793kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Robert Downey Jr.: o papel principal do Melhor Ator Secundário

Os problemas legais e dependência chegaram a fazer dele um "caso perdido", mas anos de reconstrução levaram Robert Downey Jr. ao Homem de Ferro, a "Oppenheimer" e, com o Óscar, ao topo de Hollywood.

GettyImages-2066804257
i

“Quero agradecer à minha terrível infância e à Academia. E à minha mulher, que me trouxe de volta à vida”, disse o ator ao receber o Óscar

Variety via Getty Images

“Quero agradecer à minha terrível infância e à Academia. E à minha mulher, que me trouxe de volta à vida”, disse o ator ao receber o Óscar

Variety via Getty Images

Quando em agosto de 1999 foi condenado a três anos de pena de prisão por um tribunal da Califórnia, Robert Downey Jr. bateu no fundo. A sentença foi o culminar de um período de vários anos durante os quais o ator, um dos mais promissores da sua geração, se tornou mais conhecido pelas suas relações com drogas e vários problemas legais que ameaçaram arruinar-lhe a carreira.

Agora, quase 25 anos depois, Downey Jr. subiu ao palco do Dolby Theatre para receber o Óscar de Melhor Ator Secundário pelo desempenho como Lewis Strauss em Oppenheimer. “Quero agradecer à minha terrível infância e à Academia. E à minha mulher, que me trouxe de volta à vida”, disse no discurso de aceitação da estatueta, num momento que, qual narrativa romântica de Hollywood, fechou o ciclo da reviravolta de uma carreira que renasceu das cinzas nos últimos 20 anos, levando o ator de 58 anos de volta ao topo da indústria.

Para lá chegar, foi necessário um longo processo de reabilitação, pessoal e profissional, durante o qual Downey Jr. teve de recuperar a confiança de Hollywood, até se tornar num dos atores mais bem pagos da indústria à boleia do maior fábrica de franchises da era moderna: o Universo Marvel.

GettyImages-51043232

Problemas com drogas e vários crimes levaram o ator à prisão na década de 1990

Getty Images

Seria certamente um cenário difícil de acreditar em 1999. Na altura, o futuro Homem de Ferro – que poucos anos antes tinha sido nomeado para um Óscar por interpretar Charlie Chaplin – via-se a braços com anos de dependência de drogas e problemas com a lei que o levaram à prisão por crimes como invasão de propriedade, posse de drogas e armas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Não será exagero dizer que a instabilidade que seguia Downey Jr. para onde quer que fosse tornou-o num pária de uma indústria que nele chegou a depositar esperanças. Em 2001, foi despedido da série Ally McBeal (pela qual ganhou um Globo de Ouro) após nova detenção; uma produção teatral de Hamlet, encenada por Mel Gibson e onde seria protagonista, foi cancelada; Woody Allen não o pôde ter no elenco de Melinda e Melinda (2005) porque, caso o fizesse, a produção não teria como conseguir seguro.

Oppenheimer é o melhor filme e o grande vencedor dos Óscares

Era tempo de mudar e o próprio reconheceu-o. “Não podia continuar assim”, refletia em 2004 a Oprah Winfrey, questionado sobre os motivos que o levaram a inscrever-se numa clínica de reabilitação. “Estou desfeito, acabei de perder o meu emprego, a minha mulher [a modelo e cantora Deborah Falconer] deixou-me… se calhar não perdia nada em tentar. (…) Não é difícil ultrapassar estes problemas aparentemente tão graves. A parte difícil é decidir fazê-lo”, sustentou.

Após anos de tentativas, o ator conseguiu manter a sobriedade a partir de 2003. No mesmo ano, a produtora do amigo de longa data Mel Gibson convidou-o para protagonizar O Detetive Cantor, naquele que foi o seu primeiro papel em cinema em três anos. O filme, uma pequena produção à escala de Hollywood, recebeu críticas negativas e foi um flop de bilheteira; para Downey Jr., que recebeu elogios pela sua performance e pelo profissionalismo durante a rodagem, representou o primeiro passo na sua reintegração no meio.

Pouco depois, voltaria aos filmes de estúdio com Gothika (2004), da Warner Bros, onde conheceria aquela que, segundo o próprio, se revelaria a pessoa mais importante para a sua mudança de rumo: a sua mulher, Susan Levin. Inicialmente, a produtora de cinema (à época assistente de Joel Silver) resistiu às investidas: “ele era ator e eu tinha um trabalho a sério”, brincou numa entrevista. Eventualmente, aceitou o pedido de casamento de Downey Jr., mas com uma condição: o ator tinha de largar as dorgas por completo. “Graças a Deus que o fiz”, disse Downey Jr. numa entrevista conjunta do casal ao Hollywood Reporter. “Se ela soubesse até onde ia o meu comportamento, não estaríamos aqui hoje”.

