Paul Gascoigne é uma das figuras mais curiosas da história recente do futebol. Avançado inglês, dono de um talento inquestionável e de uma rebeldia inebriante, foi o homem mais popular do Reino Unido no seu tempo e o homem mais criticado do Reino Unido sempre que saiu da linha. E 20 anos depois de ter terminado a carreira, com mais de 50 internacionalizações por Inglaterra e a ideia de que poderia ter sido muito mais do que foi, parece estar exatamente na mesma.

Nas primeiras imagens tornadas públicas de “Gazza vs. Paul”, um documentário sobre a vida de Paul Gascoigne, o antigo internacional inglês confessa que continua a lutar diariamente com o alcoolismo e o abuso de substâncias ilícitas e que atualmente vive em casa da agente, para estar mais controlado. “Eu era um bêbedo feliz e agora já não sou, sou um bêbedo triste. Não saio para beber, bebo em casa. Toda a gente conhece o Paul Gascoigne, mas ninguém conhece o Gazza. Incluindo eu, às vezes”, explica, garantindo que tudo começou quando se lesionou gravemente, em 1991, e tudo piorou quando terminou a carreira, em 2004.

Sempre se soube que a vida de Paul Gascoigne dava um filme. E agora parece que vai dar mesmo

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“Passei muitos anos tristes, como quando rompi os ligamentos do joelho. Perdi quatro anos de futebol. Teria chegado às 100 internacionalizações com Inglaterra. Tento não desanimar, porque o mundo já está bastante deprimido. E quando estou realmente deprimido é quando começo a beber para me animar. Acho que não desiludi nenhum treinador, nenhum jogador, nenhum adepto. Se desiludi alguém, foi só a mim mesmo”, acrescenta o antigo avançado, que ganhou enorme notoriedade no Campeonato do Mundo de 1990, onde Inglaterra chegou as meias-finais.

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Mais à frente, Gascoigne explica que substituiu o álcool pelo cafeína e que atualmente bebe seis cafés antes das 10h da manhã para conseguir manter-se sóbrio. “Tenho de me manter afastado dos pubs. Se bebo algo, bebo porque quero, não é por nenhum motivo em particular. Não culpo ninguém, culpei muita gente quando ainda bebia. Depois de participar nas primeiras reuniões dos Alcoólicos Anónimos, segui os 12 passos e disseram-me o que fazer, tive de pedir desculpa às pessoas que culpava. Continuo a lutar contra o alcoolismo”, indica, confirmando que no ano passado esteve internado durante “alguns meses” numa clínica de reabilitação.

#Gazzasback! Depois do álcool, das drogas e das polémicas, Paul Gascoigne volta em grande

“Se quero que um dia seja mau, tudo o que tenho de fazer é ir ao pub. Se quero que um dia seja bom, pego na cana e vou pescar. O problema não é a bebida, é o que acontece depois. Depois de olhar para o telemóvel e ver 30 mensagens ou chamadas não atendidas. É aí que percebo que estou em apuros. Mas tenho estado bem. O ano passado não foi brilhante, tenho muitas coisas aqui dentro, coisas que deveria partilhar. Mas tenho medo de as partilhar com outras pessoas”, ressalva o inglês de 56 anos.

Por fim, Paul Gascoigne revelou que tem doado muito dinheiro a instituições de solidariedade e que não pretende desistir da luta que trava há mais de duas décadas. “Estou orgulhoso do que tenho feito, doei quase um milhão de libras a 10 organizações de beneficência diferentes. Sem que ninguém soubesse. Nunca me rendi. Acho que o momento em que me render será quando estiver dentro de uma caixa de madeira. Tirando isso, vou continuar a lutar”, termina.