Foi quase como o regresso a uma “normalidade” que parecia perdida algures entre a competitividade que tem a Premier League e um momento menos conseguido da temporada. Ainda em dezembro, no intervalo do jogo com o Luton, Pep Guardiola corria o risco de ter a pior série de sempre sem ganhar numa liga entre Espanha, Alemanha e Inglaterra. Tinha empatado com o Chelsea depois de ter estado a ganhar, tinha empatado com o Liverpool depois de ter estado a ganhar, tinha empatado com o Tottenham depois de ter estado a ganhar, tinha perdido com o Aston Villa na partida em que teve maior desvantagem estatística no final dos 90 minutos. Nessa partida, fruto de um golo nos descontos da primeira parte, encontrava-se mais uma vez em desvantagem. Bernardo Silva e Jack Grealish, numa reação que valeu mais pelo resultado do que pela exibição, conseguiram a reviravolta. Ainda houve mais um deslize caseiro frente ao Crystal Palace com o encontro controlado mas não mais o Manchester City voltou a sair do habitual rumo de vitórias seguidas.

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Uma, duas, mais um troféu conquistado (neste caso o Mundial de Clubes, depois de goleadas a Urawa Red Diamonds e Fluminense), três, cinco, oito. Depois da tempestade chegou mesmo a bonança ao Etihad, com a particularidade de a retoma ter sido conseguida em paralelo com a ausência de Erling Haaland e o paulatino regresso à competição de Kevin de Bruyne. Mesmo sem Bola de Ouro ou prémios The Best, o norueguês é um dos melhores jogadores da atualidade e as notícias continuam a surgir sobre um alegado interesse do Real Madrid em contratar o avançado tendo em vista a renovação total de um plantel habituado a ganhar em termos europeus e que conta agora com uma nova geração a preparar-se para assumir a batuta.

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“Por uma peça, por um jornalistas, por uma conta do Twitter ou do Instagram, acreditas que isso vai mudar alguma coisa em relação ao que se vai passar? Não, não vai acontecer. Pode acontecer quando Haaland decida ou não renovar, quando o clube decida ou não renovar, quando tenhamos ou não potenciais ofertas… Se alguém quer o Haaland, fácil: agarra no telefone e liga ao City. É o que fazemos quando queremos alguém, tão simples como isso”, comentou o técnico espanhola antes do jogo dos citizens diante do Brentford, que poderia promover mais uma aproximação ao primeiro lugar (com o ponto relevante de vitórias nos encontros em atraso já valerem nesta fase liderança depois da derrota do Liverpool com o Arsenal).

“Futuro aqui? O que é que achas, que não queremos que o Erling fique connosco uma década inteira? Honestamente… Queremos que fique muito tempo neste clube, estamos apaixonados por ele. É normal que Real Madrid, Barcelona, equipas italianas ou o PSG queiram os melhores jogadores. Nós também queremos os melhores, assim como o United, o Liverpool ou o Arsenal. É normal, não existe surpresa nisso. Não sei se o interesse nele é real ou não, se é só ruído. Ignoro isso, desde que os jogadores estejam concentrados no que têm de fazer, o resto não é importante. É uma honra que os grandes clubes queiram os nossos jogadores mas no final são eles que decidem”, acrescentou Guardiola a esse propósito. De regresso à titularidade dois meses depois, o norueguês não marcou mas assistiu no triunfo por 3-1 com um hat-trick de Phil Foden onde apareceu também Kevin de Bruyne a regressar ao seu melhor momento com intervenção direta no resultado. Cinco meses depois, os dois jogadores que mais desequilibram foram titulares e notou-se logo a diferença.

A partida começou com um grande herói improvável que durante meia hora tomou por completo conta dos acontecimentos: Mark Flekken. Contratado esta época ao Friburgo para o lugar de David Raya, o guarda-redes neerlandês de 30 anos travou tudo o que havia e não havia para travar entre dois remates colocados de Julian Álvarez e mais uma “bomba” de fora de Kyle Walker. Tudo se passava no meio-campo do Brentford mas nem por isso a parte do terreno do Manchester City ficava sem dono. Aliás, bastou um “aluguer” para o primeiro golo: Flekken bateu longo um pontapé de baliza, Ivan Toney “bloqueou” Nathan Aké e Maupay, emprestado pelo Everton, foi por ali fora fazer o quinto golo em cinco jogos consecutivos (21′). Haaland ainda teve a possibilidade de empatar pouco depois surgindo sozinho na área, Gvardiol também arriscou de fora de pé direito mas o Manchester City continuou a bater no bloco baixo dos visitados sem sucesso.

Um dos calcanhares de Aquiles do conjunto de Pep Guardiola voltava a aparecer, com a equipa a começar em desvantagem um encontro pela oitava vez esta temporada contra sete em toda a última época. No entanto, havia um outro registo em risco: nunca o técnico espanhol tinha perdido por três vezes consecutivas com a mesma equipa, depois dos desaires em 2022/23 no Etihad (2-1) e no Community Stadium (1-0). E mais um “problema”, grande, entre os postes do Brentford. Flekker até correu o risco de dar um “frango” num remate de Phil Foden que lhe escapou para o lado mas teve outra defesa fantástica a um tiro de Kevin De Bruyne em cima do intervalo mas ainda havia algo mais a contar nos descontos, com Pinnock a cortar para zona proibida na área e Phil Foden a surgir de trás para fazer o empate sem hipóteses para o neerlandês (45+3′).

Voltava tudo à estaca zero, com Guardiola a ter a possibilidade de fazer correções no posicionamento da sua equipa durante o intervalo para desfazer o jogo sem bola aguerrido do Brentford. Fez e ganhou o jogo com isso, começando a soltar mais De Bruyne a descair mais sobre a esquerda a “permitindo” que o génio belga saísse da lâmpada com uma assistência para Foden fazer o 2-1 no espaço onde por norma costuma estar Haaland, que tinha arrastado consigo os centrais (53′). Os visitados tinham de abrir um pouco mais o encontro para arriscarem o empate mas acabou por ser o Manchester City a dar prolongamento à grande fase que atravessa, com Haaland a segurar pelo meio e a assistir Phil Foden para o hat-trick que deu o 3-1 (70′).