Houve um pouco de tudo. Os últimos treinos livres, a qualificação, a corrida sprint. O aparecimento nas ações de vários patrocinadores, o contacto com os milhares de adeptos no Autódromo Internacional do Algarve, os cumprimentos com figuras do desporto que iam passando pelas zonas da pista e das boxes como o campeão mundial de natação Diogo Ribeiro, o campeão mundial de endurance Filipe Albuquerque ou o treinador de futebol Rui Vitória. Miguel Oliveira voltou a ter mais um sábado em cheio em Portimão onde não falhou em nada mesmo tendo falhado aquilo que mais queria: pontuar na sprint. E aquele 12.º lugar, na sequência da 15.ª posição na qualificação para o Grande Prémio de Portugal, mais não foi do que um espelho para o atual momento prematuro da temporada que a Trackhouse Racing atravessa. “Não dá para mais”, assume.

Um salto de três lugares que não deu pontos: Miguel Oliveira é 12.º na sprint de Portimão, Viñales vence

“Fui competitivo, fiz uma uma boa volta mas não foi o suficiente para ficar num dos dois primeiros lugares que davam acesso à Q2. Do quinto ao 15.º estão todos separados por três décimas, portanto estamos bastante colados. Na corrida não tive um dos melhores arranques, estamos com um problema no dispositivo da frente durante todo o fim de semana. Não o consigo engatar e por isso tive de começar com a moto mais alta na dianteira. O arranque foi o possível e a corrida com dificuldades porque a moto está desequilibrada entre a traseira e a frente”, apontou o português, que voltou a ser o centro das atenções.

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Deu mesmo tudo o que tinha: Miguel Oliveira falha Q2 e parte de 15.º em Portimão

“Se esses problemas podem ser resolvidos para a corrida? Não sei se tem solução mas vamos tentar fazer o melhor no arranque. Espero que o facto de irmos todos correr com o pneu médio traseiro permita juntar mais o pelotão mas não consigo fazer um prognóstico. Espero poder disputar uma posição dentro do top 10, é esse o objetivo. Se tiver moto para isso e acontecer, ficarei contente. Felizmente tivemos uma Aprilia [de Maverick Viñales] a vencer a sprint, o que nos pode permitir comparar os dados, algo que estamos a fazer agora, e tentar surgir com um passo em frente que faça sentido”, acrescentou Miguel Oliveira.

O piloto de Almada já tinha vivido um pouco de tudo no Autódromo Internacional do Algarve, a começar pelo Grand Slam de qualificação, volta mais rápida e vitória a rodar sempre na frente que teve em 2020 ainda na Tech3: em 2021, ano de estreia pela KTM de fábrica, caiu e acabou na 16.ª posição; em 2022, ainda pela KTM, conseguiu ser competitivo e acabou no quinto lugar; no ano passado, a fazer o primeiro ano pela RNF Aprilia, falhou na última curva o pódio na sprint e acabou por ser abalroado por Marc Márquez na corrida de domingo quando tinha todas as condições para ficar no pódio ou mesmo voltar a ganhar. Agora, faltava-lhe sobretudo moto para mais. E esse era o principal problema para a corrida deste domingo.

“Portimão chega muito cedo no calendário, o Miguel ainda está a tentar adaptar-se. No Qatar teve uma long lap para cumprir, o que foi pena. Podia ter sido top 10. Tem ritmo, potencial para ser melhor, mas é cedo. Vamos tentar dar-lhe o que ele precisa. É rápido em todo o lado, temos de tentar dar-lhe as melhores ferramentas. Conhecimento da pista? Não é decisivo porque muitos dos outros pilotos têm vindo cá. Todos conhecem mas para o Miguel é a corrida de casa, tens sempre uma motivação extra e isso ajuda”, salientara David Brivio, novo diretor desportivo da Trackhouse Racing, ainda na sexta-feira. Este era o principal “problema” do português: passou de uma moto de 2022 (em 2023) para uma de 2024 com uma nova equipa e estrutura à volta sem o tempo necessário para fazer a melhor adaptação e beneficiar de alguns pontos positivos como o facto de ter dados partilhados com as duas motos de fábrica da Aprilia.

