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"Mães": quatro mulheres e um bebé (a caminho) num baby shower musical

Ana Cloe, Tânia Alves e Gabriela Barros tentam sossegar uma grávida, Raquel Tillo, mas deixam-na por vezes ainda mais em pânico perante tudo o que está para mudar. Estreia-se no Teatro Villaret.

O espetáculo transporta-nos para um baby shower e durante cerca de 1h20 assistimos aos sonhos, às dúvidas e às listas infindáveis (de nomes, de tarefas e de tralhas necessárias) de Ana, interpretada por Raquel Tillo
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O espetáculo transporta-nos para um baby shower e durante cerca de 1h20 assistimos aos sonhos, às dúvidas e às listas infindáveis (de nomes, de tarefas e de tralhas necessárias) de Ana, interpretada por Raquel Tillo

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O espetáculo transporta-nos para um baby shower e durante cerca de 1h20 assistimos aos sonhos, às dúvidas e às listas infindáveis (de nomes, de tarefas e de tralhas necessárias) de Ana, interpretada por Raquel Tillo

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Vou ter um bebé”, entra a cantar Ana, agarrada à volumosa barriga e guiada por uma música de embalar. O momento bucólico depressa é interrompido por Teresa, Beatriz e Patrícia, que enumeram algumas coisas menos boas que chegarão com esse mesmo bebé.

Mães, o novo musical do Teatro Villaret, em Lisboa — para ver a partir desta quinta-feira, 14 de março — é uma balança equilibrada entre uma mulher, Ana, que está prestes a ter o primeiro filho e mais três amigas, todas elas já com (muitas) crianças e uma data de experiências que desmontam as teorias mais cor de rosa da maternidade.

O espetáculo transporta-nos para um baby shower e durante cerca de 1h20 assistimos aos sonhos, às dúvidas e às listas infindáveis (de nomes, de tarefas e de tralhas necessárias) de Ana, interpretada por Raquel Tillo. Tal como a sua personagem, a atriz ainda não é mãe, e também por isso consegue identificar-se mais facilmente com as questões que a envolvem.

“Por outro lado, gosto do facto de a minha personagem não ser uma coitadinha por estar grávida e de as outras três não serem tão cuidadosas com ela como se fosse um vidrinho. Tenho amigas grávidas, a minha irmã está grávida agora e faz a vida normal, ninguém a trata como se tivesse uma doença”, explica Raquel Tillo ao Observador, no final de um ensaio sem falhas, fruto de cinco semanas de trabalho intensivo.

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Em cena, enquanto Ana bebe um sumo de pacote, as restantes três amigas despacham garrafas de vinho, exatamente porque aqui ninguém está para fretes e cada uma diz e faz o que lhe apetece.

Patrícia (Tânia Alves), mãe de cinco crianças, partilha o estigma de ser vista como apenas “doméstica”, canta sobre uma espécie de síndrome que parece afetar todos os miúdos assim que aprendem a dizer a palavra “mãe” e a usam 57 mil vezes por dia para pedirem comida ou fazerem queixas dos irmãos, mas também se deixa levar por uma balada ternurenta, A Mãe do Gui, sobre as alegrias e as recompensas da maternidade.

Ana Cloe: "O que acho que este espetáculo faz é, mesmo com esta galhofa e este surrealismo, aproximar a experiência da realidade. Também há dores, não só do parto, mas de uma mãe que é mãe pela primeira vez"

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Mães, adaptado do musical da Broadway Motherhood, criado por Sue Fabisch, é na generalidade sarcástico e foca-se no lado mais difícil, e menos falado, da vida com crianças. Porém, nunca se torna cínico, conseguindo mostrar que as personagens podem queixar-se, podem sentir falta da vida anterior e do corpo anterior, e isso não quer dizer que gostem menos dos filhos ou que consigam imaginar a vida sem eles.

Teresa (Ana Cloe) foi mãe pela primeira vez “depois de um enrolanço no Sudoeste”, trocou o carro de solteira por “uma Sharan” e, três miúdos e 12 anos depois, está agora divorciada e a tentar manter-se à tona na nova realidade.

Os temas ficam no ouvido, as letras são adaptadas à realidade portuguesa e o texto tem humor. As referências que se seguem não são para um público com pudor ou para quem não saiba que um pós-parto pode implicar coisas como incontinência — “Não quero um pipi pingão”, canta Teresa — ou “mamas pinguças, para lá, para cá, tipo dois sacos de chá”, explicam em coro as três mães do grupo quando o tema é a amamentação.

“A Sandra Faria, que é a diretora da Força de Produção [responsável pelo espetáculo] deu-me a ler esta peça. Achei-a logo muito divertida, doida e, apesar de tratar uma temática onde geralmente encontramos poesia e beleza profunda, aqui também mostra de uma forma divertida e despudorada aquilo que é a maternidade”, diz o encenador Ricardo Neves-Neves.

