A Espanha teve um grande resultado que gerou dúvida em relação ao desequilíbrio de forças pela questão da eficácia, a Itália começou a perder com a Albânia, a Bélgica perdeu mesmo com a Eslováquia, a Inglaterra não foi fabulosa com a Sérvia, a França teve de sofrer para bater a Áustria, Portugal só ganhou à Rep. Checa nos descontos. Contas feitas, e olhando de uma forma transversal para todos os comentários que se foram multiplicando desde o arranque do Campeonato da Europa, a Alemanha era aquela seleção entre as possíveis favoritas que melhor se tinha apresentado não só pelo resultado final mas também pela exibição no seu jogo de estreia. Questão? A primeira parte foi um autêntico “rolo compressor” mas o segundo tempo, com mais um em campo, não deu sequer luta para aferir sobre o resto da prometida valia. O teste continuava com a Hungria, com Julian Nagelsmann a travar a enorme euforia criada depois da goleada da última sexta-feira.

Dia 6 do Europeu. Escócia e Suíça empatam em Colónia e deixam Grupo A por decidir (1-1)

“Com o resultado do primeiro jogo, a Hungria está sob um pouco mais de pressão do que nós. Eles terão de jogar de forma mais ofensiva do que contra a Suíça. Existe uma ideia clara de como jogam, eles têm um padrão claro no ataque. Isso dá-nos muitas mais oportunidades se defendermos bem mas há riscos se defendermos de forma demasiado frouxa”, comentou o técnico mais novo do Europeu que comanda aquela que é a equipa mais “velha” da competição. “É uma equipa muito difícil de defrontar, que tenta naturalmente ser agressiva nos desarmes. Já passámos por isso em outros jogos. Não podemos subestimar a Hungria em circunstância alguma e vamos tentar manter este ritmo de vitórias”, acrescentou Manuel Neuer, que foi pedindo mais uma vez para não se criar qualquer tipo de “caso” por ter Ter Stegen como (eterno) suplente.

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Bastaram poucos minutos para se perceber que a imagem que tinha ficado na primeira ronda não era na totalidade fiável. Por um lado, e mesmo com um conjunto que é claro candidato ao título, a Alemanha tem outro tipo de dificuldades quando enfrenta equipas que sabem fechar o corredor central, vão tirando espaços entrelinhas e anulam as diagonais e desmarcações de rutura dos médios mais ofensivos. Por outro, correndo o risco de poder ser eliminado logo na primeira fase, a Hungria deu uma imagem completamente diferente do encontro inaugural, com essa particularidade de deixar às outras equipas um modelo de como desmontar as zonas de pressão germânicas para chegar com perigo ao último terço. Imperou a máxima do “11 contra 11 e no final ganha a Alemanha”. E imperou porque, entre tantas coisas novas, este ainda é um jogo também para “velhos”, com Neuer, Gündogan e Toni Kroos a serem fundamentais para o triunfo por 2-0.

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O jogo começou a todo o gás e com Sallai, contra todos aqueles elogios e rigor e organização dos germânicos, a aparecer na cara de Manuel Neuer com menos de 30 segundos de jogo para a primeira de várias defesas de grande nível do guarda-redes do Bayern. Não só a Mannschaft estava longe daquela dinâmica arrasadora do encontro de estreia como a Hungria preparara bem a lição, com uma autêntica metamorfose em relação à partida com a Suíça com o denominador comum de criar perigo sempre que passava a zona de pressão alta dos alemães ou tinha uma bola parada, como aconteceu num livre direto de Szoboszlai (26′) e num remate do jogador do Liverpool que bateu em Tah quando ia para a baliza (28′). Pelo meio, e quando tocava a bola na área, a Alemanha fazia a diferença. Kai Havertz ficou pelas intenções ao permitir a defesa a Gulásci (11′) mas Musiala não perdoou, num lance confuso em que os húngaros ficaram a pedir falta de Gündogan (22′).

Apesar de ter muito mais posse, a Alemanha foi tudo menos um “rolo compressor” como na estreia durante os 45 minutos iniciais, vendo mesmo a Hungria ter um golo anulado na sequência de um livre lateral com nova grande defesa de Neuer antes da recarga de Sallai invalidada por fora de jogo (45+1′). E a segunda parte começou da mesma forma, até com maior domínio territorial dos germânicos mas a primeira oportunidade mais flagrante a pertencer aos magiares, com Varga a desviar de cabeça a rasar a trave (60′). Esse seria uma espécie de grito final da Hungria, que não mais conseguiu manter esse chip de sair rápido em transições e pior ficou quando Gündogan, após assistência de Mittelstädt, fez o 2-0 com um desvio na passada na área (67′). Era hora de entrar no modo gestão, com Nagelsmann a dar oportunidade a alguns jogadores para terem os primeiros minutos na competição como Führich ou Deniz Undav tendo a Hungria “rendida”.

A pérola

  • Tinha sido talvez o nome menos falado no final do primeiro encontro entre tanta qualidade mostrada e espalhada por Musiala, Wirtz e Havertz, voltou a mostrar o porquê de Nagelsmann não abdicar dele aos 33 anos: Ilkay Gündogan foi de novo titular e capitão, fez a assistência para o primeiro golo de Musiala (muito contestado pelos húngaros por uma falta no início do lance), marcou o 2-0 que encerrou de vez com a questão. Kroos voltou a ser o pêndulo de todas as ações com bola da Mannschaft mas foi o agora médio do Barcelona que conseguiu os desequilíbrios no último terço que fizeram a diferença.

O joker

  • Foi o jogador chamado pela Alemanha à conferência antes do jogo, foi o jogador que, olhando para as intervenções que teve e os minutos em que as mesmas aconteceram (sem contar com o “disparate” da ordem em cima do minuto 90, falhando a saída a um cruzamento e dando uma última chance não aproveitada pela Hungria de reduzir a desvantagem), mais se distinguiu nos momentos em que era ncessário. Aos 38 anos, e apesar de muita contestação até interna sobre a titularidade à frente de Ter Stegen, Manuel Neuer continua dono e senhor do lugar com exibições que justificam essa posição.

A sentença

  • Com esta vitória, a Alemanha é a primeira equipa apurada para os oitavos do Europeu, podendo seguir para a fase seguinte na primeira ou na segunda posição (em terceiro era preciso um cataclismo na ronda final a par de mais conjugações cósmicas) mediante o resultado frente à Suíça. A Hungria, não estando ainda matematicamente eliminada, terá de ganhar a Escócia de preferência por uma margem mais “confortável” para poder ainda passar em terceiro… se os britânicos não baralharem mais as contas.

A mentira

  • O resultado (e as próprias estatísticas) ao intervalo. Quem não tenha visto o jogo podia pensar que a Alemanha voltou a ter um passeio no parque sem grande oposição mas a Hungria, mesmo tendo apenas 30% de posse de bola, rematou quase tanto como a Mannschaft e beneficiou das oportunidades mais claras de golo. Manuel Neuer fez a diferença, as defesas fizeram a diferença, a eficácia fez toda a diferença. Até em termos anímicos o 2-0 acabou por sentenciar de vez a partida mas os magiares mereciam mais pelos 45 minutos iniciais de “resposta” a exibição aquém das expetativas com a Suíça.