Uma long lap que se tornou infinita para o resto da corrida: Miguel Oliveira recupera, vai aos pontos mas não passa do 15.º lugar

Era nesse contexto que chegava a segunda corrida do ano, depois do 15.º lugar no Qatar também sem pontos na sprint. Lá na frente, a expetativa era muita. Porque Enea Bastianini tinha outro conhecimento para tentar defender a saída na frente, porque Maverick Viñales queria mostrar que a vitória na sprint não foi por acaso, porque Marc Márquez e Jorge Martín tiveram ritmo para lutar pelo triunfo, porque Pecco Bagnaia tem sido sempre mais forte nas corridas de domingo, porque as KTM foram dando boas indicações ao longo das várias sessões em Portimão. No entanto, e mais uma vez, era em Miguel Oliveira e na capacidade que teria para resolver esses problemas que condicionaram o arranque que entroncava o primeiro foco do dia. “Não percebo muito mas pelo que leio e ouço a máquina dele não é para ganhar. É um bocadinho como exigir a um treinador sem jogadores que ganhe campeonatos… As expectativas são altas mas pelo Miguel… Acho que não podemos estar à espera de milagres”, resumia o técnico José Mourinho, outro dos VIP em Portimão.

Desta vez, Jorge Martín foi o melhor a sair, assumindo a liderança com alguma vantagem em relação à dupla Maverick Viñales e Enea Bastianini com Pecco Bagnaia em quarto pressionado por Marc Márquez. Um pouco mais atrás, e essa era a principal notícia, rodava Miguel Oliveira, que aproveitou a primeira volta para subir ao 11.º posto atrás de Álex Rins. Mais atrás de todos, Franco Morbidelli e Álex Márquez caíram e viram logo de início a corrida comprometida. Raúl Fernández, companheiro de equipa do português na Trackhouse Racing, foi o primeiro a abandonar numa terceira volta onde Jack Miller cometeu um erro na travagem e desceu ao oitavo lugar, sendo ultrapassado pela outra KTM de Brad Binder e por Pedro Acosta.

Com Miguel Oliveira com uma posição estável atrás de Rins e à frente de Marco Bezzecchi, Maverick Viñales estava a reduzir distâncias para Jorge Martín na frente e Pedro Acosta era de novo um dos protagonistas da corrida, passando Brad Binder e depois Marc Márquez para chegar à oitava posição. Já Oliveira entrava pela primeira vez no top 10 depois da quebra de Rins, passando assim a rodar atrás de Fabio Quartararo com um segundo de atraso em relação ao antigo campeão mundial. Com Viñales a controlar à distância Martín, tendo Bastianini a tentar diminuir o fosso para a liderança, era na luta pelo quarto lugar que estava o principal foco, com Acosta a pressionar Bagnaia e Márquez a aproveitar para recuperar tempo nesse “comboio”.

Vários pilotos iam fazendo as suas melhores voltas em prova, entre os quais Miguel Oliveira, mas as posições não tinham qualquer alteração e os pneus começavam a dar alguns sinais de maior desgaste (sobretudo o da frente), sendo que Álex Rins afundava-se cada vez mais até sair mesmo dos pontos e Aleix Espargaró voltava a mostrar dificuldades em fazer melhor do que um 12.º posto tendo o companheiro de Aprilia a lutar pela vitória na frente. Assim, foi o mesmo o português a mexer no top 10, passando finalmente Fabio Quartararo mas com Jack Miller já longe no oitavo lugar. A cinco voltas do final, Acosta tanto pressionou que lá conseguiu passar Pecco Bagnaia, tendo mais de 2,5 segundos de atraso em relação a Bastianini num fosso que dificilmente promoveria alterações, sendo que também Miguel Oliveira foi protagonista mas pela negativa, com um erro a quatro voltas do final que deixou o português em 12.º. Mas havia mais para contar.

Primeiro, o despique entre Pecco Bagnaia e Marc Márquez fez com que ambos fossem ao chão a duas voltas do final, num incidente que será depois revisto pelos comissários. Depois, Maverick Viñales, na última volta, foi superado por Enea Bastianini, sentiu problemas com a moto e não conseguiu evitar depois a queda no prolongamento da curva 1. Um final de loucos que fez com que Pedro Acosta subisse ainda ao pódio com a terceira posição atrás de Martín e Bastianini e que Miguel Oliveira regressasse seis meses depois ao top 10, terminando no nono lugar atrás de Aleix Espargaró com essa garantia de que, sem aquele erro que custou várias posições, poderia ter terminado pelo menos na sexta posição no Grande Prémio de Portugal…