O filme Dahomey, da realizadora franco-senegalesa Mati Diop, ganhou este sábado o Urso de Ouro da 74ª edição do Festival de Cinema de Berlim, que termina este domingo.

O júri, presidido pela atriz Lupita Nyong’o, decidiu atribuir a distinção máxima do festival ao documentário sobre os artefactos africanos roubados no século XIX pelo exército francês ao Reino de Dahomey e que Paris devolveu uma reduzida parte, 26.

“Como cineasta franco-senegalesa de origem africana, escolhi fazer parte daqueles que se recusam a esquecer, que se recusam a utilizar a amnésia como método”, declarou Mati Diop ao receber o prémio, na cerimónia, em Berlim, acrescentando que era “solidária com os senegaleses que lutam pela democracia e pela justiça”. O prémio “honra-me a mim, mas a toda a comunidade visível e invisível que o filme representa”, disse, declarando a sua “solidariedade com a Palestina”.

Dahomey conta a história do regresso ao Benim, em novembro de 2021, de 26 obras de arte saqueadas em 1892 pelas tropas coloniais francesas, uma iniciativa iniciada nos últimos cinco anos pelas antigas potências ocidentais, nomeadamente França, Alemanha e Bélgica.

Mati Diop, filha de um músico senegalês, Wasis Diop, e de mãe que trabalha também na área das artes, que nasceu e cresceu em Paris, já tinha conquistado o Grande Prémio em Cannes em 2019 por Atlantique, a mais alta distinção depois da Palma de Ouro.

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O Grande Prémio do Júri do festival, o segundo galardão em importância, foi para A Traveler’s Needs, do sul-coreano Hong Sangsoo, um filme que tem como protagonista a atriz francesa Isabelle Huppert, enquanto o Prémio do Júri foi atribuído a L’Empire, do cineasta francês Bruno Dumont, que rodou parte do filme em Portugal, motivo pelo qual a Rosa Filmes, de Joaquim Sapinho, é co-produtora da obra.

O Urso de Prata para a Melhor Realização foi para Pepe, do dominicano Nelson Carlos de los Santos Arias, dedicado às questões da identidade, processos migratórios e colonialismo.

Quanto à interpretação, o prémio principal da Berlinale foi para Sebastian Stan, pelo papel em A Different Man, de Aaron Schimberg, sobre um homem que recomeça a vida depois de ter o rosto desfigurado, e na secundária venceu a atriz Emily Watson, em Small Things Like These, de Tim Mielants, sobre os abusos sexuais na Igreja irlandesa.

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O prémio para o melhor argumento foi para o alemão Matthias Glasner, também realizador de Sterben, uma tragicomédia familiar em parte autobiográfica, e o melhor documentário recaiu em No other land, realizado por um coletivo palestiniano-israelita formado por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor, projetado na secção Panorama.

No programa “Encontros”, onde teve estreia mundial o filme Mãos no fogo, da realizadora portuguesa Margarida Gil, o júri distinguiu Dormir de olhos abertos, da realizadora alemã Nele Wohlatz, numa coprodução entre o Brasil, Taiwan, Argentina e Alemanha.