Shelly-Ann Fraser-Pryce leva a missão de ser mãe muito a sério. A duas vezes campeã olímpica nos 100 metros, em Pequim e Londres, participou na corrida entre as encarregadas de educação da escola do filho e surpreende um total de zero pessoas que tenha vencido por larga margem.

Conhecida como Foguete de Bolso (Pocket Rocket), por ser mais rápida do que propriamente alta, a velocista jamaicana é o reflexo do que a sua própria mãe, que a ensinou a correr para longe dos problemas, foi consigo. Fraser-Pryce descreve Waterhouse, o sítio onde cresceu, como “uma das comunidades mais pobres da Jamaica”, conhecida por ser um “lugar violento, com sobrepopulação, onde as crianças têm filhos e com muito crime”. Apesar da descrição que fez ao The Telegraph em 2009, Fraser-Pryce nunca foi apanhada pelas circunstâncias que a rodeavam. Culpa de Maxine, a mãe solteira que sempre a protegeu. “Não me tornei apenas mais uma estatística de Waterhouse, mas sim em alguém que elevou a comunidade, que mostrou que algo, bom pode vir de qualquer sítio da Jamaica, até mesmo de um gueto”.

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Também Maxine foi velocista, mas, ao contrário de Shelly-Ann, que se tornou numa das mulheres mais rápidas do mundo com feitos que tornam inevitáveis as comparações com Usain Bolt, tinha dificuldades em dar o que comer à filha mesmo que se dedicasse à venda ambulante ao mesmo tempo que tentava uma carreira desportiva.

Shelly-Ann herdou a rapidez, sendo que nos genes vinha também a vontade acérrima de não falhar como mãe. Desde que fez uma pausa na carreira entre 2017 e 2018 para dar à luz Zyon, o filho a quem se pretende dedicar por completo e que a levou a anunciar que vai terminar a carreira depois dos Jogos Olímpicos de Paris aos 37 anos, tem sido uma constante companhia. “O meu filho precisa de mim”, justificou à revista Essence. “O meu marido sacrificou-se por mim. Somos parceiros, uma equipa. É por causa desse apoio que consigo fazer as coisas que tenho feito ao longo de todos estes anos. Acho que agora lhes devo isso”.

Fraser-Pryce é facilmente reconhecível quando entra em pista. Acima de tudo, porque é muitas vezes a primeira a chegar ao final, mas também pelas flagrantes perucas coloridas que a acompanham. “É como se as minhas perucas fossem um super-poder e eu fosse capaz de entrar numa personagem, como se me sentisse invencível”, disse ao Daily Mirror. Foi com um rabo de cavalo amarelo na raiz e laranja nas pontas que, na última edição dos Jogos, em Tóquio, arrecadou a medalha de prata nos 100 metros e a de ouro na estafeta dos 4x100m.

A favorita, a campeã e a outsider deram três medalhas à Jamaica em menos de 11 segundos – e a única surpresa foi a ordem no pódio

Ao todo, são oito medalhas (as mesmas que Usain Bolt, embora, no caso do compatriota, todas sejam de ouro) nas quatro edições dos Jogos Olímpicos em que participou. Caso suba ao pódio em Paris, para onde já está apurada por ter cumprido a marca de qualificação, Fraser-Pryce vai-se tornar na atleta (homem ou mulher) mais medalhada de sempre da Jamaica. Em Mundiais de atletismo, a velocista colecionou 15 medalhas, sendo que apenas a norte-americana Allyson Felix conseguiu mais.

Fraser-Pryce é uma forte candidata a vencer a prova dos 100 metros em Paris. No mês de agosto de 2023, conseguiu em Budapeste a quarta melhor marca do ano (10.77) atrás de Shericka Jackson (10.65), Sha’Carri Richardson (10.65) e Marie-Josée Ta Lou (10.75).