Líderes sindicais e de partidos à esquerda do PS estiveram presentes esta sexta-feira na manifestação na Caixa Geral de Depósitos (CGD), em dia de greve por melhores salários, defendendo que o banco deve servir de ‘farol’ ao setor e à economia.

Centenas de trabalhadores manifestam-se em frente à sede da Caixa Geral de Depósitos, no dia de greve com 70% de adesão, segundo o sindicato

Em declarações à Lusa, o secretário-geral da UGT, Mário Mourão, considerou uma “provocação” os aumentos propostos pela CGD de 3,25% (em média) e considerou que quando o setor financeiro tem lucros e produtividade e o maior banco apresenta proposta de 3% “alguma coisa está mal”.

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“Num momento em que se fala muito na valorização salarial, em que candidatos [na campanha eleitoral] dizem que é preciso associar a valorização salarial àquilo que é produtividade, o setor financeiro que tem o maior índice de produtividade da Europa e que se compara a dos seus congéneres europeus apresenta uma proposta de 3%. Então alguma coisa está mal aqui em Portugal“, afirmou.

Para o dirigente da central sindical UGT, há em Portugal “um problema cultural dos gestores” que recusam aumentos dignos mesmo a empresas lucrativas e produtivas.

Para o novo secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, a CGD “não pode ser vista como uma instituição financeira qualquer, tem que ser vista como um alicerce, como um farol para o sistema financeiro” pelo que não aceita que não vá ao encontro dos anseios dos trabalhadores.

“O Governo aqui tem culpa, tinha de tomar uma posição que exigisse maior respeito e atenção àquilo que é a posição do sindicato e dos trabalhadores”, considerou.

Presentes na manifestação de esta sexta-feira estiveram ainda o cabeça-de-lista do Livre, Rui Tavares, e candidatos do BE e da CDU.

Para Rui Tavares (Livre), a Caixa tem de ser “um exemplo, de mostrar para onde é que a economia do país pode ir quando se fala tanto de subir salários”, pois melhores salários na CGD têm um “efeito positivo de contaminação pelo exemplo no resto da economia”.

Defendeu Rui Tavares que o Governo não deve interferir na CGD, mas fomentar um diálogo de concertação social.

Pelo BE, Fabian Figueiredo defende que a CGD tem de “mudar a sua política salarial” e valorizar “quem constrói a CGD todos os dias” mas também mudar a sua política do crédito à habitação, baixando os juros (uma das propostas bloquistas na campanha eleitoral para as legislativas). Também Francisco Louçã marcou presença no protesto.

Pela CDU (coligação que integra o PCP), Duarte Alves considera que “é positivo que tenha lucros, mas esse não pode ser o único objetivo da Caixa”, devendo garantir “salários e condições laborais de qualidade”. O comunista defendeu ainda que a CGD tem de voltar a estar mais presente no território, invertendo o encerramento de balcões.

Os trabalhadores da CGD estão hoje em greve estimando o Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC), que convocou inicialmente a paralisação (a que se uniram posteriormente outros sindicatos) uma adesão de 80%. Já a CGD disse que a adesão é “pouco significativa” e que 92% das agências estão abertas.

A marcar o dia de greve, houve um protesto ao início da tarde frente à sede do banco, em Lisboa, que contou com centenas de trabalhadores munidos de bandeiras, cartazes, apitos e até bombos. Ao megafone foram muitas as palavras de ordem, como “trabalho digno é um direito, sem ele nada feito” e “o clima de terror não é motivador”.

Ao início da manhã, em comunicado, a CGD afirmou que a greve mostra a “politização” das estruturas sindicais, considerando que só acontece por se tratar do banco do Estado.

À Lusa, presidente do STEC (o primeiro sindicato a convocar a greve e que reivindica 6% de aumentos), Pedro Messias, considerou que essas declarações demonstram “o desnorte por parte da administração”.

“O que está aqui em causa é política salarial, política de melhoria de condições dos trabalhadores e condições de trabalho”, afirmou.

Criticando novamente a CGD por avançar unilateralmente com o aumento de 3,25% quando decorrem negociações, o STEC disse que irá, para já, aguardar novidades por parte da CGD antes de decidir novas formas de luta.

Questionado sobre se a CGD está disponível para ir ao encontro das reivindicações, o administrador José João Guilherme afirmou que há “um processo negocial aberto que não fechou” mas também acrescentou que a CGD foi até onde podia.

“Independentemente daquilo que for o resultado das negociações, já avançámos com aquilo até onde podíamos ir”, disse, recordando que o valor fica acima dos outros bancos com que a CGD concorre.

Questionado sobre se não seria importante a CGD fazer maiores aumentos para também sinalizar isso a outras empresas, respondeu que “não cabe à Caixa fazer política”.

“À Caixa cabe fazer uma coisa muito simples que é cumprir o seu papel e acima de tudo servir os seus clientes e contribuir dessa forma para melhorar a qualidade de vida das pessoas e permitir-lhes o acesso à habitação – que tem permitido – e continuar a crescer quota de mercado”, disse.