A poucos dias de ser conhecido o governo escolhido por Luís Montenegro, há uma questão que permanece sem resposta: a IL fica fora ou entra e fica com cargos? As palavras de Rui Rocha, em público e muitas vezes questionado por jornalistas, vão alimentando a incógnita, e o mesmo aconteceu este domingo, à entrada do Conselho Nacional, quando o líder liberal insistiu que o partido “assume as suas responsabilidades”, que está tudo em aberto e que “não falta muito para haver novidades”.

Lá dentro, na reunião à porta fechada que serviu para avaliar resultados e discutir os cenários de futuro, o tema foi levado a discussão e Rui Rocha não se atravessou por nenhuma decisão fechada — nem sequer pelo anúncio de que estavam ou não negociações em curso com o PSD. Ao que o Observador apurou, os conselheiros foram-se dividindo entre a ideia de que a presença no governo pode vir a ser um “abraço de urso” ou um “aceitar de responsabilidades”.

A maioria dos conselheiros que falou sobre o assunto assumiu não concordar que os liberais aceitem cargos no governo — sendo que nem IL nem PSD reconheceram, até então, a existência de qualquer convite —, mas ainda que muitos estejam reticentes sobre os benefícios que uma decisão desta dimensão teria para o partido, vários conselheiros ouvidos pelo Observador afirmam que ninguém foi irredutível ao ponto de assumir que a IL não deva sequer ouvir caso venha a surgir um convite.

Partindo do princípio que a nega à coligação teve custos para o partido, em particular a perda para o voto útil na Aliança Democrática, há a tese de que não se devem fechar portas, mas também que uma ida para o governo só deveria acontecer com a garantia de que a IL conseguiria um grande ganho de causa através da conquista de bandeiras liberais.

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As palavras precaução e responsabilidade ecoam nos relatos dos conselheiros liberais, ainda que no final de contas se alimente a narrativa que a IL há muito enfrenta: o receio de se poder transformar-se num CDS 2.0 se aceitar uma colagem ao PSD. Ora, se a nega à coligação encabeçada por Luís Montenegro acabou por permitir à IL dar força à ideia de que as bandeiras são prioritárias relativamente aos cargos, o “abraço de urso” que o PSD poderia apertar ao levar os liberais para o governo não deixa de ser motivo de preocupação. Por outro lado, houve também conselheiros que alertaram para a necessidade de não se perder a imagem de responsabilidade — sendo que inicialmente foi difícil à IL transmitir as justificações do ‘não’ à AD, mas também pelo caso dos Açores, onde acabou por ficar com o rótulo de responsável pela queda do governo regional.

Depois de um resultado que ficou aquém das expectativas — IL manteve a bancada com oito deputados e tinha ambicionado 12 — e que não permitiu AD e IL assegurarem uma maioria no Parlamento, Rui Rocha tem feito um esforço para mostrar que o partido é responsável — ainda que sem certezas sobre nada —, mas, mesmo numa sala cheia de conselheiros e com microfones desligados, não revelou se tem ou não mantido conversas com o PSD para essa integração no governo.

Iniciativa Liberal prefere ficar fora de um governo de direita e avaliar caso a caso