Foi há apenas uma semana, na Luz, que o Benfica deixou um estádio inteiro mais satisfeito com o resultado do que com a exibição. Os encarnados venceram o Toulouse com dois penáltis de Di María, salvaram a vantagem na eliminatória europeia no último fôlego da primeira mão e procuraram olhar de imediato para o dia seguinte — mas ninguém se esqueceu de que os franceses foram superiores em muitos momentos do jogo.

Ainda assim, a equipa de Roger Schmidt soube espantar fantasmas no fim de semana ao golear o Vizela e aproveitar uma avalanche de golos para conquistar um boost de motivação para a segunda mão do playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa. Esta quinta-feira, em França, os encarnados só precisavam de um empate para carimbar o apuramento para a próxima fase e mudar desde já o chip para a próxima jornada do Campeonato e as meias-finais da Taça de Portugal contra o Sporting. Mas Roger Schmidt tinha noção de que jogar para os serviços mínimos poderia ser perigoso.

Ficha de jogo

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Toulouse-Benfica, 0-0 (1-2 no conjunto das duas mãos)

Playoff de acesso aos oitavos de final da Liga Europa

Stadium de Toulouse, em Toulouse (França)

Árbitro: Maurizio Mariani (Itália)

Toulouse: Guillaume Restes, Mikkel Desler (Warren Kamanzi, 30′), Rasmus Nicolaisen, Logan Costa, Moussa Diarra (Kévin Keben, 23′), Stijn Spierings, Vincent Sierro, Aron Dønnum, Yann Gboho (Shavy Babicka, 80′), Gabriel Suazo (Frank Magri, 80′), Thijs Dallinga

Suplentes não utilizados: Álex Domínguez, Justin Lacombe, Ibrahim Cissoko, César Gelabert, Niklas Schmidt, Naatan Skyttä, Cristian Cásseres Jr.

Treinador: Carles Martínez Novell

Benfica: Trubin, Alexander Bah, António Silva, Otamendi, Morato (Álvaro Carreras, 45′), João Neves, João Mário, Di María (Kökçü, 85′), Rafa, David Neres (Fredrik Aursnes, 68′), Tengstedt (Arthur Cabral, 45′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, André Gomes, Tomás Araújo, Florentino, Benjamín Rollheiser, Tiago Gouveia, Marcos Leonardo

Treinador: Roger Schmidt

Golos: nada a registar

Ação disciplinar: cartão amarelo a Aron Dønnum (15′), a Gabriel Suazo (74′), a Warren Kamanzi (83′), a Alexander Bah (83′)

“Em primeiro lugar, espero um jogo difícil, duro. A segunda mão de uma fase a eliminar é sempre diferente, porque ambas as equipas sabem que no final do jogo há uma decisão e uma delas continua e a outra fica de fora. Claro que temos muita motivação para continuar nesta competição, mas o Toulouse também. Jogamos fora, vencemos a primeira mão e isso torna a abordagem um pouco diferente, em particular para o adversário, porque precisa de marcar para continuar em prova. Terão de arriscar um pouco mais. Veremos se o fazem desde o início. Acreditamos em nós, vamos tentar jogar o nosso futebol. Queremos mostrar que merecemos continuar em prova”, disse o treinador encarnado na antevisão da partida.

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Neste contexto, em França, Roger Schmidt surpreendia ligeiramente e mantinha algumas das alterações que tinha apresentado no jogo contra o Vizela: ou seja, João Mário no meio-campo, David Neres e Tengstedt no onze e Kökçü, Aursnes e Arthur Cabral no banco, com António Silva e Di María a regressarem ambos às opções iniciais depois de terem sido suplentes no fim de semana. Já João Neves, que perdeu a mãe durante a semana, era titular e atuava com um fumo negro no braço esquerdo. Do outro lado, sem o castigado Christian Mawissa por ter sido expulso na Luz, Carles Martínez Novell mantinha o onze inicial que lançou há uma semana.

