Uma das sete pessoas acusadas de matar um adepto junto ao Estádio do Dragão, no Porto, durante os festejos do título, em maio de 2022, pediu esta quinta-feira desculpa à família da vítima no início do julgamento.

“Queria pedir desculpa à família do Igor [vítima mortal] e aos envolvidos pelo desfecho e pela perda de uma vida humana. Foi uma desgraça”, disse Renato Gonçalves, filho de Marco Gonçalves — conhecido como Marco `Orelhas´— igualmente arguido no processo no arranque do julgamento, que começou esta quinta-feira no Tribunal São João Novo, no Porto, sob fortes medidas de segurança, e que negou o crime.

O arguido de 21 anos, que está acusado de homicídio qualificado, afirmou ainda querer cumprir o seu castigo e que se faça justiça. Perante esta declaração, a juíza do coletivo disse esperar que esta situação sirva de lição a todos os arguidos, independentemente do desfecho do julgamento. “As desgraças podem acontecer, mas se as podermos evitar. Mas ainda bem que está ciente”, referiu.

Já Marco “Orelhas” assegurou não ter assistido ao homicídio. “Juro por tudo que não vi o Igor [vítima mortal] a ser esfaqueado”, afirmou. Dizendo querer dizer toda a verdade em tribunal, o arguido, em prisão preventiva, afirmou que a vítima mortal, de 26 anos, era conhecida por “fazer mal às pessoas”. “Todos os bairros o receavam e tinham medo dele”, referiu, acrescentando que Igor Silva era ainda conhecido por usar facas, pistolas e causar distúrbios por onde passava.

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Marco Gonçalves explicou que não tinha relação com Igor Silva e que as desavenças começaram quando este agrediu a filha, também arguida no processo por ofensas à integridade física, altura em que apresentou queixa contra ele na polícia.

Além disso, o suspeito adiantou que, na noite do crime, estava a trabalhar e foi para as imediações do Estádio do Dragão depois da mulher, igualmente arguida no processo por ofensas à integridade física, lhe ter ligado para ir ter às imediações daquele espaço porque Igor estava lá e tinha provocado a família. Lá chegado e no meio da multidão, Marco “Orelhas” contou ter levado duas facadas da vítima mortal nas costas, acabando por fugir sem saber o que se passou a partir daí.

Além destes sete arguidos acusados de matar um adepto junto ao Estádio do Dragão, um outro, inicialmente indiciado pelo mesmo crime e despronunciado na fase de instrução, responde por um crime de ameaça.

Com 28 testemunhas arroladas, o julgamento tem ainda mais quatro arguidos, três dos quais acusados de ofensas à integridade física de uma jovem e um de detenção de arma proibida.

Segundo a acusação, consultada pela Lusa, desde o início de 2022 que cinco dos 12 arguidos, três dos quais acusados de homicídio qualificado e em prisão preventiva, mantinham um clima de conflito com a vítima motivado por agressões entre eles e familiares.

A 8 de maio de 2022, cerca das 02h00, durante os festejos do título de campeão nacional de futebol conquistado pelo FC Porto, alguns dos arguidos envolveram-se numa acesa troca de palavras com a vítima mortal, junto ao Estádio do Dragão, sustenta.

E, acrescenta a acusação, motivados por um desejo de vingança, alguns dos suspeitos perseguiram, manietaram e agrediram a vítima com o propósito de lhe tirar a vida, agredindo-o a socos, murros e pontapés e usando uma faca com uma lâmina de cerca de 15 a 20 centímetros.

Nessa sequência, a vítima mortal, de 26 anos, foi esfaqueada várias vezes em diferentes partes do corpo e, apesar de ainda ter sido transportada para o Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, acabou por morrer, refere.

*Notícia atualizada às 21h47 com o depoimento de Marco “Orelhas”