Um dos grandes pensadores do último século, Edgar Morin mostra-se “simultaneamente perplexo e indignado com o facto de aqueles que representam os descendentes de um povo que foi perseguido durante séculos, por razões religiosas ou raciais, serem hoje os decisores do Estado de Israel. Que este povo [Israel] possa não só colonizar um povo [Palestina] inteiro, expulsando-o em parte da sua terra e querendo expulsá-lo definitivamente, mas que, após o massacre de 7 de outubro, se tenha lançado numa onda de violência massiva da população de Gaza, e continue a fazê-lo, atingindo civis, mulheres e crianças”.

O sociólogo e filósofo francês, de 102 anos, pronunciou-se no âmbito do Festival du livre africain de Marrakech, FLAM, em Marraquexe, que decorreu entre 8 e 11 de fevereiro, mas só nos últimos dias é que o discurso viralizou online, em particular na rede social X e no Tik Tok.

E continua: “Ver o silêncio do mundo, o silêncio dos Estados Unidos, protetor de Israel, o silêncio dos Estados arábes, os Estados europeus, que dizem defender a cultura, a humanidade e os direitos humanos… Creio que vivemos uma tragédia horrível porque estamos impotentes com o que está a acontecer”. Segundo Morin, “o testemunho é a única coisa que nos resta. Se não podemos resistir de maneira concreta, resistamos na nossa mente. Não nos deixemos enganar, não nos esqueçamos, tenhamos a coragem de ver as coisas que temos à nossa frente e vejamos o que podemos fazer para continuar a dar o nosso testemunho”.

Edgar Morin nasceu em Paris, filho de pais judeus sefarditas, e combateu na resistência à ocupação nazi durante a II Guerra. Em setembro, esteve na Fundação Oriente, em Lisboa, a convite da Comissão Empresarial da CPLP e falou sobre o estado do mundo. A intervenção do filósofo em Portugal está disponível na íntegra no Youtube.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR