A Eurojust auxiliou as autoridades europeias, incluindo Portugal, a combater uma fraude de cerca de 645 milhões de euros que envolvia investimentos falsos em plantas de canábis para uso medicinal, informou aquela Agência Judiciária Penal Europeia.

Em comunicado divulgado esta sexta-feira, a Eurojust adianta que foram desmanteladas duas organizações criminosas ligadas entre si que publicitaram o investimento fraudulento e branquearam os lucros, calculados em 645 milhões de euros, tendo na operação antifraude sido detidos nove pessoas.

A Eurojust revela ter apoiado as autoridades da Alemanha, Espanha e França na criação de uma equipa de investigação conjunta sobre a fraude.

Só na Alemanha, França e Espanha, mais de 4.500 vítimas apresentaram queixas formais contra os autores da fraude, que criaram um programa de financiamento conjunto para angariar um mínimo de 50 euros por investidor para o desenvolvimento de plantas medicinais de canábis.

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“Na realidade, nunca foram compradas quaisquer plantas de canábis, embora os organizadores do esquema fingissem trabalhar com empresas legítimas e licenciadas que as cultivariam. A fraude decorreu, pelo menos, de janeiro de 2020 a julho de 2022”, indica a Eurojust.

Todo o esquema financeiro fraudulento funcionava em pirâmide – a chamada “fraude Ponzi”- e prometia rendimentos extremamente elevados do investimento. As investigações na Alemanha e em Espanha, seguidas mais tarde por investigações próprias desses países da Europa, revelaram que os investidores só tinham sido pagos parcialmente.

A maior parte do dinheiro investido foi utilizado para pagar aos associados/vítimas, manter o esquema a funcionar e expandir a fraude através de extensas campanhas articuladas. Para este efeito e para branquear as receitas, foi utilizada uma rede de empresas internacionais. O esquema em si terá sido gerido por uma rede criminosa russa, com um grupo criminoso sediado na Alemanha.

As vítimas na Alemanha e em Espanha alegam ter perdido pelo menos 51,5 milhões de euros, mas o investimento total está estimado em cerca de 645 milhões de euros.

No total, cerca de 550 mil participantes em todo o mundo foram registados como investidores em linha, a maioria dos quais cidadãos europeus. Cerca de 186 mil participantes transferiram fundos, quer através de criptomoedas, quer através de transferências bancárias.

Desde 2022, a Eurojust tem apoiado amplamente as autoridades nacionais, incluindo a assistência às autoridades alemãs, espanholas e francesas na criação e financiamento da EIC (Empra Internacional de Certificação).

Paralelamente, a pedido das autoridades alemãs e espanholas, nos últimos dias foram também realizadas ações operacionais contra as redes criminosas na Estónia, Letónia, Itália, Malta, Polónia, Portugal, Reino Unido e República Dominicana.

As autoridades francesas deram, por seu lado, um contributo decisivo para a análise dos fluxos de criptomoedas durante as investigações e participaram em buscas na Alemanha e em Espanha na operação efetuada.

A Eurojust salienta ter apoiado esta investigação transfronteiriça em grande escala desde o início, assumindo a liderança na coordenação operacional e fornecendo apoio analítico personalizado.

“Além disso, a Europol partilhou os resultados das investigações financeiras, bem como outras informações com os países envolvidos. No dia da ação, a Europol enviou agentes com gabinetes móveis para vários locais em todo o mundo”, precisa a Eurojust, indicando que nos dias da operação mais de 30 locais foram também alvo de buscas e vários milhões de euros em ativos criptográficos e contas bancárias foram congelados.

Revelou ainda terem sido apreendidos imóveis, veículos de luxo, obras de arte, dinheiro e vários artigos de luxo, bem como um grande número de dispositivos eletrónicos e documentos.