O contexto jogava a favor. Depois de um Grande Prémio de Portugal em que sentiu melhorias na moto mas sobretudo contou com um mar de gente a apoiar nas bancadas como apenas se recordava de um dia ver com Valentino Rossi, Miguel Oliveira voltava a jogar em “casa” em Austin, país da sua nova equipa da Trackhouse Racing que tentava aproveitar a passagem pelos EUA para mostrar a importância que pode ter no MotoGP para a exploração de um novo mercado. Mais: era aqui que o português guardava boas memórias do primeiro fim de semana a conseguir pontuar na sprint e na corrida, numa prova de regresso depois de ter estado ausente na Argentina pela lesão contraída a abrir no Algarve por uma manobra desnecessária de Marc Márquez. No entanto, o fim de semana teve um início igual aos anteriores. Ou seja, ficou aquém do esperado.

Ganhou três lugares, mas não chegou para os pontos: Miguel Oliveira é 11.º na corrida sprint do GP das Américas

Foi por apenas 108 milésimos de segundo que o Falcão falhou a entrada direta na Q2, que lhe valeria sempre uma presença nas quatro primeiras linhas da grelha. A primeira sessão de treinos livres não tinha sido muito prometedora (17.º registo) mas a parte vespertina mostrou outra versão da moto que nos minutos finais ia parecendo inevitável uma entrada no top 10 dos melhores tempos. No final, não aconteceu. A 11.ª posição acabou por ser quase um “castigo” para aqueles pormenores que fazem cada vez mais a diferença num MotoGP com uma competitividade sem paralelo, a passagem pela Q1 não valeu mais do que um 14.º lugar na partida e essa colocação na segunda metade condicionou tudo o resto na sprint, com o português a não ir além do 11.º posto que o deixou fora dos pontos e como o pior piloto da Aprilia este sábado nos EUA.

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Aqueles últimos 15 minutos a voar mereciam outro ninho na chegada: Miguel Oliveira termina treinos livres nos EUA no 11.º lugar

Esse era um “problema”. Além de nova vitória de Maverick Viñales na sprint à frente de Marc Márquez e Jorge Martín, Aleix Espargaró terminou no quinto lugar e também Raúl Fernández, companheiro de equipa na Trackhouse Racing, conseguiu pontuar com a nona posição. Uma corrida mais longa poderia beneficiar Miguel Oliveira pela capacidade de gerir o desgaste de pneus especificamente preparados para este circuito tendo em conta as três curvas à esquerda seguidas mas até a nível de desenvolvimento da moto haveria pontos por corrigir para uma presença mais sólida no top 10 da corrida depois do nono lugar no Algarve.

Um só erro tirou as asas (possíveis) ao Falcão: Miguel Oliveira chega a nono, desce a 12.º mas volta ao top 10 no Algarve

“A sensação é um bocadinho mista. A verdade é que devia ter andado muito mais rápido do que aquilo que andei. Conseguimos fazer uma alteração à moto na boa direção, depois ficámos sem tempo durante a sessão para ajustar bem algumas coisas. O primeiro e o quarto setores é onde estou a sofrer mais, já conseguimos identificar o porquê. Amanhã [Domingo], à partida, conseguiremos ser mais competitivos. Se me serve de algum consolo, não fiz a volta perfeita”, comentara à SportTV após a corrida sprint. “Agora o objetivo é terminar no top 10, um lugar realista. A gestão dos pneus normalmente joga a meu favor e acho que podemos fazer um bom resultado. O ritmo foi bom, recuperei tempo ao grupo que lutava do sétimo lugar até à minha posição e isso é um bom indicativo”, acrescentou entre os sinais positivos que tinham ficado.

Apesar dessa análise correta, a questão não se prendia tanto no recuperar de tempo para o comboio que dava acesso ao sétimo lugar mas sim na forma de entrar no mesmo logo a abrir no arranque, superando todas as dificuldades enfrentadas ao longo do fim de semana no primeiro setor para ganhar as posições que não tinha conseguido na qualificação. Aliás, o próprio Miguel Oliveira admitia que tinha escolhido uma trajetória que não era a melhor. Agora, também não conseguiu ser feliz: no meio de muita confusão e um toque entre as duas Aprilias, o português acabou por descer à 17.ª posição, com Pedro Acosta a assumir a liderança com Jorge Martín e Jack Miller logo atrás e Maverick Viñales a descer até ao nono lugar na primeira volta. O rookie espanhol liderava pela primeira vez uma prova do MotoGP, com Pecco Bagnaia a subir a terceiro.

O português voltava a ter de fazer uma corrida de trás para a frente, aproveitando a segunda volta para ir para a frente de Takaaki Nakagami e Raúl Fernández em zona de pontos (15.º) na roda de Brad Binder. Lá na frente, Pedro Acosta continuava a ser pressionado por Martín e Bagnaia, sendo que Jack Miller, em quinto, perdera uma asa lateral da moto após um ligeiro toque em Marc Márquez. A corrida tinha uma autêntica dança de cadeiras na frente, com Martín a passar para a frente, Márquez em segundo e Bagnaia a lutar com Pedro Acosta pelo terceiro lugar. Mais atrás, Miguel Oliveira passava Brad Binder e aproximava-se de Álex Rins, chegando a 13.º atrás de Marco Bezzecchi. O mínimo erro era “castigado” de imediato, com Marc Márquez a forçar ao máximo para ultrapassar Martín, a ter de travar e a baixar de imediato para quarto.

Todas as atenções estavam nos comboios da frente, em especial entre os quatro primeiros, mas o Falcão da Charneca da Caparica estava a voar, ganhando em pouco mais de uma volta os 0,6 segundos de atraso para Bezzecchi para saltar para 12.º, atrás do companheiro da Aprilia, Aleix Espargaró. Foi aí que surgiu mais um contratempo, com a descida a 16.º com algo no segundo setor numa altura em que Franco Morbidelli. Lá na frente, a “fava” tinha caído para Bagnaia, que descia para quinto atrás de Acosta, Martín, Márquez e agora Maverick Viñales, que se aproximava do pódio. A meio da corrida, Miguel Oliveira estava em 13.º, já nos pontos mas a tentar recuperar mais algumas posições até que aconteceu o grande momento da prova, com Marc Márquez a cometer um erro na liderança e a ficar de fora da prova depois da queda do irmão.

A “ordem natural” começava a ser reposta perante o que tinha acontecido no fim de semana, com Viñales a assumir a liderança da corrida com Pedro Acosta e Jorge Martín na perseguição. Já Miguel Oliveira rodava em 12.º, atrás do companheiro de equipa Raúl Fernández e com Jack Miller, a descer, a fechar o top 10. O australiano estava mesmo a andar para trás, com o português a subir a 11.º na luta por mais a cinco voltas do final enquanto Pedro Acosta tentava continuava a pressionar a liderança de Maverick Viñales enquanto Enea Bastianini tentava ainda chegar a Jorge Martín, subindo com sucesso ao terceiro lugar. A corrida iria mesmo terminar com essas posições e com um ponto importante: o piloto da Aprilia tornou-se o primeiro a ganhar corridas de MotoGP por três construtoras diferentes, subindo a terceiro do Mundial.