (41,510%), KNJ (29,350%), José Pedro Soeiro (20,400%) e Grandes Notícias (8,740%).

Na semana passada, o World Opportunity Fund, que tem o controlo de gestão da GMG, informou da sua indisponibilidade em transferir dinheiro para pagar os salários em atraso até uma decisão do regulador ERC e de um alegado procedimento cautelar. Em 6 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”. Em 21 de setembro, o WOF adquiriu uma participação de 51% na empresa Páginas Civilizadas.

*Notícia atualizada às 21h35 com a reação dos delegados sindicais da GM