Henrique Dias foi o responsável pela tradução e adaptação de texto, além das canções, em parceria com Miguel Viterbo. A direção musical é de Artur Guimarães. “Ele trabalha a música com sentido de humor, o que não é muito fácil, e com uma banda de três músicos consegue criar uma sonoridade como se tivéssemos mais instrumentos e mais músicos”, conta Ricardo Neves-Neves.

Em palco, ao fundo, estão três músicos, que vão apoiando as quatro vozes femininas. Tirando Tânia Alves, as outras três atrizes já tinham contracenado (em Avenida Q), o que facilitou a união do grupo de trabalho. “Tivemos uma sorte infinita por ser um projeto de muita partilha. O processo do Ricardo dá muito espaço a haver troca de ideias e de opiniões”, garante Gabriela Barros, a Beatriz desta história.

Raquel Tillo: "A minha personagem não é uma coitadinha por estar grávida e as outras três não são tão cuidadosas com ela como se fosse um vidrinho"

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ela é a personagem mais frenética, que se divide entra a carreira caótica de advogada, “a coisa [ou seja, a filha]”, que tem de ir buscar às aulas de trombone e uma obsessão doentia por cupões, que traduz num tema hilariante sobre tudo o que compra nos supermercados, incluindo acessórios para um cão que nem sequer tem.

Elas cantam, dançam, abraçam-se e atiram-se para o chão. Neste grupo não há julgamentos e, para Gabriela Barros, esse é um dos grandes trunfos do espetáculo.

“Se a peça é imprópria para grávidas? Não, tivesse eu tido estas malucas no meu baby shower! Descomplica muita coisa, acho que muitas [futuras mães] vão rever-se e até ter um aconchego. Enquanto estás grávida, mesmo que tenhas uma rede de apoio, sentes-te inevitavelmente sozinha. És tu que estás grávida, tu é que estás a sentir aquilo, as hormonas estão por todo o lado, as angústias, o desalento. Isto pode ser bom para as mulheres não se sentirem tão sozinhas, para perceberem: ‘Olha, isto não me acontece só a mim’.”

Além do contributo do elenco (por coincidência, Raquel Tillo é a única das quatro atrizes que ainda não tem filhos, o que é um espelho do que acontece na história), a adaptação foi enriquecida por outras mulheres que estão envolvidas no projeto. “Tivemos os pensamentos e os pontos de vista, por exemplo da Catarina Amaro [cenário], da Rafaela Mapril [figurinos] ou da Rita Spider [movimento]”, explica Ricardo Neves-Neves.

O texto original tem mais de dez anos mas, assim que o leu, o encenador percebeu que tinha de o colocar num palco português. “Vi vídeos de algumas músicas e encontrei logo uma ligação por ser vibrante e contagiante. Tive logo vontade de lidar com o texto diariamente na sala de ensaios.”

As quatro vozes, todas muito diferentes, tiveram de aprender a encaixar-se e, ao mesmo tempo, poderem sobressair sozinhas. O desafio é superado e a química denuncia uma cumplicidade que parece ir bem além das cinco semanas em que estão a trabalhar juntas.

As referências em palco não são para um público com pudor ou para quem não saiba que um pós-parto pode implicar coisas como incontinência

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Para Gabriela Barros, ela própria uma mãe recente (tem uma bebé de seis meses), Mães não podia ter surgido em melhor altura. “Há uns tempos apercebi-me de que as personagens que vou fazendo têm algo a ver com o momento da vida em que estou e este não podia ser mais na mouche. Identifico-me com muitas coisas, outras nem tanto, mas há milhões de tipos de mães. Acho que conseguimos mostrar um bocadinho disso aqui e abordar um tabu de que, felizmente, se fala cada vez mais: as alegrias, as tristezas, o encanto e a dor de ser mãe.”

Ana Cloe, cuja personagem canta sobre o baby blues (uma tristeza que afeta 80% das mulheres no pós-parto), concorda. “Na maternidade queixamo-nos de quando nos pintam a coisa demasiado cor de rosa porque depois chegamos ao momento e não é bem assim. Há muitas outras cores pelo meio, incluindo o azul, o tal blues do pós-parto. O que acho que este espetáculo faz é, mesmo com esta galhofa e este surrealismo, aproximar a experiência da realidade. Também há dores, não só do parto, mas de uma mãe que é mãe pela primeira vez e tem de descobrir este papel.”

Ainda assim, assegura Tânia Alves, “pretende mostrar o sítio positivo da gravidez e relativizar as questões da maternidade, tornando estas quatro amigas e este baby shower o caos da diversão”.

Perante as águas rebentadas de Ana e a dúvida de que carro usar para a ida relâmpago para o hospital, Patrícia responde a Teresa: “Vamos no meu, o teu tem estofos de pele!” Apanhar boleia destas quatro personagens a partir de 14 de março é igualmente uma aposta segura.

O musical está em cena de quinta-feira a sábado, às 21h00, e ao domingo, às 17h00. Os bilhetes custam 20€ e podem ser comprados online ou no Teatro Villaret.

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