Reformados da Ajuda, em Lisboa, realizam no sábado um cordão humano para exigir a construção na freguesia de um equipamento com lar e creche, previsto para o hospital militar de Belém, mas onde o Governo decidiu alojar migrantes.

“O que nós pretendemos é que o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) deixe de brincar com a população da freguesia da Ajuda e que o próprio Governo assuma que é necessário disponibilizar os espaços que temos aqui na freguesia e junto à freguesia (…) para fazer equipamentos sociais e para fazer habitação de renda acessível, visto que nem em termos de equipamentos sociais nós temos seja aquilo que for para que os idosos e os menos idosos [tenham] uma vida digna, nem em termos de habitação”, disse à Lusa Vítor Pereira, presidente da Comissão Unitária de reformados e Idosos da Freguesia da Ajuda (CURIFA).

O responsável destacou que a população da Ajuda, a autarquia e os autarcas da freguesia têm lutado para que seja criado no hospital militar de Belém, que fica situado na Boa Hora, um equipamento intergeracional com lar e equipas de apoio aos idosos residentes na freguesia, creches e outros equipamentos, com “o compromisso da Câmara, do executivo anterior e também deste, de que iam trabalhar para que tal aconteça”.

“Pelos vistos, o senhor presidente da Câmara, neste momento, o que está a fazer é a protelar o processo, a empurrar isto para o Ministério da Defesa, dizendo que o equipamento é da responsabilidade do Ministério da Defesa e que, na freguesia da Ajuda, não há espaço para já para fazer os equipamentos que a população reivindica”, sublinhou.

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Por isso, a CURIFA decidiu agendar para sábado, às 10h00, no Largo da Boa Hora, uma concentração e um cordão humano.

Vítor Pereira alertou que na freguesia “os terrenos que eram do Estado se transformaram em condomínios fechados” e recusa que o quartel de Lanceiros 2 e o hospital militar de Belém, dois edifícios do Estado junto à freguesia, “se transformem em mais condomínios fechados”, defendendo que devem ter como prioridade “a criação de equipamentos sociais para a população da Ajuda”.

Vamos dizer ao senhor presidente da CML e aos ministérios da Defesa, da Segurança Social e da Saúde que basta. Ou se comprometem connosco, preto no branco, que assumem a criação e a construção de equipamentos sociais para a freguesia e habitação de renda acessível ou então a luta da população vai extremar-se”, acrescentou.

A Ajuda é uma das freguesias de Lisboa com população mais envelhecida, sem as necessárias infraestruturas de apoio.

“Temos neste momento idosos que, para arranjarem um lar com um preço que podem pagar, estão a ser deslocados para centenas de quilómetros da freguesia. Temos alguns que estão, por exemplo, em Oliveira do Hospital. E isso é realmente desumano”, sublinhou.

Em 4 de junho, fonte oficial do gabinete do ministro da Presidência, numa resposta a questões colocadas pela Lusa, revelou que o centro de acolhimento temporário de imigrantes ficará localizado no edifício do antigo hospital militar de Belém, na Ajuda, tendo o local sido escolhido “por consensualização” entre o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa e gerido por esta.

Centro de acolhimento temporário de imigrantes será no antigo Hospital Militar de Belém

Em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), ressalvou que a escolha do local para a instalação do centro para migrantes cabe ao Governo.

Por seu lado, o presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Marques (PS), recordou à Lusa “o compromisso” do município de construir um centro intergeracional no antigo hospital militar de Belém, “com residência para idosos, com creches”.

Jorge Marques acusou a autarquia lisboeta de “traição” e, sem pôr “em causa a necessidade de se encontrar uma solução” para o “problema humanitário” das pessoas migrantes sem-abrigo, opõe-se a esta solução.