O primeiro-ministro moçambicano apontou esta segunda-feira a alimentação e o abrigo como as prioridades na assistência aos deslocados resultantes da nova vaga de ataques no sul de Cabo Delgado.

“Neste momento, a prioridade é acomodar as pessoas. É isso que está sendo feito. Estava a ser um exercício muito grande, numa assentada, receber as pessoas. Algumas pessoas estão em escolas, outras em tendas, mas temos de dar alguma coisa para se alimentarem“, declarou Adriano Maleiane, em declarações à comunicação social em Maputo, após uma reunião com atletas moçambicanos.

Em causa está uma nova vaga de ataques em direção ao sul de Cabo Delgado, incursões que, desde há algumas semanas, têm obrigado milhares de pessoas a abandonarem as suas aldeias, principalmente em Chiùre, em direção à sede daquele distrito e a Erati, em Nampula, província vizinha de Cabo Delgado.

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Dados oficiais indicam que a nova vaga de ataques em resultado das movimentações dos rebeldes obrigou 67.321 pessoas a fugirem das suas terras de origem, ataques justificados pelo executivo moçambicano como resultado da “movimentação de pequenos grupos de terroristas” que saíram dos seus quartéis em direção ao sul de Cabo Delgado, após um período de relativa estabilidade.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED, na sigla em inglês).

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O alto comissário da ONU para os Refugiados disse esta segunda-feira, em Maputo, que Moçambique precisa encontrar “as melhores soluções” para as pessoas obrigadas a fugir dos ataques armados em Cabo Delgado e das calamidades naturais, prometendo apoio.

“O mais importante ainda é como ajudar o Governo a encontrar soluções para as pessoas deslocadas, quer ajudando elas a regressarem às suas casas ou a transferi-las para outros lugares ou [a manterem-se] onde estão”, disse o alto comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, em declarações aos jornalistas, após ser recebido pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, em Maputo.

“Acordamos quanto aos passos subsequentes e à forma como as Nações Unidas podem melhor ajudar o Governo central e as autoridades locais a responderem a esta situação mediante a prestação de assistência humanitária, a curto prazo”, afirmou.

Grandi adiantou que está prevista a assistência jurídica aos deslocados e o apoio ao regresso às zonas de origem ou o reassentamento definitivo nas novas áreas.

Na mesma ocasião, Robert Piper, conselheiro especial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para Soluções às Pessoas Deslocadas Internamente, disse que Moçambique constitui “prioridade” na agenda daquela instituição das Nações Unidas, assinalando que o país enfrenta grandes necessidades em termos de apoio humanitário.

“Moçambique é um país prioritário para as Nações Unidas, este é um país onde nós vemos grandes necessidades, centenas de milhares de moçambicanos regressaram às suas casas, nos últimos meses, para retomar as suas vidas, a sua subsistência”, declarou Piper.

A organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) estimou hoje em mais de 80 mil o número de pessoas que fugiram este ano de ataques terroristas em Cabo Delgado, norte de Moçambique, pedindo assistência alimentar e apoio psicológico.

“Seis anos após o início do violento conflito no norte de Moçambique, as pessoas em Cabo Delgado ainda vivem com medo. Só em 2024, mais de 80 mil pessoas tiveram de fugir na sequência de ataques de grupos armados”, refere a MSF, em comunicado.

“As famílias deslocadas necessitam urgentemente de alimentos, abrigo, bens de primeira necessidade e cuidados de saúde e de saúde mental”, refere a organização.