Os manuais escolares ensinam atualmente de forma mais isenta a Guerra Colonial, mas falta “a versão dos povos colonizados e dos movimentos de libertação”, declarou à Lusa o professor jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa Miguel Monteiro.

“Nos manuais que conheço, tem havido rigor, apesar de ainda haver pouca visibilidade face às vozes dos povos de África, cujo tema tem sido muito abordado pela História Militar”, declarou à Lusa o ainda diretor do Mestrado em Ensino da História do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em parceria com a Faculdade de Letras de Lisboa (FLUL).

Segundo Miguel Monteiro, este tema tem sido mais aprofundado no ensino superior, nomeadamente no âmbito dos estudos sobre o Estado Novo, ou em colóquios. Todavia, nas escolas, têm surgido iniciativas para se falar mais sobre a Guerra Colonial, nomeadamente através de testemunhos que contactam diretamente com os estudantes e lhes dão uma perceção, em primeira mão, dos tempos da guerra.

Este foi um longo caminho que se percorreu ao longo destes 50 anos de liberdade, pois, antes, o tema “nem sequer era ensinado nas escolas, era quase tabu”, declarou.

“Muitos manuais escolares eram tendenciosos, politizados, com erros graves. A história contemporânea em si era pouco ensinada e tratada de forma tendenciosa”, declarou. No entanto, 50 anos depois do 25 de abril, já há “serenidade para falar dos acontecimentos passados com olhos compassivos e com menos emoção [à flor da pele]”.  “Já não temos tanta intolerância”, declarou.

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Os manuais escolares acompanharam esta evolução, explicou, e melhoraram muito o rigor científico “quando foi criado um sistema de certificação pedido pelas editoras às universidades, para melhorar os conteúdos históricos”, apesar de “ainda existirem erros científicos”.

Para o professor da FLUL, um dos principais desafios no ensino da História Colonial portuguesa é “fazer uma história isenta dos dois lados”. Para isso, “a cooperação [entre Portugal e as ex-colónias] tem de ser transparente, sem complexos”.

Referiu ainda que existem arquivos, como o do Exército, com “quilómetros de informação mal estudada”, ou dos países que foram colonizados, e, defendeu, analisá-los seria interessante para o ensino do tema, até porque “nos manuais atuais existe pouco a versão dos povos colonizados e dos movimentos de libertação”.