Existem momentos que marcam um antes e um depois na história de um universo. Na Fórmula 1, de forma mais recente, esse momento aconteceu em dezembro de 2021 e no Grande Prémio de Abu Dhabi, quando Max Verstappen ganhou a última corrida do ano de forma dramática e travou o oitavo título mundial de Lewis Hamilton para ele próprio conquistar o Campeonato do Mundo.

De lá para cá, a Mercedes perdeu a hegemonia para a Red Bull, Hamilton não voltou a ganhar uma corrida e Verstappen já é tricampeão mundial. O piloto britânico, porém, não esquece aquele dia em Abu Dhabi — e mantém a versão de que foi “roubado”. “Continua a doer quando vejo algum vídeo. Mas estou em paz com isso. Se fui roubado? Claro que sim, a história é bem conhecida”, disse Hamilton em entrevista à revista GQ, ressalvando que retirou coisas positivas de toda a situação.

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“Acho que foi um momento realmente bonito, porque o meu pai estava comigo. É isso que levo. A nossa vida tem sido uma montanha-russa, mas temos estado juntos nos bons e nos maus momentos. E ele estava lá no dia mais doloroso. Ensinou-me a levantar-me sempre, a ter a cabeça erguida. E claro que dei os parabéns ao Max, sem saber o impacto que teria, mas estando realmente consciente de que estava ali um ‘mini eu’ à espreita. Foi um momento definidor da minha vida, acho mesmo que sim e senti assim. Estava muito consciente daquilo: naqueles 50 metros podia cair ao chão e dar-me por vencido ou levantar-me”, acrescenta o ainda piloto da Mercedes, que em 2025 vai mudar-se para a Ferrari.

Lewis Hamilton garante que o sonho de correr pela scuderia italiana esteve sempre presente “de forma inconsciente” e “foi sempre uma opção”. “Ainda assim, por agora ainda estou concentrado em levar a Mercedes à vitória este ano. Este é provavelmente o momento mais emocionante da minha vida. Nunca comecei um ano entusiasmado pelo seguinte. Não o interpreto como uma fuga. O meu compromisso com a Mercedes é exatamente o mesmo que nos anos anteriores, não posso deixar que a minha mente se distraia demasiado com o que vem depois. Não posso concentrar-me nisso até ao próximo ano”, indica.

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Na mesma entrevista, Lewis Hamilton recorda o início da própria vida, criado num bairro social nos arredores de Londres, e lembra que enquanto negro sempre teve de batalhar mais para triunfar na Fórmula 1. “Era o único miúdo negro do circuito e tinha dificuldades na escola, a minha grande motivação foi sempre que me aceitassem. Se ganhasse as corridas, aceitavam-me naquele mundo”, explica o piloto britânico, detalhando a forma como se dedicou à Fórmula 1 e as adaptações que teve de fazer.

“Quando cheguei à Fórmula 1, a rotina era levantar-me, treinar, correr e voltar a correr. Não havia espaço para mais nada. Mas percebi que trabalhar o tempo todo não traz felicidade e que precisas de encontrar um equilíbrio. Descobri que era bastante infeliz, na realidade. Faltavam-me muitas coisas, senti que tinha de haver mais alguma coisa. E era uma loucura, porque pensava: ‘Estou na Fórmula 1, alcancei o meu sonho, estou onde sempre quis estar, no lugar mais alto e a lutar pelo Campeonato. Mas não desfrutava”, terminou.

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