Numa primeira parte que terminou sem golos, o Toulouse apressou-se a demonstrar que queria ir à procura do empate na eliminatória: os franceses pressionavam alto, não permitiam muito espaço ao Benfica e chegavam com alguma facilidade ao último terço adversário, ainda que sem grande critério na definição. A primeira oportunidade do jogo pertenceu mesmo à equipa da casa, com Sierro a rematar de fora de área para Trubin encaixar (7′).

Os encarnados tentavam controlar as ocorrências do jogo com bola, temporizando e implementando um ritmo mais calmo e calculista, mas não conseguiam esconder as dificuldades que tinham em travar o ímpeto do Toulouse pelos corredores — onde Bah e Morato, na direita e na esquerda, não só tinham muito trabalho na hora de defender como estavam praticamente impedidos de atacar para não deixar espaços vazios. A primeira aproximação do Benfica à baliza contrária surgiu já depois dos 20 minutos, com Rafa a rematar por cima depois de um bom lance de Neres na esquerda (23′), e os portugueses não pareciam muito confortáveis na partida.

Carles Martínez Novell teve de realizar duas substituições forçadas em poucos minutos, devido aos problemas físicos de Moussa Diarra e Mikkel Desler, e Aron Dønnum ficou muito perto de abrir o marcador nesse período com um cabeceamento que Trubin encaixou (27′). O Benfica encontrou alguma estabilidade a partir da meia-hora, passando mais tempo no meio-campo contrário e sem permitir grande espaço ao Toulouse, e foi nessa fase que Di María ia marcando ao desviar um cruzamento de Bah (33′).

António Silva ainda ameaçou o golo nos descontos, ao surgir na cara de Restes a permitir a defesa do guarda-redes (45+1′), mas a verdade é que Toulouse e Benfica foram mesmo empatados sem golos para o intervalo. Os encarnados mantinham-se em vantagem na eliminatória, mas era claro e notório que seriam necessárias uma coesão defensiva e um critério ofensivo mais apurados para carimbar o apuramento.

De forma pouco surpreendente, Roger Schmidt mexeu logo ao intervalo e tirou os dois elementos que estiveram em claro subrendimento na primeira parte: saíram Morato e Tengstedt, entraram Álvaro Carreras e Arthur Cabral. Sierro voltou a ter a primeira ocasião de maior perigo, com um remate que Trubin também encaixou (47′), e o Toulouse dominou por completo o quarto de hora inicial da segunda parte.

Spierings teve uma enorme ocasião para marcar ao cabecear ao lado na área quando estava completamente sozinho (55′), Nicolaisen atirou por cima também de cabeça (60′) e Dallinga, também com um cabeceamento, acertou em cheio no poste da baliza de Trubin (65′). Roger Schmidt procurou colocar alguma ordem na equipa com a entrada de Aursnes, que substituiu Neres, mas a verdade é que o Benfica parecia totalmente partido em dois blocos e limitado a defender o ímpeto francês.

Os encarnados recuperaram algum equilíbrio com a entrada do norueguês, mas o jogo partiu de forma progressiva e o Toulouse ia aproveitando para lançar o caos sempre que acelerava em transição ofensiva — com a ajuda do estádio, que causava um ambiente efervescente. Carles Martínez Novell voltou a mexer já dentro do último quarto de hora, lançando Babicka e Magri, e o Benfica assumia por completo um bloco mais baixo que só se desmontava para explorar uma eventual situação de contra-ataque.

Até ao fim, Trubin ainda foi a tempo de fazer mais uma enorme defesa a remate de Sierro (90+2′) e confirmou o estatuto de herói dos encarnados — principalmente em dias de sofrimento e resiliência, aguentando o forte sempre que não é possível respirar mais fundo. O Benfica empatou a zeros com o Toulouse em França e segue agora para os oitavos de final da Liga Europa, conhecendo já esta sexta-feira o próximo adversário.