O presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) admitiu que “poderá haver falta de polícias” para assegurar as eleições legislativas de 10 de março. Em entrevista à CNN Portugal, Armando Ferreira falou sobre  esse cenário, tendo em conta os acontecimentos desta tarde no jogo Famalicão-Sporting. A falta de agentes das forças policiais — com os que foram destacados a apresentarem baixas médicas — levou ao adiamento da partida. No exterior do estádio, houve confrontos entre adeptos e registo de seis feridos.

“A verdade é que ninguém estava à espera do que aconteceu hoje”, disse durante a entrevista Armando Ferreira. “Começamos a temer que se para hoje houve falta de polícias, poderá haver falta de polícias para 10 de março, porque os boletins de votos são transportados pelas forças de segurança e as urnas de voto também“, explicou o presidente do sindicato.

Questionado sobre se há possibilidade de substituição dos polícias no transporte de urnas de voto, o dirigente respondeu negativamente. “Que eu saiba não”. De qualquer forma, reforçou que a esperança de que a falta de efetivos não aconteça nas eleições, mas admitiu que não é possível “descartar” a hipótese. “E temos de alertar o Governo para o que pode acontecer.”

Pouco depois destas declarações terem sido feitas, o Ministério da Administração Interna (MAI) anunciou, através de um comunicado, que vai abrir um “inquérito urgente” às “generalizadas e súbitas baixas médicas apresentadas por polícias” que estavam destacados para Famalicão, mas também “às declarações de sindicalista sobre a atividade da PSP no contexto dos próximos atos eleitorais”. 

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Governo abre “inquérito urgente” a policiamento em Famalicão

Armando Ferreira lembrou que não tem controlo sobre os colegas, falando em “iniciativas inorgânicas que começam a perder o controlo”, atribuindo responsabilidade à inação e “teimosia” do Governo pelo extremar de posições. “O Governo extremou as posições de tal maneira com a sua teimosia que os polícias neste momento estão predispostos a fazer o que estão a fazer”. O presidente do SINAPOL lamentou ainda que o executivo “esteja a ver um pilar da democracia a desmoronar-se e a não fazer nada”, transmitindo que não “tem mão” nos colegas.

O dirigente mencionou as manifestações de polícias em Lisboa, a 24 de janeiro, e no Porto, a 31 de janeiro, que juntaram milhares de pessoas, mas que “parece que o Governo não quis ouvir os gritos de revolta dos polícias”.

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“A verdade é que os sindicatos têm tentado por todas as formas, e as associações também, tanto sindicatos da PSP como associações da GNR, a que as coisas sejam feitas dentro dos princípios basilares da democracia e o que são as linhas vermelhas do que se pode e não se pode fazer.” Mas nem assim o executivo “tem escutado as forças de segurança”. “Obviamente nada disto é o que os sindicatos desejariam que estivesse a acontecer”, admitiu.

“O Governo tem feito ouvidos moucos ao que os polícias dizem”, garantiu, “não tem dado resposta às solicitações dos polícias”. “Não está a saber responder à altura de um Governo competente para resolver um problema que é grave – prova disso foi o jogo hoje em Famalicão.”

Na entrevista, Armando Ferreira reconheceu que “começa a cair em descrédito o movimento sindical e associativo por culpa do próprio Governo. Quem está a criar o monstro, quem está a criar a besta é o próprio Governo.”

Armando Ferreira diz estar “completamente tranquilo”

À Rádio Observador, já após o anúncio da abertura do inquérito urgente por parte do Ministério da Administração Interna, Armando Ferreira, do SINAPOL, disse estar “completamente tranquilo”. O inquérito quer analisar as baixas de doença apresentadas pelos agentes destacados no jogo Famalicão-Sporting. “É uma amostra dos perigos do que pode acontecer no futuro. Isto tudo não é obra dos sindicatos, não são os sindicatos que estão por trás disto, são os polícias que já chegaram a um ponto em que agem por iniciativa própria.”

Em relação à possibilidade de falta de polícias para as eleições legislativas de 10 de março, o presidente do SINAPOL disse à Rádio Observador que “é preciso clarificar” que as declarações “foram da máxima transparência possível.”

“O que foi dito por mim — e que repito — é que há o risco de isto [falta de polícias] poder acontecer nas eleições. São os polícias que transportam as urnas e que transportam os boletins de voto e que obviamente o Governo tem de estar atento ao que se está a passar.”

“Da minha parte, estou completamente tranquilo. Não é algo que tenha anunciado, que esteja a defender que tem de acontecer. No entanto, a realidade é só uma: a partir do momento em que vemos o que aconteceu hoje, tudo pode acontecer. E é isso que o Governo parece não querer entender.”

Sindicato Nacional de Oficiais de Polícias critica “silêncio” e “apatia” do Governo

Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícias, também comentou à CNN Portugal os acontecimentos do jogo de futebol em Famalicão, declarando que “quatro semanas de silêncio e apatia do Governo levaram” a este ponto.

O responsável deste sindicato considera que “não é uma questão orçamental, é uma questão política” que leva o Governo a não agir para responder aos pedidos dos polícias.

(Atualizado às 23h59 com declarações de Armando Ferreira à Rádio Observador)