Downey Jr. conheceu a segunda mulher, a produtora Susan Levin, durante a rodagem de "Gothika"

Getty Images

Além de par romântico, Levin passou também a parceira profissional do ator, responsável por ajudar a guiar a carreira e projetos do marido. Através dela e de Joel Silver, Downey Jr. conseguiu o papel que viria a marcar o ponto de viragem na sua trajetória: o de Harry Lockhart, na comédia noir Kiss Kiss Bang Bang. Ao lado de Val Kilmer, o filme ofereceu ao ator uma oportunidade de exibir o seu carisma e talento cómico, num dos papéis que melhores críticas lhe valeram até então.

Apesar de não ter sido um sucesso de bilheteira, o filme de Shane Black veio a assumir um estatuto de culto nos anos seguintes e, de acordo com o próprio Downey Jr., abriu-lhe as portas para o maior papel da carreira, ao chamar a atenção do realizador Jon Favreau. “Foi o meu cartão de visita para conseguir o Homem de Ferro”, disse.

Na altura, a Marvel Studios era uma produtora independente apostada num projeto de longo prazo que nunca tinha sido feito: um universo cinematográfico com dezenas de personagens, interligadas numa série de filmes ao longo de mais de uma década. Um pouco à imagem do próprio Downey Jr. a personagem era então um risco: longe da popularidade que veio a alcançar graças aos filmes, o Homem de Ferro de então era um herói de “segunda linha” no catálogo da Marvel, que anos antes tinha vendido os direitos de adaptação dos seus principais rostos (Homem-Aranha, Hulk, X-Men e Quarteto Fantástico) para ajudar a atravessar uma grave crise financeira que quase ditou o fecho da editora de BD.

“Senti-me como se fosse a banda de abertura em Woodstock” ironizou o ator, que eventualmente foi escolhido para dar início à saga, com um filme que se revelou um êxito-surpresa (faturou quase 600 milhões de dólares) e, ao lado de O Cavaleiro das Trevas (2008), precipitou uma verdadeira era dourada para as adaptações de super-heróis no cinema, que até muito recentemente dominaram as salas de cinema mundiais.

O sucesso estabeleceu Robert Downey Jr. como uma verdadeira atração de bilheteira e um dos mais bem-pagos atores de Hollywood. Em 2016, quando renovou contrato com o estúdio para entrar em Capitão América – Guerra Civil e nos mais recentes Vingadores, Downey Jr. faturava qualquer coisa como 50 a 75 milhões de dólares por filme, entre salários, prémios de assinatura e percentagens das receitas de bilheteira, num valor que espelha bem o quão valioso se tornara em Hollywood.

"Homem de Ferro" tornou Downey Jr. num dos mais bem pagos atores de Hollywood

Por outro lado, ao longo da década em que interpretou o super-herói, a carreira e imagem pública de Downey Jr. ficaram associadas de forma indelével aos filmes da Marvel, razão pela qual, à exceção de um par de adaptações de Sherlock Holmes para a Warner Bros., trabalhou quase em exclusividade na “bolha” dos super-heróis. Quando a personagem teve direito a uma morte heroica em Vingadores – Endgame, em 2019, Downey Jr. sentiu que era altura de levar a carreira para outro rumo. “Vir daquele lugar, do lugar de filme número um na bilheteira, e vir para este novo sítio onde estou contente e a fazer um produto de qualidade… estou feliz por recuperar a minha ligação a uma forma mais pura de fazer cinema”, disse ao New York Times.

O “primeiro ensaio” pós-Marvel, uma malograda adaptação do Doutor Dolittle lançada durante a pandemia, não lhe correu bem. Depois, Christopher Nolan bateu-lhe à porta. Em entrevistas, o realizador revelou que há muito queria trabalhar com o ator, a quem reconhecia “uma grande generosidade de espírito” – características que considerou essenciais para dar vida a Strauss no filme sobre a criação da bomba.

Durante a corrida aos Óscares, o ator agradeceu publicamente a Nolan pelo voto de confiança. “Estava num ponto da minha carreira em que precisava de alguém que tivesse uma visão sobre o que era possível para mim, que nem eu conseguisse ver”, disse. Nesta cerimónia dos Óscares, Downey Jr. confirmou esse potencial.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos