O presidente da Câmara de Lisboa disse esta quarta-feira que o centro de acolhimento para imigrantes no hospital militar de Belém será temporário e compatível com o apoio a idosos no futuro centro intergeracional, localizado no convento.

“Uma coisa não tem a ver com a outra, o edifício que estamos a falar não tem a ver com o edifício do centro intergeracional. Portanto, a questão ou não de o fazer, não tem a ver com este centro temporário [para imigrantes], e este centro temporário é uma opção que o Governo nos pôs à frente”, afirmou Carlos Moedas (PSD).

O autarca falava na reunião pública descentralizada da Câmara Municipal de Lisboa, no Museu da Carris, dedicada às freguesias de Alcântara, Ajuda e Belém, após ser confrontado por munícipes acerca da anunciada intenção do Governo e da autarquia de instalar um centro de acolhimento para imigrantes no hospital militar de Belém, na freguesia da Ajuda.

“Uma grande parte da população da Ajuda é idosa e não existem entidades que consigam satisfazer as necessidades destes idosos com lares”, apontou António Cordeiro, da Academia de Jovens do Casalinho da Ajuda, considerando que, se o centro de imigrantes for instalado no hospital militar, em vez de um centro intergeracional e creche, “as famílias vão ser obrigadas a colocar os seus queridos idosos em lares fora da cidade”.

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Aludindo aos elevados custos dos equipamentos para idosos e de creches, o responsável associativo apelou ao presidente da câmara que “reverta a sua decisão de colocar o centro de refugiados no hospital militar e volte à primeira forma que seria a construção do centro intergeracional”.

“O centro intergeracional e o hospital de recobro ou de cuidados continuados são essenciais para a comunidade”, reforçou Tânia Ferreira, da Comissão de Moradores da Ajuda, acrescentando que “são dois projetos extremamente importantes para a comunidade” local e recusando a “retórica de que” um não impossibilita a instalação do outro.

A moradora recordou que o candidato Carlos Moedas incluiu no seu programa eleitoral a construção de quatro centros intergeracionais, nomeadamente na Ajuda, mas a um ano do fim do mandato não se vê “essa promessa ser cumprida”.

Moedas explicou que “há uma situação muito difícil na cidade” com os imigrantes sem-abrigo que aguardam por legalização e que é preciso ser solidário com essa situação, como “com os afegãos que estiveram exatamente nesse edifício” do hospital militar de Belém, propriedade do Ministério da Defesa.

A instalação do centro para imigrantes “temporariamente” naquele edifício permitirá também criar condições para a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e outros serviços como a Cruz Vermelha e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, permitindo “resolver um problema” grave que afeta zonas da cidade, como os Anjos ou Arroios.

O vice-presidente, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), reforçou que o projeto agregava dois edifícios, com a componente intergeracional no convento da Boa Hora e no hospital militar a de unidade de cuidados continuados.

O autarca salientou que há centros intergeracionais que não têm unidades de cuidados continuados e que o projeto está orçado em 20 milhões de euros, mas que após a Santa Casa da Misericórdia ter dito que não financiava o equipamento e o Exército ter recusado transferir o imóvel é preciso redimensionar o projeto ou criar condições financeiras para o concretizar.

Os vereadores João Ferreira (PCP), Ricardo Moreira (BE), Inês Drummond (PS) e Paula Marques (Cidadãos por Lisboa) apontaram a necessidade da população da Ajuda e Belém de equipamentos como o centro intergeracional, e da cidade também resolver os problemas dos imigrantes sem-abrigo.

Autarcas da oposição criticaram também a maioria da coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/PPM/MPT/Aliança) de se queixar de falta de meios financeiros para projetos importantes quando o município opta por devolver parte da receita fiscal a que teria direito para benefício apenas de algumas famílias com mais recursos.

O presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Marques (PS), lamentou que o executivo camarário não tenha informado a autarquia local e a comunidade da sua intenção e apelou ao envolvimento da freguesia na decisão sobre o futuro uso do hospital militar de Belém.